Bruno.Porto 24/11/2022
Impressões sobre O que é fascismo e outro ensaios, uma coletânea de textos de George Orwell.
É natural para o gênero humano colocar-se ao lado daquele que tem razão (ou, pelo menos, aparenta tê-la). Terminando de ler agora um compêndio de ensaios de Orwell, passo a entender melhor as motivações que fizeram o governo americano transformar suas principais obras em panfletos políticos anticomunistas. Tive a mesma tentação de extrair do autor apenas as críticas que coadunem com o meu modo de pensar. Existe muita munição nos seus escritos para estraçalhar o autoritarismo soviético e a hipocrisia socialista que, ao mesmo tempo que criticava o Fascismo, aceitava expurgos literários na Iugoslávia, por exemplo.
O problema de usar Orwell como justificador de um pensamento mais conservador é que Orwell também é um poço de críticas a este espectro politico. Na verdade, com o tempo, descobre-se que o autor tinha um arcabouço moral muito duro, e, embora, como bem dito por Peter Kreeft, não estivesse alheio a correntes de pensamento, não deixava-se dominar pelas paixões politicas a ponto de abandonar seus princípios.
Acredito que Orwell tem muita a nos ensinar sobre a arte de ser fiel a si mesmo e aquilo em que se acredita, e sobre como não defender meios escusos para o alcance de uma sociedade melhor independente da ideologia confessante.
O livro tem excelentes resenhas e criticas sobre o cenário literário da época e uma maravilhosa conversa sobre como floresce o gênio em meio a realidade da guerra e a supressão da liberdade (explode em minha mente o Em busca de sentido de Viktor E. Frankl). Há ainda uma extensa explicação que perpassa a maioria dos textos acerca da impossibilidade do nascimento de obras universais, no quesito estética e profundidade, quando o escritor está sufocado pelas amarras ideológicas de cunho materialistas (vide fascismo e marxismo).
Contudo, esta leitura educou-me no sentido de manter o espírito realmente critico, inclusive e principalmente acerca do que eu acredito e confesso (sobretudo quando trata-se de politica contemporânea). É importante ressaltar para fins de observação futura que a critica contida no livro acerca da obra Nós de Zamiatin aumentou minha expectativa para lê-la. Com o conhecimento prévio da história, pareceu-me estranho notar um certo menosprezo por parte de Orwell acerca da obra russa, quando é nítido que 1984 bebe muito do enredo de Zamiatin inclusive na construção do personagem principal.