Wilde Green 20/02/2022minha estanteDirce, isso que você falou sobre sua leitura da Clarice já aconteceu comigo também, mas na leitura de outros autores. Quando lemos um livro aos 16 anos de idade fazemos determinada leitura, mas se lermos o mesmo livro outra vez aos 37 a leitura será completamente outra.
Acredito que isto acontece porque, embora o texto seja o mesmo, o leitor já é outra pessoa. Isto que te relatei está acontecendo comigo. Estou lendo "O Silmarillion", um dos livros de J. R. R. Tolkien, autor de "O Senhor dos Anéis". Quando li pela primeira vez estava saindo da adolescência e fiz uma leitura rasa, focando apenas no enredo e meio sem paciência para os detalhes. Queria só saber onde o livro ia chegar. Hoje estou com 37 anos e estou relendo o livro. Embora seja um texto de fantasia, não é um texto qualquer, seu autor era um erudito linguista, logo há muito o que se admirar, é o que eu chamo "uma escultura literária", uma grande obra. Há muita poesia e muita humanidade transformada em texto nesta obra. Mas eu só consigo perceber tais coisas hoje em dia, que além de ter muito mais experiência de vida também sou bem mais culto do que naquele tempo. Fico pensando no teu caso e do seu marido. Ao que percebo ambos têm mais de 50 anos. Nossa! Que leitura devem fazer!
O texto não muda, mas o leitor sim, logo a leitura é quase que inteiramente outra. Por isso temos a sensação de estar diante de algo novo.
Isso é uma das coisas que acho mais fascinantes na literatura. E é mais incrível ainda quando fazemos isto com textos que nos forneceram fundamentos de percepçao de mundo ou bases morais. Quando relemos estes textos parece que é toda nossa vida e nossas escolhas que passam diante de nossos olhos.