maiara263 04/02/2024
Shadow está há 5 horas imóvel e em completo silêncio...
Shadow conseguiu desbancar todas as protagonistas de livros de infanto-juvenil e se tornou o protagonista mais chato de todos os tempos !!
Deuses Americanos é um livro que critica e exalta o estilo de vida americano ao mesmo tempo. Somos apresentandos a um universo onde os deuses seguem aqueles que acreditam neles e quando são esquecidos morrem. Por isso, muitos deuses antigos de diferentes culturas moram nos EUA atualmente como qualquer pessoa - sem nenhuma regalia - já que vieram pela fé de imigrantes, escravos e colonizadores há muitos anos e foram esquecidos e substituídos pelo estilo de vida moderno no capitalismo onde as pessoas não tem mais tempo pra fé ou só não ligam pra suas raízes.
Essa premissa do livro é muito boa, mas logo no início dá pra ver que o ritmo da leitura é arrastado e nada acontece de importante por vários capítulos seguidos.
Primeiro, o Shadow. O Shadow é o protagonista do livro. Um homem comum que viveu uma vida sem nada de muito especial que um dia conhece um homem misterioso e começa a trabalhar pra ele.
O Shadow é praticamente o livro inteiro tão espectador quanto nós leitores porque ele não sabe o que está acontecendo, nem o motivo, nem quem são as pessoas que ele conhece ou em quem confiar. E isso não é ruim, mas a forma que ele lida com tudo é tão apática que chega a ser irritante.
Logo de início fica claro que Wednesday não é humano ou pelo menos não é comum, ele fala e faz coisas que uma pessoa normal não faria e o Shadow não tem absolutamente nenhuma reação, ele só aceita.
Também fica claro que em nenhum momento o autor tem a intenção de fazer o Shadow um protagonista carismático, dá pra perceber que é intencional e os próprios personagens se incomodam e citam isso, como a Laura e o próprio Wednesday, mas mesmo sabendo, tem situações que não dá.
Até a metade do livro não acontece nada, é basicamente ele indo de um lugar para outro conhecendo deuses (que não é explícito que são deuses) e ficando em alguns lugares por dias esperando Wednesday chamar ele de novo. E quando o leitor fica a sós com o Shadow é absurdamente entendiante, minha vontade era de pular todas as partes dos truques de moeda.
Segundo, a escrita. Eu li o livro físico na edição preferida do autor, não sei se foi a tradução, mas tem vários momentos que não fica claro de quem o autor ta falando e eu acabei lendo varias páginas sem saber sobre quem se tratava aquela parte e me confundia.
Outra coisa que me incomodou foi a quantidade desnecessária de descrição, de cada hotel, de cada truque de moeda, cada movimento do Shadow. Não acrescentava em nada e só deixava a leitura mais parada do que já tava.
Os acontecimentos de verdade demoram muito pra acontecer, mais ou menos depois de 350 páginas que a história de fato começa a andar e tudo é resolvido bem depressa no final.
Gostei dos personagens da Laura, Wednesday, Loki, Nancy e Czernobog. Contava as páginas pra eles aparecerem logo e a narrativa sair do Shadow.
O final me surpreendeu, mas depois percebi que era até meio óbvio e não achei super impactante. Mas, achei irônico um livro sobre uma guerra entre deuses atuais e novos nem ter uma guerra no fim.
A parte de Lakeside em paralelo com a história principal foi bem interessante de ler, gostei dos personagens e da cidade e do plot do final, que eu não estava esperando. Mas acho que podia ter mostrado mais dos novos deuses do que colocado essa história a parte, senti falta de conhecer mais os novos deuses e a personalidade de cada um.
Minha conclusão é: A premissa é muito boa e o universo é genial, mas não funcionou no formato de livro ou pelo menos na escrita do Neil Gaiman. Nunca li as HQ's, mas a julgar pelo sucesso com certeza funciona melhor e até a adaptação em série da Amazon deve funcionar melhor também.
Toda a ambientação, os personagens e os interlúdios são muito bons, mas a escrita é arrastada e massante. 2,5/5.
"Deuses morrem. E, quando morrem para sempre, não há luto nem memória. É mais fácil matar uma ideia do que uma pessoa, mas, no fim das contas, ideias também podem morrer."