Andre.Pithon 09/11/2023
Uma hilária novela que constrói uma sociedade absurdista onde o lucro matemático é tudo que importa, perfeitamente refletida na linguagem escolhida, engraçada de tão desnecessariamente precisa. E, nessa distopia patética, o artista é reduzido à posição de um animal de estimação, algo levemente supérfluo trazido para a casa se é necessário algo fofo pra você olhar e se entreter. Difícil descrever, deixem-me exemplificar:
"O pai apontou para o poeta [...] e perguntou se aquele exemplar era subversivo, que é a característica mais temida nos poetas, é o equivalente à agressividade dos cães.
O senho da loja respondeu:
Está abaixo dos dois por cento. É sempre necessário serem um pouco subversivos, ou a qualidade poética baixa demasiado e não gera lucro, ninguém compra, acabam preteridos a bailarinos ou hamster."
Afonso Cruz cria uma ficção curta sobre a importância do inútil, daquilo que não gera lucro direto e instantâneo, e o faz em uma voz capaz de arrancar risadas, e que não se demora na piada, concluindo um conceito que poderia se tornar massante em pouco mais de sessenta páginas, enquanto ainda se mantém fresco e engraçadinho.
Amo a figura de Deus sendo substituída por Mamon, que é uma referência excelente e perfeitamente encaixada mas que não consigo levar a sério pois anos de D&D sempre me fazem ver Mamon como o mais patético dos diabos.