Paula Juliana 30/01/2018
''...Outro túmulo no cemitério sem um corpo.''
Terça-feira.
Coincidência ou não, o destino me fez terminar essa leitura hoje. E que leitura!?! Uma daquelas obras que são marcantes, inesquecíveis e muito difíceis de descrever em palavras. A Garota Alemã me deixou sem palavras e sem lágrimas suficientes, não só no seu final, como em inúmeras passagens emocionantes durante o enredo. Amo romances históricos, há uma beleza quase sombria em suas páginas, e quando o autor Armando Lucas Correa me apresenta não só um romance baseado numa história real, como seu enredo ultrapassa os conteúdos que conhecemos em livros de história, sua pesquisa é tão palpável que é como se estivéssemos vivendo tudo aquilo na pele de seus personagens, é impossível ignorar!
Tocante, intenso, forte.
Sensível. Trágico.
Personagens que tem histórias para contar.
E esses personagens... não tem como falar da obra sem dar meus parabéns a todos eles, pela coragem, por todo o sofrimento, pela bela e triste história que viveram, e que pode ser tão similar, ou parecida com a de muitas pessoas que tiveram a digamos, má sorte de viver em um mundo onde não eram aceitos.
Hannah é a Garota Alemã.
Hannah Rosenthal tem 11 anos, é uma garota de sorte, afinal de contas nasceu em uma família privilegiada, de uma boa situação, em uma Berlim de 1939, seu pai era sua rocha, seu protetor, nos braços protegidos de papai, nada poderia a fazer mal, e ainda tinha sua mãe, a Deusa, como ela conta, nos seus vestidos finos, seu pescoço longo, sua postura sempre elegante. Hannah vê seu mundo desmoronar aos poucos, entre seus encontros com Leo, seu amigo, apoio e a que tudo indica futuro noivo, a menina começa a sentir a hostilidade das pessoas, em um dia era bem recebida em todos os lugares, frequentava bailes de alta sociedade e no outro pessoas começam a lhe lançar olhares estranhos, a lhe insultar e de repente ela é suja, impura.
Holocausto. Segunda Guerra Mundial.
Nazistas. Os Ogros puros.
A história contada pelos olhos de uma menina de 11 anos.
Quando a família Rosenthal tem seus bens confiscados e a situação começa a ficar cada vez pior para os judeus, e famílias mistas como a de Hannah, o único jeito que encontram é embarcar no transatlântico St. Louis, juntamente com 936 refugiados judeus fugindo de uma Alemanha Nazista cruel.
Anna Rosen também é a Garota Alemã.
Mesmo não tendo nascido na Alemanha, Anna que vive numa Nova York de 2014, com seus 11 anos, também tem seus fantasmas. Quando recebe uma encomenda misteriosa, de uma tia-avó que não sabia que existia e que criou seu falecido pai, ela parte com sua mãe em uma viagem de descobertas para Cuba, onde vai se deparar com a história de seu pai e o passado trágico de sua família, suas origens.
Quando passado e presente se encontram tem muito para ser contado.
Essa leitura foi muito forte, foram quatro dias bem intensos, a obra tem esse teor histórico muito forte, o autor juntou muitos fatos dentro da história, desde o Holocausto, inicio e fim da Segunda Guerra Mundial, passando pela Revolução de Cuba, até os atentados das Torres Gêmeas, no 11 de Setembro. E mesmo tendo esse teor tão pesado, a história é nos contado com um lirismo, uma inocência, um olhar tão puro e bonito que é cativante, triste e emocionante.
Hannah é muito forte, teve uma vida muito sofrida, parece que o destino das mulheres dessa família é sofrer, entanto que os homens é desaparecer. O desenvolvimento dessa personagem é vivido, a gente a acompanha por uma vida inteira, e não tem como não criar carinho por ela.
A escrita do autor Armando Lucas Correa, assim como seu trabalho de pesquisa, e a forma que enlaça toda a história é de tirar o chapéu, assim como a forma que o enredo é contado entre o passado e o presente, sempre mantendo o leitor alerta e curioso. Destaque para edição da Jangada que está linda e totalmente coerente com a história, lembrando também que no final ganhamos ainda fotos da pesquisa do autor que são muito interessantes.
Eu não tinha o conhecimento do que era o transatlântico St. Louis, sua importância histórica e nem o que tinha acontecido com ele até ler A Garota Alemã, essa obra me trouxe conhecimento, uma profunda admiração pelo capitão do St. Louis e uma profunda tristeza por todas aquelas pessoas que não tiveram escolha alguma quando todas as portas do mundo foram fechadas e seus destinos traçados.
A Garota Alemã é uma obra que deve ser lida, é uma homenagem, é um romance histórico fantástico. Ele me causou inúmeros sentimentos, e muitas vezes me levou as lágrimas, me transportou para uma época passada, me apresentou personagens incríveis, corajosos e leais. Com toda a certeza não vou conseguir passar nem metade do que foi essa leitura para mim, é o tipo de história que só lendo para conseguir realmente entender. Recomendadíssimo. Realidade e ficção aliadas em uma obra audaciosa, marcante e poderosa! Inesquecível!
Paula Juliana
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