Julia 31/03/2024Nesse conto publicado em 1892, a protagonista enfrenta problemas com sua saúde mental, os quais são invalidados por seu marido médico e demais pessoas ao seu redor. Reduzida e impedida de realizar ?tarefas intelectuais?, a mulher passa a morar temporariamente em uma casa colonial com seu marido e é compelida a dormir em um cômodo que possui um papel de parede amarelo revoltante para ela. Após passar dias e dias observando, identifica códigos, padrões e diferentes planos no papel de parede, encontrando um atordoante propósito de desvendá-los. Nesse caminho, a autora constroi metáforas para ilustrar a prisão que as mulheres se encontram diante de uma sociedade machista.
?Depois de muitas noites observando - é à noite que o padrão se transforma -, finalmente descobri [?] Às vezes tenho a impressão de que são muitas mulheres, às vezes apenas uma, e ela rasteja a toda velocidade, e seu rastejar faz com que tudo balance. Nos pontos mais iluminados ela se mantém quieta, e nos pontos mais sombrios segura as grades e as sacode com força. E o tempo todo tenta escapar. Mas não há quem consiga atravessar esse padrão - ele é asfixiante; acho que é por isso que tem tantas cabeças.?
Fiquei incomodada quando li no posfácio que esse conto havia sido rejeitado por uma renomada revista dos Estados Unidos com a seguinte frase do editor: ?Eu não poderia me perdoar se fizesse outras pessoas tão infelizes quanto fiz a mim mesmo?. Apesar de não ter sido fácil, ainda bem que, posteriormente, Charlotte Perkins conseguiu publicar seu conto ainda no século XIX, confrontando tão cedo comportamentos e submissão feminina.