Luiz 29/03/2022
Na guerra dos mundos, a humanidade é objeto de estudo
Livro: Guerra dos Mundos
Autor: H. G. Wells
A Guerra dos Mundos é um dos contos mais famosos de H.G. Wells, e nele é abordado o tema do conflito entre duas raças, a marciana e a terráquea, e os desdobramentos decorrentes desse conflito.
Diversos temas são abordados neste conto, destaco: a crítica do comportamento humano em situações de conflitos, ora agindo despreocupadamente e vivendo como se nada ocorresse, ora desesperadamente e de forma egoísta, buscando sobreviver a qualquer custo; o papel da mídia e das comunicações que via de regra não trazem notícias em primeira mão, mas reescrevem coisas ditas por terceiros sem de fato verificar a realidade dos coisas; a descrença humana para situações catastróficas; crítica a religião e o seu modo de moldar a mente humana, observando uma subserviência; a tecnologia, a inteligência e a superioridade biológica marciana como o ápice da evolução, e o quanto isto destoa da humanidade; a derrubada da velha ordem para o surgimento de uma nova ordem e a forma de governo que isto implica, o como a humanidade deveria agir e sobreviver neste caso, e etc.
Cabe destacar que Wells era membro da Sociedade Fabiana, e por tanto adepto da revolução socialista mundial, ainda que crítico de algumas ideias de Marx e da condução da Revolução Russa, todos os contos de Wells "bebem" dessas ideias, então o conflito de classes, a revolução mundial, a nova ordem mundial, rompimento com a tradição e com a religião, evolucionismo biológico, evolucionismo científico, ideia de experimento social, dentre outros temas, estão fortemente presentes em seus livros, e neste todos esses elementos também constam. Wells tem todo o trabalho de difundir estas ideias no imaginário popular por meio dos seus contos.
"Ninguém teria acreditado nos últimos anos do século XIX que este mundo estava sendo vigiado de perto e atentamente por inteligências mais avançadas que as humanas e, ainda assim, tão mortais quanto; que, à medida que os homens se envolviam com suas várias preocupações, eram examinados e estudados, talvez quase tão estritamente quanto se examinam com microscópios as criaturas transitórias que se aglomeram e se multiplicam em uma gota d'água. Com infinita complacência, os homens iam e vinham por todo o mundo cuidando de seus pequenos negócios, serenos em sua certeza de seu domínio sobre a matéria. É possível que os protozoários sob o microscópios façam o mesmo." (H. G. Wells, p. 11)
"É digno de nota que certo escritor especulativo de reputação quase científica, em texto escrito bem antes da invasão marciana, previu para o homem uma estrutura final bem parecida com as condições atuais dos marcianos. [...] Ele dizia, em tom tolo e satírico, que o aperfeiçoamento dos equipamentos mecânicos superaria os membros; o aperfeiçoamento dos dos dispositivos químicos superaria a digestão; órgãos como cabelo, nariz, dentes e queixo já não seriam partes essenciais dos seres humanos; e que a tendência da seleção natural seria reduzi-los constatemete com o passar das gerações. Apenas o cérebro se manteria como necessidade cardinal. E, dentre as demais partes do corpo, a única com grande chance de sobreviver era a mão, 'professora e agente do cérebro'. O restante do corpo definharia, mas as mãos aumentariam de tamanho."
(H. G. Wells, p. 148-149)
É um livro interessante de ser lido, porém não tão bom ou bem explorado quanto poderia ser, por vezes o texto ficou tedioso, seja pela maneira em primeira pessoa de contar (em alguns momentos, como se fosse um diário), ou pela forma arrastada de contar eventos demasiadamente pormenorizados, sem que de fato contribuam para o enredo em geral da história ou dos personagens, ou até mesmo os dilemas morais. Já percebi em outros contos do autor essa falha, seja pra mais ou pra menos. Outra coisa relevante, é que bastante coisa Wells repete em seus contos, existem ideias idênticas as trabalhadas em "A Máquina do Tempo", "Alimento dos Deuses" e "O Dorminhoco".
"[...] O risco é para nós, que seguiremos como selvagens, que vamos degenera em grandes ratos bestiais... veja, a forma de cida que eu imagino é debaixo da terra. Tenho pensado nos esgotos. [...] Consegue imaginar? Formamos um grupo de homens lúcidos e capazes. Não vamos recolher qualquer fracassado que estiver passando. Os fracos ficam do lado de fora. [...] Não podemos ter ninguém fraco ou doente. Voltamos à vida real, e os inúteis, complicados e travessos têm que morrer. Devem morrer. Precisam estar dispostos a morrer. É um tipo de deslealdade, afinal, viver e contaminar a raça. [...] Mas não é só questão de salvar a raça. Como eu disse, isso é vida de rato. É aqui que entram homens como você. Que entram livros e projetos. Temos que criar áreas bem seguras nas profundezas e levar o máximo de livros que conseguirmos; não romances e as poesias, mas ideias e livros de ciência. [...] Dar atenção especial à ciência, aprender mais." (Soldado / H. G. Wells, p. 182-183)