Lori 20/12/2010
E Lionel Shriver continua correndo para estar entre meus autores favoritos, e é significativo por ser a primeira mulher no meu top 5. Depois de ter realizado isso é que fui olhar minha estante e perceber que a presença feminina é praticamente nula, o que leva a ser necessária uma avaliação disso posteriormente. Contudo Shriver não se destaca por escrever bem ou por que seus romances são muito mais do que sobre um casal, meu encantando por ela é a coragem sobre o que escreve. A escolha dos temas e como aborda é de uma liberdade única. Conseguir trabalhar assuntos complexos de frente, sem cair no comum ou fácil mostra a qualidade como romancista. Sobre as outras duas qualidades, me impressiona como ela consegue fazer um livro de 540 páginas fluir, mesmo tendo poucos diálogos e sendo mais psicológico. E embora seja baseado nas possíveis vidas românticas de Irina, o livro é muito mais do que isso, é sobre pessoas não só dentro de um relacionamento, como também fora do mesmo. Talvez seja um dos elementos que a distinguem da maioria das autoras, e não falo isso crendo que mulher somente pode escrever histórias românticas, sim de que são poucas que tem espaço para sair desse rótulo.
Resumir o livro no ’what if’ acho que é simplificar o livro, principalmente por que não é cair para esquerda ou para direita, sim como aquilo te transforma e o seu mundo ao redor. Ela trabalha uma questão que não é nova e trabalha de uma forma original, acompanhando as duas possibilidades. O que é interessante é a demonstração sobre como as pessoas são voláteis, não é simplesmente preto no branco e a pessoa tem a mesma reação independente do contexto. O melhor exemplo é a reação da amiga frente à traição e a possível traição, nem uma das reações parecera inverídica, sim de a situação influencia em nossas respostas. E a forma que ela trabalhou as duas possibilidades foi bom ver como ela lidou no fim. Por que eu fiquei me perguntando se cada uma teria um fim ou seria somente um fim. Imaginei o quanto ela daria liberdade para o leitor interferir no final, embora ache que todos têm que ter o seu espaço, é importante o autor demarcar sua posição e colocar o seu fim, o que o leitor faz frente a isso é outra história.
Como já havia afirmado, o livro é muito mais do que como cada um dos romances se encaminhará, sim como a pessoa que é a Irina se transforma dependendo de sua vida. Por exemplo o tipo de vida que ela leva, como isso interfere em seu consumo de álcool e cigarro, ou a forma de Lawrence demonstrar sentimentos varia na posição que está. Contudo o exemplo principal é sobre os livros infantis, como a história de vida influencia sobre a obra diz muito sobre a literatura em um geral. Também como muito antes do final do livro, ela faz a afirmação sobre o livro, não há escolhas certas e erradas, sim que levam a caminhos diferentes. Quando ela tira o peso de uma vida certa e outra errada, remete a um mundo ambíguo, onde não é preto no branco. Isso transforma o universo que ela cria muito mais interessante e rico.
Agora os personagens, assunto clássico para mim, são riquíssimos. Talvez por trabalhar com poucos personagens principais, o livro abre a oportunidade de entender e complexá-los muito mais. Teve um momento que eu fiquei pensando que ela estava tentando deixar um personagem menos agradável, para melhorar a imagem do outro. Porém depois percebi que não era isso, sim que como qualquer um, tomamos decisões que podem não ser boas segundo outro. Tomamos decisões admiradas e repreendidas, o que transforma seus personagens muito mais trabalhados. É interessante ver como a vida de cada leitor influencia na leitura, Lawrence se transformou no meu sonho de marido literário, enquanto eu conheço muitos que o achariam tedioso e prefeririam Ramsey. É importante como Shriver não fala quem é melhor ou pior, sim que são tipos diferentes de homens e que há relações diferentes. Outra questão que achei importante foi como a realidade da época se insere no livro, como a doença da vaca louca e o 11/09. O livro da americana não está fora da realidade, ele se insere não só como uma representação humana, como também em um sentido histórico e social. Ah, Shriver, adoro o fato de você conseguir complicar a minha vida literária.
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