Danilo Andrade 16/09/2020"No fim, somos todos livres, porque, no fim, estaremos mortos" - Bronco GilUm livro que me capturou pelo título, como de praxe. E tratando-se de Ana Paula Maia, li num ritmo insaciável, com sua narrativa pungente, ágil e impetuosa, não podia ter sido diferente.
A história se passa numa colônia penal no Brasil, que com o decorrer da trama, desvirtua-se do propósito de reabilitar os condenados ao convívio em sociedade, e torna-se um verdadeiro campo de extermínio. A decrepitude do lugar é atribuida à danação imanente de desgraças que ocorreram por ali - como o açoite de milhares de escravizados -, e o mau é materializado na loucura e sede por sangue de Melquíades, o sádico agente do estado. Porém, ao meu olhar, o mau se figura e assume vida justamente nos elos atemporais destas duas realidades, contextualmente distintas,mas que se unem pelo fato da população carcerária ser constituída majoritariamente por negros, e pelo extermínio de populações indígenas... cicatrizes sociais que ainda latejam.
A constante inquietude dos prisioneiros em razão de serem mortos por Melquíades (lê-se, necropolítica corporificada) à qualquer momento, tornam a narrativa intensa e visceral, uma forma sucinta de evocar a realidade de muitos escravizados e periféricos pregressos e hodiernos.
Por fim, a admiração pela autora só aumenta, pretendo num futuro breve ler todos seus livros.