Katharina.Pedrosa 01/01/2024
É uma obra que eu quero que mais pessoas conheçam
A narrativa transcorre em dois cenários distintos: o planeta Urras e sua lua Anarres. Urras abriga três grandes potências: A-Io (capitalista), Thu (socialista) e Benbili (ditatorial). Já Anarres foi colonizada por revolucionários que fugiram de Urras, estabelecendo um sistema anarco-comunista. Embora rica em minérios, Anarres carece de animais e enfrenta escassez na produção de alimentos. A relação entre Anarres e Urras é marcada por hostilidade, limitando-se ao comércio, no qual Anarres fornece minérios e Urras disponibiliza informações e recursos tecnológicos.
Em Anarres, a ausência de governo resulta em uma sociedade baseada na cooperação, embora ao longo da leitura percebamos que a coerção social está por trás desse aparente espírito colaborativo. Com a inexistência de dinheiro, a motivação para o trabalho é a responsabilidade pelo bem comum. Nesse contexto, tanto um agricultor quanto um cientista recebem o mesmo reconhecimento. A condição das mulheres em Anarres é notável, pois têm a liberdade de escolher seus trabalhos com base em interesses e disponibilidade de postos, em contraste com Urras, onde as mulheres são principalmente subjugadas aos homens.
A narrativa é conduzida pelo ponto de vista de Shevek, um físico de Anarres que viaja para Urras na tentativa de publicar sua teoria sobre simultaneidade. Essa teoria é crucial, pois possibilitaria a construção do ansível, uma tecnologia que zeraria o tempo de comunicação interplanetária. Shevek se depara com um mundo desconhecido em Urras, aprendendo sobre o sistema político, a posse, a necessidade de pagar por alimentação e moradia, a escassez de recursos básicos e a dinâmica entre homens e mulheres. A autora, ao abordar questões reais, sutilmente explora como esses problemas seriam resolvidos em uma sociedade alternativa.
Apesar de focar nas críticas a Urras, também são apresentadas críticas ao sistema político de Anarres, oferecendo ao leitor uma visão equilibrada dos dois sistemas, expondo suas fraquezas e virtudes. Além disso, a narrativa intercala capítulos que exploram os desafios enfrentados por Shevek em Anarres, desde a infância até a idade adulta. Essa alternância entre presente e passado quebra o ritmo da leitura, proporcionando uma visão abrangente do protagonista e do mundo ao seu redor.
Frase destaque: " Porque nossos homens e mulheres são livres...por não possuírem nada, são livres. E vocês, os possuidores, são possuídos. Vocês estão todos presos. Cada um sozinho, solitário, com um monte de coisas que possui. Vocês vivem na prisão, morrem na prisão. É tudo que consigo ver nos seus olhos..."