spoiler visualizarLele218 18/04/2024
Uma grande fábula nada cativante
Vamos lá!! Esse foi primeiro livro do autor e primeiro sci fi da vida, então já esperava um estranhamento. Também fui com uma certa expectativa porque ouço falar bem do escritor e do livro em si – que inclusive é favorito de algumas amigas –, mas acabei me frustrando.
No primeiro dia li quase 80 páginas que passaram rápido, mas me trouxe a sensação que tinha rolado pouca coisa nessas quase 100 páginas. No dia seguinte avancei na leitura muito desanimada, porque começou a me deixar entediada todo a fuga repetitiva do Jason dos cientistas do laboratório. Só a partir de mais ou menos 160 páginas – quando eles estão prestes a entrar na caixa – comecei a me interessar mais pela leitura. Antes disso não conseguia me conectar com o personagem ao ponto de me importar com o que quer que acontecesse com ele no final. Daí pra frente as coisas melhoraram, mas nada que me deixasse muito investida na trama.
Achei uma pena não desenvolverem nada sobre a Amanda, o livro não é sobre ela mas ainda assim perdeu tudo pra salvar o Jason1 e nem sequer soubemos das versões dela nas outras realidades que visitamos. Essa questão de falta de desenvolvimento me incomodou em vários personagens. Queria sentir que conhecia mais do Jason, a única coisa nítida sobre ele era o quanto ele amava a Daniela – e o filho, quando ele lembrava de mencionar, porque a relação deles não foi explorada e era tratado muito mais como o fruto do amor dele e da Daniela, só – e, na reta final, o quanto ele era “decente” diferente de outras versões dele que matariam pra voltar pra casa. Isso é tudo. O quanto ele gosta dos seus alunos ou do seu emprego? Não importa. Relação com os vizinhos? Não existe. A relação pai e filho então não é nada desenvolvida, porque ele só fala e pensa praticamente na esposa. Senti a mesma coisa sobre os outros personagens, nenhum bem desenvolvido. A Daniela teve um enfoque maior, mas ainda é sobre ter sido artista famosa X estar casada com o Jason1 sendo mãe X como foi o um mês com o Jason2. O tal irmão do Jason? Citado duas vezes.
Desenvolvimento pra Amanda? Não existe. Pro Charlie também não. Nem pro Jason2, porque a gente entende o que ele queria e o arrependimento de quinze anos atrás, mas por que nunca cogitou simplesmente tentar uma segunda chance com a Daniela do mundo dele? Ou ter outra namorada e constituir família, mantendo o sucesso profissional? Falando nisso, achei ele absurdamente burro. Não era lógico pra ele – que estudou por anos essa teria do multiverso e desenvolveu a caixa – que viajar entre as realidades e trocar de lugar faria com que alguns Jason tentassem voltar? E se decidisse continuar, por que não matar o Jason1 logo? Isso teria poupado estresse com essas centenas de Jason no final do livro.
Também achei meio esquisito como a Daniela decide largar tudo o que tem, e isso inclui sua própria realidade, pra ir pra caixa e viver em um mundo novo com a família. Sem emprego, sem dinheiro, sem identidade, sem nada. Entendo que ela poderia viver um caos com esse tanto de Jason disputando por ela, mas me pareceu muito simples essa aceitação.
Só quando os vários Jasons entram em cena que de fato fiquei curiosa pra saber como o autor ia solucionar o problema, mas também achei uma solução muito simplista. Se todos aqueles Jason aceitaram a escolha deles de entrar na caixa, não seria melhor aceitarem e deixarem eles viver no seu mundo de origem? E essa aceitação coletiva também é muito idealista. Mas interessante a questão de todos os Jason que voltaram pra realidade certa serem genuínos nas intenções. O Jason1 é o protagonista, mas todos tinham motivações iguais, passaram por infernos diferentes e mereciam voltar pra casa tanto quanto ele.
Acho um tema interessante, mas ao mesmo tempo me deixou um pouco pensativa se realmente TODAS as escolhas que fazemos provocaria uma outra realidade, porque o livro diz que "tudo que pode acontecer vai acontecer", mas pra mim decisões bobas que não causariam uma grande alterações entre realidade seriam um duplicidade desnecessária. E sem sentido também. Se forem só grandes escolhas – as que moldam todo o nosso futuro – que provocam as bifurcações, aí já acho mais plausível.
Alguns questionamentos que fiquei no final: e as versões deles nesse outro mundo pra qual eles foram, vão se livrar ou coexistir? E os Jason's que ficaram e os que ainda vão chegar porque ainda não tinham chegado na porta certa? Suicídio em massa ou cada um vai aprender a superar e dezenas – se não centenas – vão viver espalhados no mesmo mundo? (O que diga-se de passagem não vai dar certo). Além de não ser impossível outros Jason acharem eles no novo mundo.
Achei muito meia boca todo esse lenga lenga de "tá tudo um caos mas to com a minha família então nunca estive tão feliz", que é a grande moral da história por trás do livro. Quase que um auto ajuda de “valorize o que você tem!!”, que não tenho nada contra, mas não era o que estava esperando da história e nem o que queria ler no momento. Acredito que pra pessoas que estejam passando por um momento que precisem lembrar disso, o livro vá funcionar melhor. Pra mim só soou brega e repetitivo.
E é impressionante como nenhum Jason no chat perguntou se algum ainda estava na companhia da Amanda, só pensavam em Dani e Charlie, sem pensar em nenhum momento em nada além deles mesmos. Tomara que ela tenha achado um mundo em paz e bom pra viver, longe de qualquer versão do Jason.
Por fim, achei o livro bem qualquer coisa, não me tocou e nem me cativou. Não achei super fluido e nem muito interessante, mas não é de todo o ruim. Só é entediante em alguns momentos e uma grande fábula com “e o moral da história é...”.