Babi 31/01/2017Para aprender história se divertindoEu não sei vocês, mas sempre quando eu gosto muito de um livro eu tenho uma dificuldade imensa para conseguir escrever uma resenha decente (também não consigo lembrar de marcar citações interessantes). Como eu amo Ken Follett não sei se vou conseguir passar o quão incrível é a história de Mundo sem Fim. Eu sei que eu já estou aqui há quase duas semanas tentando. O livro conta a história de quatro crianças, Merthin (o artista e justo), Caris (a esperta, sagaz), Ralph (o destemido e violento) e Gwenda (ingênua e humilde) que testemunham a tentativa de assassinato de um cavaleiro que carregava uma misteriosa e sigilosa mensagem.
Com a ajuda inusitada das crianças, o cavaleiro Thomas consegue fugir da morte e faz os quatro pequenos prometerem que nunca mencionariam o episódio a ninguém. Os anos passam e Thomas acaba virando monge da igreja de Kingsbrindge, Merthin se torna aprendiz de carpinteiro, Caris ajuda seu pai (o mais rico homem do burgo) com os negócios. Ralph se torna um soldado que almeja virar cavaleiro e Gwenda continua batalhando contra a miséria. Mas mesmo anos depois o passado pode vir à tona.
Além desses jovens e de Thomas, outros personagens que terão muito destaque na história serão o padre Godwyn, primo de Caris, que almeja virar o prior de Kingsbridge. E Wulfric que passa ser um grande rival para Ralph (sim, tudo por causa de mulher e ego ferido). O livro é cheio de intrigas de poder, tanto dentro da igreja, quanto entre suseranos e vassalos. Apesar do livro ter mais de 1000 páginas (divididas em dois livros com mais ou menos 500 páginas cada) não há o que ser descartado.
As histórias de todos os personagens se ligam de forma muito habilidosa e todos, dos protagonistas aos coadjuvantes, são muito bem construidos, tendo cada um uma personalidade marcante e peculiar. Dentre eles, os que eu mais curti foram o Merthin e Caris. Merthin se mostrou um personagem muito forte, bondoso, honrado e muito inteligente. Caris se mostrou muito à frente de seu tempo, é uma mulher muito esperta e inteligente que consegue tirar o povo de Kingsbridge de vários sufocos e que não se encaixa em nenhum dos dois destinos que as mulheres poderiam ter na época: se casar, cuidar da casa e das crianças ou viver para deus declarando os votos e se tornando freira.
Já o personagem que menos gostei foi com certeza o Ralph. Tem passagens do livro que eu quis ter a habilidade de poder entrar no mundo criado por Follett para dar umas boas porradas nesse personagem, que é extremamente egoísta, machista, interesseiro, mimado, possessivo e todos os tipos de adjetivos ruins que possam existir para descrever alguém. No entanto, não pude deixar de torcer por ele durante as passagens que mostram batalhas que ocorreram entre Inglaterra e França, durante a Guerra dos 100 anos.
A história de Follett mais uma vez se mostrou não só muito bem trabalhada como uma grande aula de História (o que, para mim, caiu como uma luva já que voltei a estudar para ao vestibular). E dessa vez sobre a Baixa Idade Média, que ocorreu entre os séculos X e XV. Esse período ficou marcado por uma estrutura social-politica dominada pela Igreja, o que vemos claramente com a importância do priorado de Kingsbridge, que arrecadava impostos de todos que entravam na cidade pela ponte. Mais para a frente no livro, o prior, na tentativa de arrecadar mais dinheiro para construir um castelo para ele, resolve resgatar e impor outros tipos de impostos que realmente existiram na Alta Idade Média - o auge do modelo do feudalismo, pautado pela agricultura de subsistência, pelo poder da Igreja e pela quase impossível mobilidade social, como a banalidade (imposto cobrado para que os servos pudessem utilizar bens como o moinho, o forno, os celeiros etc) e a mão-morta (imposto cobrado para transferir os bens de um servo falecido a seus herdeiros).
Follett, com a tensão que cresce entre o priorado e os comerciantes locais de Kingsbridge, também nos mostra como as cidades (antigamente chamadas de burgos) e a burguesia (comerciantes) começaram a surgir e ganhar destaque na sociedade e criando o modelo econômico capitalista. Além disso, irá mencionar a Guerra dos 100 anos e as consequências da abominável Peste Negra, que dizimou a população europeia. Mundo sem Fim é mais uma história que possui doses de todos os gêneros literários: romance, romance erótico, ação, aventura, política, intrigas etc e etc etc. Por isso, espero que todos os leitores algum dia deem uma chance para essa história, pois em algum momento ela irá te conquistar.
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