Os despossuídos

Os despossuídos Ursula K. Le Guin
Ursula K. Le Guin
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Resenhas - Os Despossuídos


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Bombapacth 23/03/2023

Brilhante
Nao vou mentir, fiquei interessado no livro pq achei a capa bonita. Nunca tinha ouvido falar da Ursula e nem sabia de que se tratava a história. Tive uma surpresa muito agradável depois que comecei a ler. A proposta do livro é muito interessante, e as críticas feitas pela autora são certeiras. Gostei muito.
aninha 24/03/2023minha estante
mds eu já comecei esse livro n sei quantas vezes e nunca terminei, agr tu me deixou curiosa


LAvia124 24/03/2023minha estante
nossa eu coloquei esse livro na minha tbr semana passada




Lorena.Lorraine 11/08/2020

Ah, eu gostei bastante desse livro!
Eu li ele devagarzinho porque ele me fez refletir bastante, tem muitas questões filosóficas, políticas e de física (confesso que em física eu boiava um pouco, mas não atrapalhou). Eu marquei diversas passagens, foi uma leitura muito enriquecedora, daquelas que vou refletir por um bom tempo!

Shevek, que é o personagem principal, é do planeta Anarres e está em uma ?missão? ao seu planeta gêmeo, Urras, que é também sua lua.
O livro se passa em duas linhas do tempo, alternadas entre os capítulos, uma em Urras e outra em Anarres.
A história explora as diferenças dos sistemas políticos, econômicos e sociais opostos dos dois planetas, trazendo reflexões de temas importantes da sociedade.
Além disso, as descrições de personagens e cenários são muito boas, eu pude imaginar coisas lindas durante a leitura, achei todos os estímulos muito gostosos.

Recomendo! :)
Jeferson 11/08/2020minha estante
Não conhecia esse livro, parece bem interessante. Vou adicionar na minha lista de leituras futuras, vlw pela dica =)




Alex.Lima 29/08/2023

Deslumbrante
Amo esse tipo de leitura, me recomendaram esse livro durante a faculdade de economia mas nunca tinha parado pra ler, por sorte encontrei ele na promoção na Amazon e foi umas das melhores aquisições que fiz, o universo que essa mulher criou é deslumbrante. Economia, política e uma dose de Star Trek, tudo de bom.
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Gramatura Alta 11/03/2021

http://gramaturaalta.com.br/2021/03/11/os-despossuidos/
scrito em 1974, em plena Guerra Fria, OS DESPOSSUÍDOS é uma ficção-científica utópica e distópica, sobre dois planetas gêmeos separados por conflitos e desconfianças, e um homem que arriscará tudo para reuni-los. Urras é um mundo de abundantes recursos dividido em vários estados-nação. Em meio a extremos de riqueza e pobreza, dois deles estão em guerra para estender sua influência – e seu sistema político – sobre os demais.


Anarres, por sua vez, é o planeta recluso e anarquista gêmeo de Urras, cuja visão utópica de seus colonizadores acabou criando uma ilusão de sociedade perfeita. Essa ilusão só é quebrada quando Shevek, um jovem físico brilhante de Anarres, descobre a Teoria da Simultaneidade, uma ideia que pode acabar com o isolamento de seu planeta e, ao mesmo tempo, como consequência, avivar as guerras do planeta vizinho.

A síntese da história é uma parábola sobre o Comunismo e o Capitalismo, mas sem tomar lados, expondo da forma mais imparcial possível, os louros e as agruras de cada um. A autora utiliza até mesmo a analogia de muros que separam pessoas e ideias. Na época da escrita, o muro de Berlim ainda estava de pé e era muito mais do que apenas uma construção que separava duas cidades, era o símbolo máximo da divisão entre liberdade e ditadura. Da mesma forma, já nas primeiras páginas de OS DESPOSSUÍDOS, fica claro que o muro alegórico será usado pelo personagem principal, Shevek, para separar as ideias sobre o que ele considera certo e o que ele considera errado.

Em Anarres não existem leis, não existe o conceito de propriedade, material ou pessoal, ou seja, ninguém é realmente dono de algo ou de alguém. Não existe o conceito de casamento, de monogamia, cada pessoa decide com quem vive, onde vive e por quanto tempo vive, sem julgamentos morais e cívicos. Inclusive os filhos não precisam ficar com seus pais, porque consideram isso propriedade. Não existe hierarquia política, social ou trabalhista. Cada pessoa ajuda numa tarefa, ou em diferentes tarefas, com iguais conceitos de importância e responsabilidade, seja homem, mulher ou qualquer outro gênero, todos estão em pé de igualdade de inteligência e capacidade. Mas é uma sociedade fechada, que não aceita ser contestada e não possui interesse em compartilhar contatos ou conhecimentos, onde não existe privacidade ou individualidade.

Shevek é um físico e decide viajar para Urras e apresentar sua teoria do tempo contínuo, algo que permitirá que os dois planetas estabeleçam uma comunicação instantânea pelo espaço. Em Anarres, seu planeta, não há interesse em algo que os aproxime do planeta vizinho. Assim, Shevek quebra a hegemonia e os ânimos ficam exaltados, a ponto de haver violência física contra sua partida. Mas o desejo dele de apresentar sua teoria é maior do que o medo por sua segurança.

Urras é um planeta muito semelhante ao nosso, à Terra, em termos físicos, e a sociedade segue os princípios da maioria dos nossos países do ocidente, com empregos, monogamia, hierarquia, riqueza, luxo, higiene, beleza, mas também no excesso de consumo, na pobreza, desigualdade, injustiças, inveja, egoísmo, individualidade, preconceito, machismo. O papel da mulher é o mesmo da nossa de décadas atrás, onde cada mulher é responsável apenas pelo cuidado da casa, dos filhos e do marido, considerada incapaz para realizar qualquer outra tarefa de responsabilidade ou inteligência.

Esses contrastes, evidentemente, assustam Shevek. E aos poucos, com o passar do tempo, ele começa a compreender mais do que as diferenças entre Anarres e Urras, ele compreende os defeitos de cada modelo de sociedade, bem como sua limitação individual para conseguir interferir e modificar qualquer um desses modelos. A autora não deseja que o leitor escolha qual sociedade é melhor ou mais justa, mas que o leitor vislumbre que não depende do modelo para se obter sucesso, mas, sim, de quem o executa e de como executa.

Anarres e Urras possuem civilizações controladas por conceitos que teoricamente poderiam funcionar, mesmo sendo tão diferentes entre si. Entretanto, é a pessoa individual, mesmo numa sociedade unificada, como Anarres, onde a individualidade não deveria existir, que corrompe o sistema e o desmorona. O ser, o querer, o desejar, a vontade, seja por materialidade, seja por unidade, se sobrepõe, sempre, à coletividade, seja de forma direta ou indireta. Nós, pessoas que somos, tememos e afastamos o que é diferente. Somos seres dotados de ódio pelo que vai contra nossas crenças e nossos conceitos pré-estabelecidos. E isso, Shevek reconhece em ambos os planetas.

Não existe perfeição, não existe o mundo perfeito, e nunca vai existir, por mais que se tente. O ser humano é imperfeito por natureza, e imperfeição gera imperfeição, independentemente da intenção. E Shevek, ao finalizar sua história, descreve perfeitamente o que cada um de nós ganha e leva da vida: ele, Shevek, chegou de mãos vazias a Urras; e retornou a Anarres de mãos vazias.
http://gramaturaalta.com.br/2021/03/11/os-despossuidos/

site: http://gramaturaalta.com.br/2021/03/11/os-despossuidos/
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Duda 03/04/2021

Eu gostei muito desse livro! Ele me abriu a mente para alguns assuntos, me levando a ter várias reflexões, ao decorrer da leitura eu ficava bastante curiosa.
Apesar de ter gostado muito o final ficou com coisas em branco me deixando muito curiosa e até um pouco perdida. Apesar disso eu gostei muitoo do livro!!
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blacktonks 15/03/2021

Eu não tenho palavras para expressar a genialidade de Ursula K. Le Guin, e eu juro que não é somente por fanatismo. Ela tem o dom de nos puxar para dentro da história e depois jogar toda a verdade, a merda da realidade suja e cruel que vivemos.
Nesse livro, Ursula destrincha a podridão enraízada na sociedade, mais precisamente no viés político e econômico, contando a história de Shevek, um físico nascido no planeta anarquista Anarres, que viaja para o planeta-irmão de seu berço chamado de Urras. Embora compartilhem do mesmo sol, Urras e Anarres tem diferentes sistemas econômicos e sociais: enquanto em Anarres preza-se o mutualismo, em Urras o capitalismo e a hierarquia é a base até mesmo em países mais socialistas, enquanto a mulher anarresti é vista como uma igual, em Urras ela é só mais uma propriedade desses "bando de proprietários", como diria o anarquista.
À medida que o livro vai tomando corpo e desenrolar dos fatos acontecem, várias reflexões são feitas, mas a principal, para mim, é "o sistema político-econômico que é responsável por corromper o homem, ou o homem é que corrompe esse sistema?"

Da qual eu ainda não tenho resposta.
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Adrine 21/10/2020

Anarco-comunismo, viagens espaciais e uma utopia feminista
Me deparei com o nome da Ursula Le Guin pela primeira vez enquanto fazia uma pesquisa científica sobre utopias feministas, e 'Os Despossuídos' foi o livro dela que mais me chamou atenção no gênero. A própria autora define utopia como sendo "anarquista, pacífica, feminista e ecológica", que no livro acaba sendo representada pelo planeta Anarres, o oposto da visão euclidiana de felicidade a todo custo, em essência imperialista, hierárquico e racional, que é o planeta Urras, visto por outras nações e planetas como o "Paraíso", enquanto os moradores de Anarres o descrevem como "Inferno".
Contudo, conforme o protagonista da obra, Shevek, e o seu sindicato apontam, Anarres deixou de ser ser uma revolução permanente e de ser auto-critica e acaba se contradizendo na sua ideia de anarquismo "que não aceita que um indivíduo seja anarquista".
Le Guin constrói a sociedade desses dois mundos de maneira impecável e sempre propondo uma análise crítica sobre ambos, onde falhas são exibidas nas duas formações sociais, onde a postura revolucionária do protagonista trás distúrbios às duas nações.
"Os Despossuidos" faz muito bem o seu papel de ficção científica política, e é atualíssimo e super válido para discussões sobre nossas posturas políticas e sociais na atualidade. Quem dera pudéssemos ser uma Anarres sempre revolucionária.
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ArthurmalariA 24/10/2023

Além do comunismo!
Os despossuídos é o sexto livro publicado de Ursula Le Guin, lançado em 1974. Nos conta a história de duas luas irmãs, ou melhor, um planeta rico em recursos e uma lua mais seca (quase um paralelo entre nossa terra e a lua) onde no planeta se situam capitalistas e na lua os anarquistas. Muito além do comunismo, ou como a autora se refere aqui, o comunismo que foi além e deu certo, esse livro nos mostra uma sociedade ideal, anarquista, e responde aqui as perguntas sempre feitas pelos defensores do capitalismo "onde está a meritocracia?" ou "porque as pessoas fariam algo sem serem obrigadas". A educação e doutrinação pelo bem maior e a necessidade de sobrevivência é o ponto chave, aqui a autora nos apresenta também como a sociedade ideal começa a ruir com os egoizados, não nos apresenta uma solução definitiva, cabendo a discussão e estudo. O maior problema de ler esse livro foi identificar o porque não conseguir viver naquela sociedade, principalmente por ter sido criado fora dela e nao me adequar a muitas de suas maneiras de fazer as coisas. A desposse e coletividade apresentada no livro é um conceito inexistente em nossa forma de pensar e cultura, e acho que seriam as maiores resistências além da queda do capital e do patriarcado para uma mudança tão drástica, mas a leitura vale tanto a pena que nos leva a sonhar que algo assim pudesse existir de verdade. Indo além da ficção desse livro, talvez seja a nossa única saída num futuro frente ao aumento das inteligências artificiais cada vez mais evoluídas no nosso dia a dia. 10/10
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Camille.Pezzino 04/01/2023

RESENHA #235: A GRAMA DO VIZINHO
Existe uma anedota sobre Tolstói muito interessante, embora eu não lembre de todos os detalhes e nem de onde a li. Certa vez, ele estava sentado em uma pedra – ou algo assim – pensando na morte. Ao seu lado, tinha um mujique (camponês) trabalhando. Tolstói por mais entusiasta, nobre e rico, ainda assim, era infeliz; enquanto, ao seu lado, o homem com nenhuma escolaridade e uma vida de labuta continuava o seu ofício. Então, o escritor resolveu fazer uma pergunta ao trabalhador a respeito do seu medo em relação à morte. Nisso, o homem lhe respondeu: “E lá eu tenho tempo para isso?”

Essa resposta provavelmente não foi assim, mas ela com certeza reverberou no autor: conde, proprietário e infeliz. Essa diferença entre essas duas classes sociais, bem demarcadas por Marx, mostra que existe uma dicotomia no mundo e sempre há diferentes pontos de vista da realidade a partir daquilo que você experiencia. Ursula Le Guin fez um trabalho estupendo em Os despossuídos ao colocar essa diferença social e ideológica durante todo o percurso do seu livro.

Nessa obra, encontraremos dois opostos: um planeta e sua lua (ou quem sabe o contrário?). Anarris é um mundo anarcocomunista, onde as pessoas não têm posses e vivem como “membros da comunidade”; enquanto Urras se divide em três diferentes ideologias políticas: o capitalismo (A-Io) e o socialismo (Thu), além de um governo ditatorial (Benbili).

Le Guin não utiliza essas ideologias à toa e nem coloca esses países nessa disposição sem motivo. A sua obra foi publicada em 1974, um ano antes do fim do conflito armado no Vietnã. Para quem não sabe, esse é o mesmo período histórico da Guerra Fria e de um conflito intenso: a Guerra do Vietnã, país no qual os Estados Unidos interferiu no controle político, apoiando um golpe ditatorial na parte Sul (após a divisão Norte-Sul em que, respetivamente, um era socialista e outro capitalista). Esse conflito gerou muitos atritos entre o governo norte-americano e sua população, pois a maior parte era contra o envio de jovens soldados.

QUER SABER MAIS? ACESSE EM: https://gctinteiro.com.br/resenha-235-a-grama-do-vizinho/

site: https://gctinteiro.com.br/resenha-235-a-grama-do-vizinho/
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Natalia Reis 02/10/2021

"O que enlouquece as pessoas é tentar viver fora da realidade. A realidade é terrível. Ela pode matá-lo."
Ursula é espetacular nesse livro! Ela traz ao leitor duas sociedades com regimes opostos, um capitalista e outro anarco-comunista, sem enaltecer nenhum dos dois. Usando de discurso filosóficos, políticos e científicos, ela coloca personagens com visões antagônica em debates que duras parágrafos no qual o leitor vai sempre tirar algo proveitoso.
Recomendo a leitura para aqueles que não considerem histórias arrastadas chatas ou ruins.
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camphalfblood 01/03/2024

Meu primeiro contato com a autora foi com o livro aqueles que abandonam omelas, mesmo sendo pequeno me deixou com muita vontade de ler outros dela. achei a ideia do livro muito interessante, gostei bastante da construção da história, a forma que as descrições de anarres e urras foram construídas e como toda a alusão política é feita é bem genial. mas foi uma leitura bem complicada, em alguns momentos a história ficava bem cansativa e arrastada, e achei alguns pontos da história desnecessários para a narrativa.
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Giovana 24/01/2021

Incrível! O segundo livro escrito por Ursula que leio e fico cada vez mais impressionada com a potência dessa mulher.

A construção de mundos, sociedades, convivências, as questões sociais, políticas e ambientais impostas. Incrível! Estou encantada.
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Aline 31/12/2020

Pra quem quer ser confrontado com outra organização social
Eu não sou super fã de ficção científica. No geral são livros com muita descrição e com o enredo lento, demora demais para a história engatar. E foi exatamente isso que aconteceu com esse livro.

A leitura da primeira metade do livro foi sofrida, mas eu insisti. Primeiro, porque eu já tinha lido outra obra da Ursula Le Guin (A mão esquerda da escuridão) e tinha gostado bastante. Segundo, porque este livro me foi recomendado por muita gente, então eu sabia que seria bom. E foi mesmo.

A história se passa no futuro, em dois lugares: no planeta Urras e na sua lua Anarres. Os moradores de Anarres são revolucionários que fugiram de Urras há quase 2 séculos e colonizaram esta lua que é um ambiente hostil e quase sem vida, onde não foi possível nem criar animais e a agricultura exige muito trabalho coletivo. Lá, fundaram uma sociedade anarco-comunista sem Estado, sem chefes, sem hierarquia, sem classes sociais, sem opressões, sem dinheiro, sem desigualdade. Ao menos, esse era o plano inicial.

O livro começa quando Shevek, um físico de Anarres, decide ir para Urras para compartilhar com outros países sua descoberta que poderia revolucionar a comunicação entreplanetária. Encontra neste planeta um mundo totalmente diferente do seu. Ganha um quarto individual e roupas novas, depara-se com uma vida de luxo, tem um funcionário que limpa seu quarto e lhe serve café da manhã todo dia. Mas também encontra um país onde mulheres não são aceitas nas universidades, são extremamente sexualizadas, onde tudo se resolve na base da guerra e da violência e o desemprego é imenso.

Como estou com medo de dar algum spoiler, vou parar o resumo por aqui rs. Este é um livro que nos faz questionar nossa organização social e nossa visão de liberdade. No final, há um trecho em que uma ?terrana? relata o que aconteceu com o planeta Terra nas últimas décadas. E isso não é spoiler pra ninguém: destruímos o meio ambiente e a vida, aqui, se tornou insustentável e impossível.

Não é um livro fácil de ler, exige esforço e dedicação, mas vale a pena se você quiser ser confrontado/a com uma outra possibilidade de organização social.

?Mas as ideias em minha cabeça não são as únicas importantes para mim. Minha sociedade também é uma ideia. Fui formado por ela. Uma ideia de liberdade, de mudança, de solidariedade humana, uma ideia importante.? (p. 338)
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Livia1405 03/06/2020

Eu sabia o que esperar do livro, pois não tinha lido nada da autora antes, agora até título de shampoo que ela escreveu eu pretendo ler. Achei uma análise fantástica de como sistemas políticos refletem a cultura e sociedade.
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Jess | @jesslendo 14/02/2020

O livro mais difícil e questionador que já li
Eu não tenho certeza se vou conseguir especificar nessa resenha tudo o que senti e entendi lendo esse livro, mas juro que vou tentar. Essa é minha primeira experiência com a Úrsula, e mesmo indo preparada pois me falaram que seria difícil, eu confesso que não imaginava o tanto. Eu demorei dois meses para ler, marquei o livro todo, e gastei quase três bloquinhos de post it pois acabou a cor e eu fui alternando, rs. Não conseguia ler em qualquer horário, por que precisava de toda a minha atenção, e mesmo assim, ainda acho que deixei passar detalhes e que deveria ler mais uma vez.

Aqui teremos dois planetas gêmeos, Urras e Anarres, sendo Anarres na verdade a Lua de Urras. Em Urras as pessoas vivem no sistema capitalista, bem parecido com o nosso. Em Anarres, a lua de Urras, temos o anarquismo. Em algum momento, todos os humanos moraram em Urras, até que rolou uma rebelião anarquista e eles, literalmente, se mudaram para a Lua. Anarres então passou a ser um planeta autossuficiente e começou a criar a sua sociedade baseado no anarquismo e comunismo, e se afastou totalmente dos outros planetas, principalmente Urras.

Nós vamos acompanhar Shevek, um físico que mora em Anarres. A sociedade de Anarres é totalmente baseada na ajuda mutua e na não propriedade. Eles não entendem o conceito de dinheiro, venda, nem os conceitos de hierarquia. Todo mundo está no mesmo nível, e se ajuda da mesma forma. O trabalho não é nada parecido com o nosso, eles estão sempre revezando entre os postos, e todo mundo trabalha um pouco em cada coisa. É utópico, mas construído de forma tão redonda pela autora, que fica totalmente possível. Úrsula pensa em absolutamente tudo. E isso fica claro quando shevek vai para Urras.

Shevek tem uma formula que pode mudar as formas de comunicação entres os planetas, e acredita que o tempo não acontece de forma continua e sim de forma simultânea. Tudo acontece ao mesmo tempo, e ele quer compartilhar essa forma de comunicação e descobertas com o mundo. Porém Anarres se formou quando as pessoas começaram a acreditar que a forma de vida capitalista não fazia sentido, e por isso não querem nenhum contato com outros planetas depois da sua revolução, e acham que Shevek é um traidor. Fiel ao que acredita e sedento por compartilhar seu conhecimento e conversar com pessoas que entenderiam sua pesquisa, ele vai até Urras, e é impressionante e extremamente inteligente os questionamentos que ele tem e a forma como Úrsula pensa em tudo.

Ele fica chocado com a pobreza e a desigualdade, pois no planeta dele, eles acreditam que se for para passar fome, todos vão passar juntos. Eles comem em refeitórios, não existe sua própria comida, tudo é feito para todos e dividido. Quando tem filhos, eles não ficam com os pais, pois isso também é um conceito de proprietário, como eles falam, e não é incentivado. As crianças vão para dormitórios em uma determinada idade, e ficam com os pais algumas horas do dia, se os pais quiserem e estiverem nas proximidades. Como o trabalho é revezado, a qualquer momento você pode ser transferido para um lugar distante e não ver a criança durante anos. A mesma coisa que acontece com sua parceira, que você pode ficar sem ver, se não forem alocados na mesma região.

Em Urras isso obviamente não existe, mas tudo está indo de forma descontrolada para o abismo. Muito dinheiro, muita desigualdade, o consumo desenfreado do planeta, a total falta de empatia e ajuda das pessoas. Em Anarres não existem animais, assim como não existem muitas outras coisas, e eles são todos veganos. Comer carne em Urras, é uma coisa estranha e nada agradável para Shevek. E isso é apenas uma das questões que ele levanta. Existe a real necessidade dessa forma de consumo? Como isso afeta o planeta?

Outra coisa discrepante, é a forma como as mulheres são retratadas. Em Urras ela são extremamente sexualizadas e não fazem nenhuma atividade. Em Anarres, são iguais os homens, com direitos iguais, participantes de pesquisas e da comunidade.
Úrsula traz de forma intensa e detalhistas, questões que servem ao nosso tempo com perfeição. Elas nos fala sobre o consumo desenfreado, situação social, liberdade, propriedade. A crítica social permeia o livro todo, é de crítica social que ele é feito. Em duas linhas temporais, ela nos conta em detalhes em uma delas, como funciona Anarres e como Shekev, desde criança, cresceu para se tornar o físico questionador que iria para Urras no futuro. E na outra, o que essa viagem causou ao físico e os questionamentos que ele vai levar para a vida toda.

É um dos livros mais difíceis que já li, e mesmo que a autora tenha o dom de escrever de forma mais simples possível, ainda sim fiquei um pouco perturbada. Não só pelas coisas que pensei e anotei. Algumas explicações físicas aqui foram demais pra mim, e algumas filosofias me deixaram com a cabeça explodindo. Eu acho o capitalismo sim terrível, mas o comunismo estaria isento de erros? Tem uma passagem que Anarres enfrenta uma seca, e a comida chega a níveis alarmantes, a ponto de, pela primeira vez, eles cogitarem roubar de outras pessoas.

Eles vivem a pouco mais de cem anos nessa sociedade, e ainda existe muita coisa que pode destruir a estabilidade que eles tem. Sem nenhuma forma de hierarquia existe, eles vivem a liberdade em sua plenitude. Mas será que são livres realmente? Vivendo em sociedade, é possível a liberdade sem nenhum tipo de ordem hierárquica? Todos realmente vivem nesse sistema ou estão tão condicionados a ele, que não percebem a hierarquia subliminar que está em todos os casos? E você, como indivíduo, pode ter suas próprias coisas, ou isso é errado e vai contra o que somos desde o princípio: uma sociedade?

Eu sei que já escrevi mais do que qualquer outra resenha que já fiz aqui, mas ainda não falei nem o começo do que os despossuídos causou em mim. Se você gosta de ficção cientifica, e questionamentos enormes sobre seu papel na sociedade, liberdade e consumo, esse é o seu livro. Se gosta de ficar um pouco louco, e debater assuntos que permeiam nossa sociedade, sem dúvidas é o seu livro. Se puder ler com amigos, recomendo ainda mais, esse é um livro para ser discutido. E não leia com pressa, nem fique nervoso se sentir que as páginas não terminam e você não anda na narrativa. É para ler lento mais, e para ser lido com a atenção plena, mente aberta e nenhuma distração.


site: http://www.revelandosentimentos.com.br/2020/02/resenha-os-despossuidos.html
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