Jeane Esquivel 11/06/2022
Leitura dura e profunda
As Alegrias da Maternidade não é um dos maiores sucessos da @taglivros em vão.
De autora nigeriana e de título irônico, Alegrias da Maternidade demonstra, de forma contundente e crua, a realidade da sociedade da Nigéria do século XX e, principalmente, o papel da mulher nesse recorte histórico.
Nesse romance, acompanhamos a emocionante trajetória de Nnu Ego, desde suas origens, passando por seu amadurecimento, até o fim de sua vida.
A leitura não é fácil nem divertida, mas instigante e intensa. Percebemos, desde o início do livro, que o final feliz - que tanto almejamos, ainda que inconscientemente, para todas as histórias - talvez não venha, em contraste com o sentimento que o título desperta.
Nossa protagonista vivencia momentos de verdadeira luta contra a pobreza, contra as peças pregadas pelo destino, mas, acima de tudo, luta pelo bem estar de sua família, ocupando o papel de mãe, que há muito ansiava e ao qual estava, culturalmente, conectada.
Num minuto, você sente afeto por uma situação específica; no outro, vem a revolta. Desejamos atravessar o livro e fazer algo, acalentar Nnu Ego e ser ombro, ser a voz que ela, muitas vezes, não tinha.
Temas como a colonização inglesa na Nigéria, exploração do trabalhador, patriarcado, tradições superadas pelo tempo... são várias as temáticas que nos levam a refletir e buscar entender o nosso próprio papel no mundo e os reveses da história da Nigéria, em particular, e das colônias em geral, enfim, da história dos esquecidos e dos oprimidos.
A obra nos presenteia, igualmente, com vários momentos belos, bem como a convicção de que Buchi Emecheta é uma escritora provida de grande senso de humanidade e realismo.
As Alegrias da Maternidade é um romance dolorido e igualmente bonito, que nos tira da zona de conforto, provocando no leitor, muitas vezes, amor, empatia, dor e revolta, assim mesmo, tudo junto e misturado.
Leitura imprescindível para se valorizar o protagonismo feminino e negro na autoria de obras sensacionais.