Kaydson Gustavo 23/04/2020
A primeira leitura que fiz desse livro foi no finalzinho de 2018, recomendado por Jout Jout , o li ainda em versão digital, via Kindle.
Sabe quando você olha um jogo de luz e de uma lâmpada saem vários feixes de luz?
Foi assim que me senti, como se cada parte da minha alma tivesse sendo exposta, brilhante e vívida em cada poesia descrita por Rupi.
Não é poesia simples e leve.
É dura.
Pesada.
Concreto.
Concreta como ela que devora e expõe todos os medos, os meus, os seus, os nossos.
Ela não veleja, náufraga.
Mergulha no oceano de palavras e em cada garrafa encontrada: uma carta.
A garrafa não abre.
E você tem que quebrá-la com as mãos, cortando-se e jorrando sangue. Sangue se mistura com vidro, papel e palavras e no final tudo vira Pó. Poesia.
Pó.
É como Rupi Kaur nos deixa, em pó.. as cinzas do nosso ser sendo sopradas por um vento cada vez mais forte e o barco já naufragado, não tem mais vela para ser soprada e nem rumo a ser tomado.
Não obstante é falando em vela que você vê a luz.
A luz que Rupi traz é a mesma que penetra as rachaduras do nosso ser. "...Quando quebram meu coração eu não sofro estilhaço" (pág 117) e é nesse estilhaçar, nesses cacos, pedaços de vidros espelhados que refletimos cada imagem de nós.
Cada eu que habita em nosso ser.
Nós e a górgona que nos olha no espelho.
Nós.
Nós que cruzam, que atam, desatam e também que sufocam e enforcam.
Rupi desafia tudo, ensina muitas coisas simples e inimagináveis.
Aprendo coisas, aprecio outras e vejo: Outros Jeitos de Usar a Boca.
Com uma nova visão e um novo paladar, só que agora agora em livro físico, folha.
Papel;
Marcações;
Intimidades;
Exteriores;
Interiores.
Rupi nos joga na toca do lobo, do coelho, do desejo, do erro, do acerto e do quebrado. Conquanto, somos concertos. Com C mesmo. Musicais. Que dançam conforme a música e é dançando que se conserta é dançando a poesia Rupiana que toca, tocou.
"Você me tocou sem nem precisar me tocar." (pág. 72)
1ª (Re)leitura de 2019.
Que venham mais vendavais como esses para desnortear esses mares.
Nota: O livro tornou-se tão pessoal que é quase impossível não marcá-lo todo. (Foi difícil, confesso.)