Keylla_x 06/10/2020
Devastador
"Minhas frases boas são sempre roubadas. Me falta convicção."
Li Tartarugas Até Lá Embaixo a primeira vez em 2018 e confesso que a leitura não me deixou tão satisfeita como eu esperava. Eu não conseguia compreender realmente a ideia que o autor pretendia abordar, tudo era muito cansativo e repetitivo, estava sempre acontecendo "a mesma coisa" e eu não entendia o por quê.
Recentemente resolvi dar uma segunda chance a história e hoje tenho uma perspectiva totalmente diferente sobre o livro. Talvez seja pelo fato de que hoje estou mais familiarizada com o assunto principal da história, nos dias atuais o Transtorno Compulsivo Obsessivo (TOC) se tornou um tema recorrente, o que faz com que tenhamos uma tolerância maior ao ser exposto da forma tão explícita que autor faz.
John Green foi o autor favorito na minha adolescência e o que mais me atraía na sua escrita era seus textos metafóricos e seus personagens que fogem da inteligência normal, em Tartarugas Até Lá Embaixo ele não deixa a desejar em nenhum desses quesitos. A história se passa pela perspectiva de Aza Holmes uma adolescente normal, vivendo sua vida normal à não ser pelo fato de ter que dividir sua mente/corpo com seus vários "eus".
Green nos coloca dentro da mente de Aza permitindo que nós embarquemos em suas espirais de pensamentos, o que é esclarecedor para entendermos a personagem e ao mesmo tempo perturbador por descobrir como é terrível viver assim. É possível sentir ou ter pelo menos dimensão de como realmente é ter TOC.
A forma como tudo é abordado torna impossível não sentir uma forte empatia por Aza. Sua luta para ser uma "pessoa normal", uma amiga e filha melhor, de tentar viver sua vida da maneira mais normal possível, mesmo com todas as dificuldades. Sua relação com Davis é surpreendente, apesar dele não ter saído de um clássico de Jane Austen ele é um perfeito _gentleman_, ele é outro personagem que se destaca pela sua inteligência.
E por fim vale destacar os finais das obras de John Green. Eles nunca são o que você espera. Não são finais felizes padrões. Porém, também não são tristes. São apenas, reais.
"O problema dos finais felizes é que ou não são realmente felizes, ou não são realmente finais, sabe? Na vida real, algumas coisas melhoram e outras pioram. E aí a gente morre."
O livro é devastador, mas necessário. A abordagem de temas como esse é importantíssima nos dias atuais, vivemos em uma época que as doenças psicológicas estão se multiplicando e muitas ainda são ignoradas, por isso esse assunto tem que continuar sendo discutido dentro e fora das páginas.