Barbr 30/12/2023
Um livro sobre amar e perder
Em um primeiro momento você se pega impactada por todos os relatos e pensa: como puderam deixar isso acontecer?
Mas aí, estaríamos voltando ao que sempre interessa inicialmente, a usina, a catástrofe. Mas, e os seus moradores?
Depois de dias, você percebe que esse é um livro sobre amor e, principalmente, perder algo que ama. Amor ao seu marido, família e filhos. Amor à sua casa, terra, colheita. Amor à cidade, ao país e à natureza.
E esse sentimento é percebido em todos os sobreviventes, da criança ao idoso, homem ou mulher. Todos amaram e perderam.
Uma narrativa e relatos com tantas nuances, tantas possibilidades interpretativas que fica difícil selecionar ou dar conta de todas. Mas, acima de todos, passamos a conhecer uma nova população: os homens e as mulheres de Tchernóbil. É assim que eles passam a ser identificados e se autoidentificam. Essa designação não está apenas nos que se recusaram a sair de sua casa, ou nos que voltaram a morar na região contaminada. Está em todos marcados pela radiação: nos cientistas, nos políticos, nos soldados convocados para conter os danos na usina ou limpar as cidade (chamados liquidadores). Além dos moradores que saíram e nunca mais voltaram, por vontade própria ou, na maioria das vezes, enganados com a promessa de evacuação temporária, deixando tudo para trás: sua vida, sua casa, sua colheita, seu animal de estimação. Uma marco zero em suas trajetórias, onde só lhes restaram uma coisa: suas memórias.