Camila | @abismos.literarios 04/07/2020
"As histórias jazem no solo, como fósseis."
“Sim, a escrita é uma arma, Delphine, uma porra de uma arma de destruição em massa. A escrita é muito mais poderosa do que tudo que você possa imaginar. A escrita é uma arma de defesa, de fogo, de sinalização, a escrita é uma granada, um míssil, um lança-chamas, uma arma de guerra. Ela pode devastar tudo, mas também pode reconstruir.”
Em Baseado em fatos reais conhecemos Delphine de Vigan, escritora que após o lançamento do seu último livro, um grande sucesso, se depara com um grande bloqueio criativo. A protagonista apresenta o mesmo nome da autora, mas se de fato ela está contando a própria história ou não, digo que ainda estou na dúvida rsrs. Acompanhamos ao longo da história suas angústias, cartas anônimas repletas de agressividade, uma crise existencial e brutal... até o momento em que Delphine conhece L., uma ghost-writer com quem consegue estabelecer um vinculo quase de imediato. L. parece ser a amiga perfeita, sempre por perto, sempre paciente e gentil, que tenta de todas as formas ajudar Delphine a sair desse bloqueio e a incentiva a dar continuidade ao trabalho realizado em seu último livro. Mas será mesmo que essa amizade é o que parece?
Ao longo do livro vamos recebendo informações a respeito de L. e de sua atitude controladora de forma velada, vendo Delphine cada vez mais ser engolida por essa relação. Delphine quer voltar escrever ficção, L. quer que ela caia ainda mais fundo na autobiografia. Acontecimentos atrás de acontecimentos nos fazem ficar de olhos bem abertos e sentindo toda a tensão do que está por vir. Quais serão as consequências dessa amizade?
O livro traz em diversos momentos citações de obras do Stephen King (amei né?!), sendo a maioria de Misery, o que coincide muito bem com a história. Durante toda a leitura eu fiquei criando ideias mirabolantes, tentando responder à pergunta que se apresentou desde o início: o livro é ou não baseado em fatos reais? Talvez jamais saberei a resposta. É um livro curto, mas denso. Tem um toque de biografia e ao mesmo tempo é um thriller psicológico, além de nos trazer reflexões sobre plágio, processo criativo, fã obcecada, saúde mental e relacionamentos. Eu gostei muito dessa leitura, mas faltou algo ao longo do enredo pra história ser realmente impressionante e eu amar. Em alguns momentos os acontecimentos se arrastaram e prolongaram demais; é na terceira e última parte do livro que o negócio pega fogo e você não consegue mais largar a leitura. Por fim, é um thriller francês que vale a pena a leitura e nos faz refletir muito sobre o mundo editorial e literário, o processo de escrita, sobre a realidade e ficção.
site: https://www.instagram.com/abismos.literarios/