Lina DC 28/09/2016"Quando me trouxeram aqui pela primeira vez, perguntei aos meus guardas o que eles faziam com os prisioneiros para que eles gritassem tanto...Lembro que, naquela época, fiquei eufórica de medo ao imaginar algo tão petrificante, tão horrível que até mesmo o meu guarda calmo e robusto não conseguia revelar em voz alta. Prometi a mim mesma que descobriria, que decifraria esse obscuro segredo oculto no subterrâneo. No meu décimo terceiro ano de colheita, eu era ingênua. Desesperada e cegamente ingênua". (p. 07)
A trama é narrada em primeira pessoa por Twylla, uma jovem de 17 anos que vive no castelo de Lormere e é a reencarnação de Daunen.
"Daunen, no entanto, era filha de dois Deuses, da luz e e da escuridão, da vida e da morte. Quando Daeg jurou que sua filha voltaria ao mundo, Naeht insistiu que a Daunen Encarnada também a representasse. Por isso, Daunen existe como o equilíbrio entre Deus e Deusa. Em nome da sua mãe, precisa ser a morte, e, em nome do pai, é a vida. A cada lua, a Daunen Encarnada precisa provar que é a escolhida ao beber a Praga-da-manhã e sobreviver. E também deve manter o veneno na pele, para que seu toque mate os traidores, assim como o toque de sua mãe". (p. 19)
Então Twylla tem aparentemente uma vida privilegiada no castelo, mas a verdade é que é uma vida solitária. Vivendo praticamente em isolamento, a jovem só é chamada pela rainha Helewys quando a mesma quer aterrorizar os seus súditos ou usar Twylla como carrasco. Todos veem a jovem com terror e ninguém chega muito perto dela. Afinal de contas, um único toque da Daunen Encarnada pode matar.
Segundo a lenda, a única pessoa que pode tocá-la é o seu prometido, no caso o príncipe Merek. Merek passou um pouco tempo longe do castelo e agora retorna, só que a relação dele com a mãe não é das melhores. Ele começa a questionar as tradições do reino e sua independência causa transtornos.
Se tivesse que caracterizar a rainha Helewys em uma única palavra, seria: PSICÓTICA. Sério, a mulher é assustadora ao extremo. Existe uma cena em particular, durante a Caçada que é de arrepiar. A rainha é fria, maléfica e totalmente controladora. É alguém que está disposta a fazer qualquer coisa para alcançar seus objetivos. Mas qualquer coisa mesmo!
Lief é o novo guarda pessoal de Twylla. Ele tem uma idade próxima a dela e é um tregelliano (Tregellan é o reino inimigo de Lormere). Desde o início seu comportamento com a jovem é diferente, não demonstrando medo em ficar próximo a ela e fazendo-a questionar tudo o que ela conhece. Sabendo que a rainha não quer que ela tenha amigos, Twylla tenta manter-se distante de Lief, mas isso é uma tarefa árdua. Para uma garota que vive quase em completo isolamento, ter alguém que realmente a enxergue e a veja como uma pessoa e não uma reencarnação de uma deusa que causa morte é algo envolvente.
Porém, o que Twylla começa a observar é que algumas explicações dadas durante toda a sua vida não fazem muito sentido e, movida pela curiosidade despertada por Lief ela vai perceber que está no meio de uma rede de intrigas complexa e cheia de conspiradores.
O primeiro livro da série A Herdeira da Morte da autora Melinda Salisbury é uma obra repleta de fantasia, intrigas e romance. Twylla é uma protagonista que têm o potencial muito grande, mas que nesse primeiro livro deixa um pouco a desejar. Falta algo nela que faça com que o leitor se encante completamente por sua personalidade. Lief e Merek são personagens mais misteriosos que no primeiro momento, não deixam transparecer suas verdadeiras intenções. Isso adiciona uma nova camada ao enredo, pois acaba confundindo os sentimentos do leitor também.
A trama tem diversas subtramas que se destacam, mas uma delas que realmente se destaca é a história da Devoradora de Pecados:
"Minha mãe é uma mulher obesa, engordada pelos pecados dos mortos, a refeição preparada e servida para ela, como se fosse rainha por um dia. Ao se preparar para a Devoração, os enlutados cobrem a superfície do caixão com pães, carnes, cervejas e outras comidas, e cada pedaço representa um pecado que se sabe ou suspeita que o falecido tenha cometido. Ela Devora tudo, afinal é obrigada a fazer isso. É a única maneira de purgar a alma do falecido, fazendo-a ascender ao Reino Eterno. Se minha mãe não terminar a refeição, condena a alma do morto a vagar pelo mundo para sempre". (p. 55)
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