llammer 17/03/2024
Por ter sido um dos meus musicais preferidos da adolescência, e eu só ter lido anteriormente uma versão simplificada para um curso de inglês, demorei para me conectar com a história a partir do ponto de vista que é apresentado.
Em compensação, depois que me acostumei, mergulhei de cabeça. A apresentação já abre com a máxima de que toda boa história conta, na verdade, ao menos duas histórias - e é exatamente essa a sensação de ver essa Paris na véspera da belle époque a partir dos porões da Ópera, a sua conexão macabra com a Comuna de Paris, o contraste dos exuberantes espetáculos e espectadores com maquinários e lanterninhas marginalizados. Me encantei com o passado cosmopolita do Fantasma, a expertise na arte do ilusionismo e a maneira como o maniqueísmo é interrompido em momentos de extrema vulnerabilidade - essa característica marcante do gótico, inclusive, me fez lembrar da criatura de Frankenstein ou até de Heathcliffe em diversos trechos.
Amei o narrador histórico, assinatura da formação jornalística do autor, o papel de personagens que desconhecia, como o Persa, por exemplo, que foi substituído na peça/filme de 2004 pela Madame Giry (difícil de reclamar muito, por motivos de mais Miranda Richardson na tela, mas igual).
Sobre isso, o livro mostra o ponto de vista de quase todos os personagens masculinos, mas quase de nenhuma mulher. Pontos para o filme/peça nesse sentido.
Enfim, recomendo muito para quem curte horror, é muito, muito sinistro e escrito de uma maneira inteligentíssima.