Sofia 28/12/2022
Nigéria, anos 30. Nnu Ego, filha de Agbadi e Ona, tinha o casamento e a maternidade como os propósitos de sua vida. Após ter sido rejeitada pela família do primeiro marido por ser considerada estéril, foi morar em Lagos para se casar com Nnaife. Mas a disparidade entre as tradições e liberdades da zona rural e a “europeização” da capital é muito grande, e ela sofre como mulher e mãe em busca de suas realizações: se submetia ao marido e à sociedade extremamente patriarcal, perdeu seu primeiro filho e vivia longe de suas origens. Ao longo do livro, acompanhamos uma história que simboliza a vulnerabilidade da mulher nigeriana do século passado, de vontades caladas, através de uma personagem comum.
Apesar do título do livro, a história da protagonista é cheia de dramas e angústias. No entanto, acredito que essa era a contradição que a autora queria passar: de que a felicidade é construída mesmo com todos esses percalços; não é um caminho regular. Buchi Emecheta faz um retrato da sociedade patriarcal da Nigéria com enfoque maior para a mulher, principalmente relacionado à maternidade. As diferenças entre os papéis das mulheres e dos homens são muito evidentes no desenrolar do romance. O marido, com suas várias esposas - de casamentos arranjados -, precisa procriar para manter sua dignidade e deve sustentar o lar. Já a esposa tem a obrigação de ter filhos e de atender às necessidades do homem, e ainda é culpada ao “fracassar”. Além da questão feminina, há também o contraste entre os meios rural e urbano, que fica claro na perda da identidade cultural dos moradores da cidade com a chegada dos britânicos.
“a vida que se permitira levar quando tinha o bebê Ngozi fora muito arriscada: estava tentando ser tradicional num cenário urbano moderno. Era por querer ser uma mulher de Ibuza numa cidade como Lagos que perdera o filho.”
Por fim, o livro é uma obra crítica não romantizada da maternidade, intercalando também com outras temáticas sociais de racismo, trabalho escravo, submissão e crenças religiosas, que finaliza refletindo mais ainda a ironia do título.