asisoynara 18/11/2023
ARREBATADOR!!!
"(...) Ele só pedia para ser alguém, como todo mundo! Mas era feio demais! E teve de esconder o seu gênio ou aplicar golpes com ele, quando, com um rosto mais comum, teria sido um dos mais nobres da raça humana! (...) Decididamente, há que se ter pena do fantasma da ópera!"
Ah, meus amigos... Le Fantôme de l'Opéra. Como resumir esse livro a uma palavra sem ser PERFEIÇÃO?! Quando iniciei a leitura dele confesso que já tinha grandes expectativas por já conhecer o musical e considerá-lo estupendo, mas devo admitir que esse livro superou as minhas expectativas e me entregou uma experiência tão imersiva que o enredo e seus personagens chegaram a me visitar em sonho.
O Fantasma da Ópera conta a história trágica de um triângulo amoroso passado nos bastidores de uma ópera parisiense. O protagonista, uma entidade mascarada que assombra a local, desenvolve uma paixão obsessiva por Christine, a jovem soprano que ficou órfã e foi acolhida pela trupe. Esse romance gótico do início do século passado traz personagens e elementos arrebatadores em sua narrativa, onde nada, absolutamente nada é cansativo/enfadonho de se ler. Criamos uma conexão imediata com a história de cada personagem e nos pegamos com sentimentos e emoções mistos ao longo dessa jornada por cada um deles. Devo admitir: senti pena do fantasma! Inclusive, o autor é tão talentoso que consegue fazer uma figura como a do fantasma ser capaz de inspirar terror e piedade ao mesmo tempo.
O triângulo amoroso é instigante e atrativo, o casal principal (que eu me rendi a ele e shippei) não é construído de forma rasa e apressada - pelo contrário, existe uma ligação entre eles desde a infância e a profundidade do sentimento e das declarações que compartilham mexeram com o meu coração de leitora apaixonada pelas nuances do Romantismo Literário. Os ambientes descritos no livro também são fascinantes! O mundo dos Porões do Teatro são incrivelmente brilhantes. O autor criou ali um reinado de fantasia, com monstros, personagens obscuros que perambulam. É genial!
Entre todos os capítulos, todos muito bem elaborados e atrativos, destaco o que mais me marcou, que foi o capítulo 12: "A lira de Apolo". Nesse capítulo, que é essencialmente a alma do livro, é quando somos apresentados ao fantasma em toda a sua essência. E que personagem fascinante! E como é igualmente fascinante a relação dele com Christine, que é quando se descortina a cena do telhado - a inebriante cena em que Christine se declara para Raoul, sem saber que lá, escondido, enchendo-se de fúria e vingança, estava o fantasma da ópera.
E o que dizer sobre o personagem mais interessante e mais bem trabalhado de toda essa narrativa? O fantasma, cujo nome é Erik, tem uma história complexa de abandono social, deformação física e distúrbios psicológicos. Não obstante, ele consegue ter uma voz poderosíssima, uma criatividade cigana invejável com manipulações e ilusionismo, além de capacidades fantásticas como ventriloquismo. É um ser perturbado que traz em sua bagagem emocional uma história de abandono e violência que o levam a lutar por amor e aceitação que lhe foram negados devido a sua horrenda aparência física. Aqui podemos estabelecer uma crítica em relação aos padrões estéticos impostos pela sociedade, onde somente se tem algum valor e aceitação quando se é belo e admirado por seus atributos físicos.
Ao final, não existe fantasma além do fantasma da rejeição e da falta de amor que assusta Erick durante toda sua vida em decorrência de suas características físicas disforicas e que o fizeram recorrer a reclusão e inúmeras formas de violência para sobreviver em um mundo tão hostilizante. Lembrando que as atitudes horrendas do fantasma não devem ser romantizadas, mas tampouco condenadas em uma época literária cujos costumes, crenças, estilos de escrita e período da história eram totalmente diferentes do cenário atual.
O fantasma da ópera é um clássico arrebatador que me impactou enquanto leitora e ser humano e que entra para a lista dos favoritos e melhores que já li.