Leitora Inquieta 07/01/2017 “A eternidade vive nos silêncios”Quando vi a capa de Essa luz tão brilhante, me apaixonei. Quando li a sinopse, pensei, é meu tipo de livro. Preciso dele, urgente! Quando, em parceria com a Editora Arqueiro, o livro chegou em minhas mãos, sem dúvidas, furou a fila. Passou na frente de todos os outros, pois eu precisava iniciar a leitura. Hoje conto para vocês como foi a experiência.
A autora Estelle Laure estreia no universo literário nos presenteando com a história de Lucille, uma jovem de 17 anos que vê sua vida tomar rumos inesperados. O pai, surtado, está internado em um lugar que ninguém sabe onde fica. A mãe, incapaz de lidar com a ausência do marido e talvez com outras questões relacionadas à maternidade (não ficou claro no livro), decide simplesmente desaparecer. Com alguns dólares, uma casa caindo aos pedaços, um amor platônico, uma irmã de 9 anos e uma amiga inseparável, a protagonista se vê diante de situações difíceis, bizarras, imprevisíveis.
As contas se acumulam, a comida chega ao fim, a esperança está por um fio. Mas Lucille é uma protagonista que não se rende fácil, pelo contrário. Ela decide lidar com tudo da maneira mais adulta e corajosa que encontra: arruma um emprego, pede ajuda à melhor amiga, finge que a mãe está de férias, ou trabalhando como enfermeira, ou seja, omite para todos que ela e a irmã foram abandonadas. Ela transita entre os papéis de irmã, amiga, amante, mãe, dona de casa, estudante, adolescente. Ela é irônica, amável, forte, humilde e decidida. Lucille tem grandes características em uma protagonista, e o melhor, ela não está sozinha.
O livro conta com personagens secundários maravilhosos. Wren, a irmã, é uma criança com uma alma velha, melhor descrição para ela não há. É meiga, é forte, inteligente. Mas é apenas uma criança, e, como tal, demanda atenção para suas questões. Apresenta problemas na escola, possivelmente causados pela questão do abandono. Mas ela, embora se permita entristecer e sentir medo, não perde as esperanças de que tudo vai melhorar. E faz de tudo para provar que a vida vale a pena. Mesmo nos piores e mais incertos momentos.
Eden, a melhor amiga, é o tipo de personagem que mostra a que veio. Cheia de força e ternura, é o ombro amigo da protagonista. Uma bailarina que é capaz de oferecer conforto, que está sempre munida de frases de efeito, e que faz o possível (e o impossível também), para acolher Lucille e toda a sua bagagem.
Digby, irmão gêmeo de Eden, é um caso de puro amor. Aquele tipo de personagem com uma aura tão brilhante, que a gente se sente confortada e aquecida, mesmo estando do outro lado das páginas. Ele é a paixão platônica de Lucille e, embora esteja em um relacionamento sério com outra menina, se permite aproximar da protagonista. Ele se torna babá, amigo, confidente. Ele se torna tudo aquilo que ela precisa.
A história do livro se desenvolve a partir dessa premissa: a necessidade de amadurecimento abrupto, a importância de ter coragem para abrir mão de muitos sonhos e desejos, em detrimento de outros que não pareciam tão importantes. O valor das amizades, daquelas que a pessoa sabe que tem e aquelas que nem sonha existir. Amizades que surgem nos momentos mais delicados, de maneiras inesperadas: uma despensa cheia, um banheiro arrumado, a grama aparada. Amigos que se tornam anjos da guarda, por assim dizer, e que fazem todo o esforço valer a pena.
Essa luz tão brilhante, embora seja um drama, é um livro que faz rir mais que chorar. Fala de maneira leve sobre as desventuras. Trava uma luta entre o bom e o ruim, mostrando que o belo sempre tem um valor maior. E embora seja um livro de leitura fácil, capaz de emocionar e entreter, eu esperava mais do final. Eu esperava que diversas lacunas fossem preenchidas, eu necessitava de respostas que não foram dadas, pelo contrário. E isso me chateou demais.
Esse sentimento de chateação, e de ‘não acredito que é só isso’, durou até eu começar a ler os agradecimentos. Isso porque descobri que esta não é uma obra única, haverá um segundo livro. A sequência, ainda sem data para lançamento, se chamará But Then I Came Back, e contará a história de Eden, a melhor amiga de Lucille. E, espero com todo o meu coração, que a sequencia seja capaz de amarrar algumas pontas que ficaram soltas em Essa luz tão brilhante. Pois é uma história que merece ser fechada com chave de ouro.
Quotes:
“A mamãe que eu conhecia já tinha ido embora, e havia bastante tempo. Então esse adeus não foi tanto uma despedida, mas sim o ato de deixar partir o finzinho daquela coisa que já estava se apagando da memória”.
“Não existe forma de se recuperar disso, não é? Algumas coisas não podem ser desditas, desfeitas”.
“Por favor, estou berrando com tudo que tenho no rosto cor-de-rosa dela e no ombro do roupão cor-de-rosa dela, para que ela me escute, para que alguém finalmente me escute”.