Sempre Vivemos No Castelo

Sempre Vivemos No Castelo Shirley Jackson




Resenhas - Sempre Vivemos No Castelo


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Alexandre Kovacs / Mundo de K 29/04/2023

Shirley Jackson - Sempre vivemos no castelo
Editora Alfaguara - 176 Páginas - Tradução de Débora Landsberg - Capa: Elisa vonRandow - Imagem de capa: Youth de Will Barnet - Lançamento 2022.

Shirley Jackson (1916-1965) ficou conhecida por seu conto "A loteria", que se tornou um clássico do gênero de horror. Contudo, é neste seu último romance, publicado originalmente em 1962, que encontramos uma das anti-heroínas mais misteriosas e bem construídas da literatura, assim como um dos melhores parágrafos de abertura já escritos: "Meu nome é Mary Katherine Blackwood. Tenho dezoito anos e moro com a minha irmã Constance. Volta e meia penso que se tivesse sorte teria nascido lobisomem, porque os dois dedos médios das minhas mãos são do mesmo tamanho, mas tenho de me contentar com o que tenho. Não gosto de tomar banho, nem de cachorros nem de barulho. Gosto da minha irmã Constance, e de Richard Plantagenet, e de Amanita phalloides, o cogumelo chapéu-da-morte. Todo o resto da minha família morreu."

Neste parágrafo inicial, fica claro que a protagonista-narradora Mary Katherine, ou Merricat como é apelidada, vive em um universo muito particular no qual, apesar da fase final da adolescência, ainda encontra espaço para a mágica, particularmente sobre temas obscuros: "se tivesse sorte teria nascido lobisomem"; a importância da irmã mais velha Constance, citada por duas vezes, em contraponto a um personagem da história inglesa do século XV, Richard Plantagenet, Duque de York; uma lista de coisas das quais gosta e não gosta, incluindo entre alguns itens banais o interesse por uma espécie venenosa de cogumelo que pode ser fatal, para concluir com uma informação importante e que destoa de todo o resto, um ponto final perfeito que captura o leitor: "Todo o resto da minha família morreu".

"Da última vez que dei uma olhada nos livros da biblioteca que estavam na prateleira da cozinha, o prazo deles já estava mais de cinco meses vencido, e me perguntei se eu escolheria diferente caso soubesse que seriam os últimos livros, aqueles que ficariam para sempre na prateleira da nossa cozinha. Raramente mudávamos as coisas de lugar: os Blackwood nunca foram uma família muito ativa ou inquieta. Trocávamos os objetos transitórios de pequenas superfícies, os livros, as flores e as colheres, mas embaixo deles sempre tivemos uma base sólida de objetos estáveis. Sempre devolvíamos as coisas ao seu lugar. Tirávamos o pó e varríamos debaixo das mesas e cadeiras e camas, dos retratos e tapetes e luminárias, mas os deixávamos no mesmo lugar; as caixinhas em padrão tartaruga na penteadeira da nossa mãe nunca se mexiam mais que uma fração de centímetro. Os Blackwood sempre moraram na nossa casa e mantiveram suas coisas em ordem; assim que a nova esposa de um Blackwood se mudava, achava-se um lugar para seus pertences, e então nossa casa foi ficando mais pesada com as camadas de bens dos Blackwood, elas a mantinham firme contra o mundo." (p. 7)

Shirley Jackson desenvolve lentamente o tema principal que é o isolamento das duas irmãs Blackwood, vivendo na antiga mansão da família, acompanhadas apenas do gato Jonas e do tio Julian que se tornou inválido após o evento que culminou com a morte da maioria dos sete integrantes da família, tragédia que será desenvolvida e explicada lentamente ao longo do romance, à princípio por meio de algumas pistas, por exemplo: "O pessoal do vilarejo sempre nos odiou", como informado nas primeiras páginas, em meio às descrições da região local. De fato, a autora mantém a tensão narrativa sob controle utilizando os ingênuos comentários da protagonista e, ao mesmo tempo, deixando claro que trata-se de uma narradora nada confiável, como logo descobriremos.

"Nas manhãs de domingo eu examinava minhas salvaguardas, a caixa com moedas de dólares de prata que eu havia enterrado perto do riacho, e a boneca enterrada no campo, e o lvro pregado na árvore do pinheiral; contanto que estivessem onde eu os colocara, nada poderia vir para nos fazer mal. Eu sempre enterrei coisas, desde quando era pequena; lembro que uma vez dividi o campo em quatro partes e enterrei algo em cada uma delas para fazer a grama crescer mais à medida que eu crescesse, assim sempre conseguiria me esconder lá. Uma vez enterrei seis bolinhas de gude azuis no leito do riacho para que o rio mais além secasse. 'Aqui está um tesouro para você enterrar', Constance me dizia quando eu era pequena, me dando uma moedinha ou uma fita colorida; enterrei todos os meus dentes de leite à medida que foram caindo um a um, e quem sabe um dia não cresceriam na forma de dragões. Nosso terreno inteiro era adubado com os tesouros que eu havia enterrado, densamente povoado logo abaixo da superfície pelas minhas bolas de gude e meus dentes e minhas pedras coloridas, todas talvez transformadas em pedras preciosas a esta altura, aglomeradas sob o solo em uma rede potente e firme que nunca se afrouxou, mas resistiu para nos proteger." (p. 54)
O equilíbrio na mansão dos Blackwood está para terminar com a chegada do inconveniente primo Charles que vem para ficar. Mary Katherine, ou Merricat, fará tudo ao seu alcance para impedir a aproximação de Charles e Constance, aparentemente uma nova tragédia anunciada se aproxima. Tentei escrever esta resenha sem revelar muitos dos detalhes da trama e preservar o prazer da leitura inicial, mas o que essencialmente torna esta obra um clássico é a habilidade da autora em lidar com o isolamento, em mostrar como o comportamento bizarro dos personagens é, na verdade, tão profundamente humano, um livro imperdível.

"Deve ter sido neste exato minuto que ele achou a entrada e começou a subir a rampa de carros, correndo sob a chuva, porque só me restava um ou dois minutos até vê-lo. Poderia ter usado esse minuto para tantas coisas: poderia ter avisado a Constance, de alguma forma, ou poderia ter pensado em uma palavra mágica nova, mais segura, ou poderia ter empurrado a mesa contra a porta da cozinha; na verdade, brinquei com a minha colher e olhei para Jonas, e quando Costance se arrepiou eu disse, 'vou pegar o suéter'. Foi isso o que me levou ao hall no instante em que em que ele subia os degraus. Eu o vi pela janela da sala de jantar e por um instante, gelada, fui incapaz de respirar. Sabia que a porta da frente estava trancada; pensei primeiro nisso. 'Constance', falei mansamente, sem me mexer, ' tem alguém lá fora. A porta da cozinha, rápido.' Imaginei que tivesse me esutado porque ouvi seus movimentos na cozinha, mas tio Julian tinha acabado de chamar e ela foi vê-lo, deixando o coração da nossa casa desprotegido. Corri até a porta da frente e me encostei nela e ouvi os passos lá fora. Ele bateu, primeiro baixinho e depois com firmeza, e me joguei contra a porta, sentindo as batidas me atingirwm, consciente da proximidade dele. Já sabia que ele era um dos ruins; vira seu rosto por um instante e ele era um dos ruins, que rodeiam e rodeiam a casa, tentando entrar, olhando pelas janelas, puxando e remexendo e roubando lembrancinhas." (p. 71)

Sobre a autora: Shirley Jackson nasceu em São Francisco, Califórnia, em 1916, e faleceu em 1965. Uma das principais autoras americanas do século XX, conhecida principalmente por suas obras de horror e mistério. Durante suas duas décadas de carreira, ela escreveu seis romances, dois livros de memórias e vários contos. Influenciou escritores como Stephen King, Donna Tartt, Neil Gaiman e Richard Matheson. Sua obra é leitura obrigatória em diversas escolas dos Estados Unidos, e seu trabalho é aclamado pelo público e pela crítica. Sempre vivemos no castelo foi lançado originalmente em 1962 e é considerado por muitos críticos como a obra-prima da autora.
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beka 22/04/2023

Acho que meu detalhe preferido da obra é a narrativa, visto que a Mary Katherine é mórbida, quase sombria. É como se o leitor estivesse invadindo seus pensamentos mais profundos e ela estivesse propositalmente escondendo algo essencial de nós. A trama não é nada assustadora apesar da premissa, mas há algo muito interessante no próprio caminho traçado com calmaria em si, visto a tragédia que todos ? menos o tio Julian ? parecem dedicados a tentar enterrar. Eu gostei bastante, e o final me surpreendeu demais. É um livro curto e vale muito a pena cada minuto gastado com ele.
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Camila Faria 19/04/2023

Merricat, sua irmã Constance e o tio Julian são os sobreviventes de uma tragédia familiar que quase acabou com os Blackwood. Acusada (e depois inocentada) de ter envenenado a própria família, Merricat teme que a chegada do primo Charles abale a delicada e insólita rotina das irmãs. Eu gostei do clima misterioso que permeia toda a narrativa e de como a verdadeira história dos Blackwood vai sendo revelada aos poucos. A presença do primo desestrutura os pequenos rituais já estabelecidos pelas irmãs e traz um elemento de suspense numa trama já repleta de estranhezas. O casarão é um elemento chave, o castelo que esconde segredos, o refúgio onde o que restou da família se esconde e se protege do mundo exterior hostil e assustador. O livro foi adaptado para o cinema em 2018, com o nome Os Segredos do Castelo. Eu não assisti, mas li muitas críticas dizendo que a diretora, Stacie Passon, tirou o poder sombrio inerente às personagens femininas, optando por vitimizá-las, o que é definitivamente um problema, já que tira bastante da ambiguidade e da dúvida que sentimos a respeito da irmãs ao longo da leitura.

site: https://naomemandeflores.com/os-quatro-ultimos-livros-37/
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jbueno2023 12/04/2023

Diferente
Este livro é surreal, uma história interessante, simples, com suspense na medida certa. Gostei muito do Jonas, o gato. Recomendo a leitura.
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jujumyoui 07/04/2023

Personagens imperfeitos fazem o livro perfeito
O livro narra a rotina de duas irmãs, merricat e constance, e seu tio, julian, após sofrerem uma tentativa de assassinato. ambas as irmãs tentam ignorar o passado, enquanto julian revive-o diariamente por ter sofrido sequelas físicas, neurológicas e psicológicas após o ocorrido. a obra é narrada por merricat, uma garota com pensamentos obsessivos compulsivos, sistematizando tal rotina e enchendo-a de regras irracionais que fazem o leitor questionar a realidade e percepção da mesma. ao mesmo tempo, o livro prevê uma segunda tragédia, esmagando o leitor entre dois terríveis finais, o passado e o futuro, através da narração de uma garota de 19 anos sombria.
cuidado: o livro não contém muito enredo, trata-se de mergulhar em merricat e sua percepção de vida de maneira agonizante.
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najuliass 05/04/2023

"Muito comum eu ver pessoas percorrendo nossa trilha, usando-a para ir de um lugar a outro, colocando os pés onde antigamente só os meus pisavam; imaginei que usassem a trilha sem querer, como se todos tivessem de atravessá-la uma vez para demonstrar que era possível."
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Sens0 19/03/2023

Uma narrativa muito interessante, com uma personagem principal mórbida e muito cativante, que me deixou tensa a leitura toda. É uma escrita muito diferente do convencional, apesar do crime, não é um thriller.

Se eu pudesse pedir algo, é que as motivações do crime fossem melhor abordadas, apesar de que seja fácil deduzir pela relação delas o que está se passando. Me irritei, dei risada e fiquei encantada com o gatinho, foi uma ótima leitura, que ficou difícil largar o livro.
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Papoula 07/03/2023

A trama é previsível, mas o texto é ótimo demais, mantém um clima tensionado e ao mesmo tempo vago. Mesmo não aguardando grandes surpresas não deixa de ser uma estória extremamente bem contada.
Obrigatório para aprendizes de escritor ou roteiristas.
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Isabel 02/03/2023

"Qual lugar seria melhor para a gente do que este? Quem quer a gente, lá fora? O mundo está cheio de gente terrível."
Merricat e Constance se fecharam para o mundo e se prenderam no único lugar que lhes trazia conforto. Elas sofrem muito na mão das pessoas do vilarejo, e dá pra entender porque elas têm tanto medo de sair. O primeiro e o segundo capítulo foram os mais difíceis de ler, mas quando o primo Charles chega a história cresce bastante e fiquei bastante curiosa de como as coisas iam se desenrolar. Gostei bastante da leitura, gostei de toda estranheza que era ler a Merricat enterrando as coisas, planejando se livrar do Charles, foi divertido e triste ao mesmo tempo. Em certo momento é revelado como realmente aconteceu a morte dos familiares, eu já esperava mas foi um gostinho de surpresa mesmo assim.

Sinto que este livro tem muitas possibilidades de interpretação, o medo do mundo exterior, o ato de prender-se a um ambiente confortável para não lidar com nossos traumas. O castelo pode representar muitas coisas. Foi uma leitura muito interessante, principalmente quando a Merricat e Constance finalmente chegam na "Lua" mas não é exatamente como elas imaginavam que seria. Se não enfrentamos nossos demônios sempre vamos continuar presos. Não dá pra fugir de nós mesmos.

"Minhas novas salvaguardas mágicas eram a tranca da porta da frente, e as tábuas nas janelas, e as barricadas nas laterais da casa."
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Nrzecchin 01/03/2023

Fuja desse livro?
Meu Deus que livro RUIM!!!
Ele vai do nada a lugar nenhum
O livro é um recorte de um problema familiar adicionando uma camada de suspense que simplesmente não é mostrado
Começou até bem, mas simplesmente não te mostra NADA
Por um segundo durante a história ela mostra que a culpada não é a REAL culpada, e é o único vislumbre que você vai ter sobre a história
A chatice das duas personagens em como se tratam e como se protegem beira o ridículo
O primo, que na sinopse indica que é o ponto de virada das irmãs, é tão ruim e inverossímil, que me fez quase desistir.
Inclusive, após chegar ao final do livro vejo que eu realmente deveria ter deixado de ler
Ruim em níveis absurdos!
O tio, que até tinha muito potencial pra ser um personagem chave te mostrando alguns aspectos do crime, é relevado a coadjuvante.
Eu estou tão revoltada com o quanto esse livro é ruim que minha vontade é de reescreve-lo completamente.
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Kess 24/02/2023

Duas irmãs, Constance e Marricat vivem em uma enorme e antiga casa com seu tio Julian. Sabemos que o restante da família morreu envenenada. Como esse acontecimento se deu? Teria sido acidente? Assassinato? Nada nessa história é óbvio, mas te engole enquanto os acontecimentos se desenrolam com perfeição.

Durante o desenrolar da história, eu me apaixonei pelas irmãs, e pela forma que elas compartilhavam a existência.

Do começo ao fim, Merricat vive no próprio mundo, e eu acho incrível como a cabeça dela sobrevive estando fora da realidade, ou melhor, enxergando a realidade de um jeito atípico.

Um livro peculiar e excelente!

"Como você é boba, Merricat"
04/03/2023minha estante
Eu tenho MUITA vontade de ler esse livro


Kess 04/03/2023minha estante
Eu achei maravilhoso




Anderson 20/02/2023

Um bom livro que flerta com o gênero policial e com o horror não sobrenatural. A trama não aprofunda no desenvolvimento dos personagens, mas tem alguns momentos de tensão interessantes no meio da narrativa. O final me pareceu um pouco arrastado e óbvio, pelo desenrolar dos acontecimentos. Mas vale a leitura para quem está buscando algo mais linear.
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Álan 08/02/2023

Tenso. Infinitamente incômodo?
Eu nunca senti tanto ódio por ler um livro. Nem consumindo qualquer outro tipo de obra de ficção, na verdade?

A Mary Katherine é uma das personagens com maior apelo psicológico que eu já encontrei. Tudo que acontece nessa história é tão forte, me causou uma agonia tão incomensurável? E tantas das impressões, tantos dos desejos da Mary me soaram tão familiares, próximos?

Bem, não tenho muitas palavras para descrever minha experiência com esse livro de forma apropriada. O que posso dizer, então, é que amei tê-lo lido, por mais que pouco tenha suportado o que senti enquanto lia, e que muito provavelmente nunca vou fazer uma releitura dele (pelo bem da minha sanidade).
Mas com certeza terei sempre a Merricat e a história dela bem guardadas no meu castelo mental.

E lerei em breve mais da Shirley Jackson, que ganhou muito facilmente a minha admiração.
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morganuoos 02/02/2023

pirei na batatinha
livro bom, faz vc ficar presa no enredo e tudo mais, achei massa porem sla meio confuso o livro, as guria sao louconas malucas psicóticas nao batem bem da cabeça mas é muito bom!! fiquei assim ?????? varias vezes lendo o livro
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