Andre.Pithon 21/09/2022
Acho que nunca foi tão difícil para mim dar nota para um livro.
Obviamente é um livro importante, e obviamente é uma obra que faz várias coisas corretamente. É uma escolha narrativa interessante usar de pinceladas distantes e pouco pessoais, cortando diálogos e interações, não realmente entrando nas minúcias de cada situação e conseguir a façanha de conter uma épica narrativa de fantasia em duzentas páginas. A linguagem é bonita, com passagens poéticas de introspecção, e isso é algo que eu costumo apreciar. Brevidade. Prosa boa. Tem muito que eu deveria adorar nesse pilar da fantasia durante meu primeiro contato com a obra de Le Guin. E ainda assim, sinto-me completamente intocado pela obra.
Extremamente episódico, a busca de Ged para lidar com sua sombra é quase mitológica em escopo, os temas maiores que os personagens, principalmente por estes quase não possuírem nenhuma personalidade além de sua caracterização mais superficial. E eu entendo que esse é o objetivo, a intenção da obra, focar no protagonista e apenas nele, cercando-o com o tom ancestral de uma narrativa oral passada de geração pra geração, pintando o passado misterioso de um figura que virá a se tornar magnífica no mundo em que vive. Mas o elenco não me cativou, a narrativa passa de aventura para aventura sem nunca gerar tensão (muitas soluções simplesmente caem do céu para o mago titular) ou profundidade, as viradas na história podem ser vistas uma eternidade antes delas chegaram. Mas é bem feito, poético, importante. Óbvio de se perceber as linhas de inspiração saindo daqui e moldando obras mais recentes.
Então resta o tema como pilar, o ponto mais forte, e discutir o tema aqui seria spoillar a narrativa, mas resume-se em uma clássica jornada de autoconhecimento, Ged entendendo quem é Ged, e atravessando a dura e confusa fase entre criança e adulto. Mas ainda assim, isso não me tocou. Não peço por explosões e emoções e personagens apaixonantes, não era essa a proposta, entrei sabendo o que leria. A proposta era introspecção e me fazer pensar, e não realmente sucedeu nisso. Quer dizer, me fez pensar em como expressar minha indiferença com a obra nessa review. E por isso acho que a subjetividade é sempre implícita, que é impossível existir uma nota factualmente correta. Eu categorizo Earthsea baixo, pois falhou em me tocar. É incrivelmente fácil perceber como este livro pode ser o favorito de alguém. Não foi o meu.