Queria Estar Lendo 29/05/2016
Resenha: A Rebelde do Deserto
Uma atiradora habilidosa em busca de liberdade num mundo onde mulheres não são vistas como mais do que sombras. Uma órfã que quer encontrar o seu lugar no mundo, que quer ser alguém acima da desconhecida que sempre foi. Amani é uma sobrevivente, uma guerreira e uma garota destemida; ela é a Bandida de Olhos Azuis, e o destino reserva uma história grandiosa para A Rebelde do Deserto. E aproveita que tem sorteio de exemplar lá no fim da resenha!
Que livro! Que história! Eu sei que quando tem indicação do Tumblr por trás de uma leitura, ela vai ser boa. Mas essa foi uau. A narrativa em primeira pessoa te apresenta à Amani. Ela vive em um mundo desértico governado por um sultão perigoso e por um exército temível, com a ameaça de visitantes estrangeiros pairando sobre todas as cidades. Miraji é o nome do lugar, e é um péssimo reino para se viver quando se é pobre, órfã e mulher, três coisas que ditam a história de Amani. Mas acima delas, ela é corajosa e ambiciosa. Amani quer fugir da sua vila natal, quer deixar o conhecido para trás e buscar por um lugar mais seguro. O conhecimento de que a tia vai vendê-la para um casamento é o que impulsiona a habilidosa atiradora a tentar a sorte numa competição; lá, ela conhece um forasteiro, e ele parece sua melhor chance de fugir. Depois de uma perigosa empreitada, os dois escapam da Vila, confrontando, finalmente, a imensidão do deserto e das possibilidades que ele oferece. Dali para frente, Amani vai cair nas garras de criaturas demoníacas, de militares perversos e, principalmente, das escolhas. Quando a rebelião parece uma nova casa para a garota perdida, quando respostas que ela nunca procurou lhes são oferecidas, quão disposta Amani está a ficar ali e lutar pela causa?
"Ele tinha desaparecido no deserto para começar uma rebelião e tomar o poder. Uma nova alvorada. Um novo deserto."
Como sempre, o meu resumo não fala nem sobre 10% da riqueza da história. Quando eu amo muito uma trama, não sei falar sobre ela. A Rebelde do Deserto tem absolutamente todos os arcos, desenvolvimentos e figuras que eu adoro em um livro de fantasia. Toda a história gira em torno do auto-descobrimento da Amani, mas sobre algo que ela nunca buscou. Sua força sempre esteve ali, mas os obstáculos enfrentados a levam a aumentá-la até um pouco que Amani não sabia possuir. De uma solitária sonhadora com a liberdade para alguém que a vive e respira, a jornada de Amani é pincelada por um crescimento sutil e muito bem desenvolvido.
"A cidade dos mil domos dourados, com torres que arranhavam o azul do céu e tantas histórias quanto pessoas. Um lugar onde uma garota poderia pertencer a si mesma, uma cidade inteira tão rica de possibilidades que você quase tropeçava em aventuras na rua."
Sua interação com os novos personagens é a parte mais interessante, porque é o que faz de Amani quem ela é no fim do livro. Jin é aquele com quem ela mais interage; o forasteiro misterioso que ela encontrou no Tiroteio veio de terras muito longínquas, tão longe que ele já viu o mar e florestas verdejantes. Ele não faz parte do deserto como Amani, e esses opostos entre eles criam uma ligação emocional muito forte. Apesar das diferenças, ambos são órfãos esquecidos pelo mundo. Jin, por escolha, Amani, por ser uma garota. O que a história de Jin esconde é uma revelação importante, mas os motivos pelos quais ele escolheu ficar só é que mais me deixaram JKNASFUASBUOASG MENINO SOFREDOR LINDO! Jin e Amani são sombras esquecidas num deserto infinito, mas eles também são dois corações unidos pela própria sobrevivência, dois jovens ansiosos por encontrar os próprios caminhos.
"- Você está certa. Nunca tinha entendido este país, por que minha família escolheu deixar tudo para trás e ficar aqui. Até te conhecer. - senti como se Jin tivesse me empurrado, como se eu estivesse caindo e precisasse que ele retirasse aquelas palavras para me manter de pé. - Você é este país, Amani."
O fato de Jin respeitar tanto a Amani e vice-versa diz muito sobre ele. Num mundo onde as mulheres não têm voz, Jin se curva diante da Bandida de Olhos Azuis. Ele a tem ao seu lado por ela ser uma aliada poderosa, por admirar sua força e sua coragem. Jin sabe muito sobre o mundo lá fora, mas Amani o ensina a respeitar o reino onde estão. Ela é parte dele. O romance entre os dois se desenvolve sutilmente, entre nuances de bom humor, alfinetadas e o crescimento da amizade e da confiança. Eles são o tipo de casal que nasce do respeito, e esse é o OTP mais importante de todos! Jin faz bem para a Amani, mas a Amani faz o Jin se sentir parte daquele lugar. Para um forasteiro que havia abandonado o deserto, de repente o rapaz se vê apaixonado por uma garota que pertence a ele. E o passado do Jin! JKANSFUASBUOSGBA EU QUERIA SURTAR MAIS ABERTAMENTE SOBRE, mas só digo que chorei com determinada cena envolvendo os motivos pelos quais Jin estava sozinho.
Além dele, no decorrer da trama, Amani se aproxima da rebelião e das pessoas que lutam pela causa. O príncipe que clama os seus direitos sobre o trono é Ahmed, um dos doze filhos do sultão. A história de sua partida, o motivo pelo qual ele deixou o reino, é emocionante. Não só as mulheres sofrem preconceito nesse mundo desértico, mas também as criaturas mágicas. Djinnis, especialmente. São seres místicos, dotados de grande poder, que usualmente se envolvem com humanas, resultam em filhos não desejados pela sociedade. Uma das crianças do sultão era, na verdade, filha de um Djinni, e as consequências de seu nascimento foram trágicas e catastróficas. Ahmed luta por um reino justo, para uma sociedade que esqueça as diferenças, para um lugar onde todos possam viver em paz. O governo de seu pai é monstruoso, o dele será justo. Mas, para conseguir uma nova alvorada, um novo deserto, Ahmed caminha com calma. Especialmente agora que a ameaça de uma nova arma, controlada pelo sultão, paira sobre as cidades.
"Jin sempre sorria para mim como se ambos estivéssemos prestes a entrar em apuros e ele estivesse adorando. O príncipe sorria como se estivesse te perdoando por isso."
Ahmed é um rapaz doce, jovem e determinado. Ele é diferente do ímpeto teimoso de Amani ou Jin; ele é um príncipe, pura e simplesmente, cujo coração se volta e se dedica ao seu povo em 100%. A lealdade dele à causa é a parte mais rica e forte em sua personalidade, o que faz dele quem é. Outras pessoas se juntaram à rebelião por suas palavras, por sua presença ou simplesmente por quererem a liberdade que seu novo reino oferece. Muitos filhos de djinnis, renegados do mundo, estão ali. A figura mais marcante é Delila, sua meio-irmã, que ele protege e apoia com todo o seu coração. A doce menina de cabelos arroxeados é o maior motivo para Ahmed continuar nessa luta.
Shazad foi minha segunda personagem favorita. QUE MULHER MARAVILHOSA ASJKNFASUOAUOBASUOASGGASOA filha de um general, é uma guerreira impiedosa, treinada desde cedo para ser imbatível. Seu pai fez dela uma lutadora, apesar do que o seu mundo diz sobre as mulheres, e é graças a ele que Shazad está na rebelião. O general é um espião e também apoiador da causa, e Shazad é uma voz a se erguer na multidão. Ela e Amani constroem uma forte e poderosa amizade; fiquei apaixonada por todo e cada momento dividido entre elas. As duas se entendem, se amam e se protegem. Elas são irmãs de mães diferentes, amigas que demoraram muito a se encontrar, mas que sempre pertenceram uma a outra.
"- Sou uma garota que poderia ter me tornado qualquer coisa se tivesse nascido homem. - Shazad disse. - Mas nasci mulher, então estou fazendo isto."
Outros rebeldes ganharam o meu coração também, em especial Bahi, com todo o seu bom humor e sua alma pura. A rebelião é um conjunto de corações nobres e de causas justas, e todo e cada um deles foi muito bem trabalhado pela Alwyn no decorrer das páginas. Mesmo com a ameaça de uma arma indestrutível - e santo plot twist em relação a essa arma! - eles estão ali para lutar, e não vão desistir da sua revolução.
"Não importava que houvesse menos buraqis e que os djinnis já não coexistissem com os homens, ou quantas fábricas surgiam cheias de ferro e fumaça: aquela era uma magia que não se dissipava."
Mais um ponto forte é a mitologia. Você acredita que todas aquelas histórias são verdadeiras; que, em algum lugar em algum deserto, um Djin amou uma humana com tanta força que sua vingança reduziu uma cidade a um mar de areia. Que filhos de criaturas mágicas vivem por aí, destrinchando poderes inabaláveis.
- Magia e metal não se dão muito bem. Estamos matando a magia. Mas ela está reagindo.
A edição da Seguinte é a coisa mais linda, como sempre. A capa e os detalhes dourados me deixaram babando por vários minutos. A diagramação é simples e delicada, e a revisão e a tradução ficaram excelentes, especialmente com os termos inventados para a mitologia do livro.
A Rebelde do Deserto é um estonteante livro de estreia. Alwyn construiu todo um mundo inebriante em rápidas 312 páginas, e me deixou roendo as unhas por mais e mais e mais. O primeiro livro da trilogia promete a história de uma atiradora em busca de liberdade, e te entrega uma grandiosa jornada sobre a conquista dela.