spoiler visualizarEva 12/03/2024
Boa leitura, porém cuidado: contém gatilhos
Quando um agente do FBI interroga uma suposta vítima de sequestro desvenda aos poucos ate onde uma mente doente leva seres humanos, o que ela é capaz de acreditar e do que pode submeter os outros?
Eu inicio essa resenha falando que sim, é um livro VICIANTE, porque você quer compreender, quer saber, para a maioria das pessoas é atrativo saber o como, porquê e onde de crimes, assassinatos e nessa história não é diferente.
Você vai devorando, porque quer saber cada vez mais e a leitura fluida colabora muito no ritmo de leitura.
Portanto, retornando ao breve resumo: dois agentes do FBI investigam Maya, uma vítima de um homem que sequestrava meninas de 16 anos até seus 18 (com preferência que fossem mais novas, ou seja, 16 anos). Durante o interrogatório ambos suspeitam que ela esconde alguma verdade, e, além de toda a curiosidade que desenvolvemos pelo caso ao longo da leitura, acredito que um dos motivadores é também esse tal segredo que a vítima esconde contornando perguntas e com respostas enigmáticas.
Quando o tema estup4o, pedofilia são abordados acredito que devem ser tratados com o máximo de cuidado possível, são temas delicados demais para que a abordagem seja feita de maneira tão rasa.
Uma coisa que me chamou MUITA a atenção é a história da protagonista não se sustentar: uma criança negligenciada pelos pais compreender o que é um pedófilo e de primeira conseguir REAGIR a isso. Talvez por uma ideia muito debatida hoje sobre autodefesa e que isso impediria muitos abusos de serem efetivados, mas a verdade é que não tem autodefesa certa: por inúmeros fatores muitas vítimas não conseguem reagir contra seus agressores, portanto por conta disso não acho que essa história se sustenta.
Como uma criança tão negligenciada poderia ter reagido sabendo o que aconteceria? Ainda mais uma criança tão nova (6/7 anos?).
Além do mais toda a autossuficiente dela também não se sustenta pela mesma razão: muito jovem e muito negligenciada? para ela ser tão autossuficiente assim, no mínimo deveria ter ao menos UM adulto para ser seu exemplo e a instruir.
Portanto a história da personagem é um pouco irreal demais até mesmo para um livro.
Chegando ao ponto em que a história começa: seu sequestro , podemos dizer que também é irreal.
Não tem dinheiro que justificaria um homem carregar por aí uma mulher desacordada e não geraria perguntas, não importa o quão indiferente as pessoas sejam hoje em dia, não teria como passar despercebido ao menos por um cidadão.
E então entramos no Jardim e nos deparamos com o jardineiro: inicialmente os estup4os ocorridos ali estão implícitos, mas não são detalhados, não importa se por apelo emocional ou quaisquer outras razões da autora, posteriormente as coisas ficam mais pesadas, são detalhadas e até um pouco romantizadas.
Quando chega ao ponto de detalhar o estado de o estado físico de uma criança fui obrigada a interromper a leitura e respirar fundo muitas vezes, independente de entender que é a temática do livro e talvez não seja um livro pra mim, não vi nenhuma necessidade disso.
A maneira como o jardineiro é descrita em comparação ao seu filho também dá essa sensação da romantização de seus atos, não acredito que uma vítima diante de tudo aquilo consiga ser tão racional e compreender o que passa na cabeça de seu abusador. Como se os atos mais brandos do Jardineiro apagassem o fato de que as meninas ali mantidas tinham seu corpo violado de diferentes maneiras, e, que o verdade monstro seria Avery (filho do jardineiro).
É um compilado de relatos em que são poucas as vezes (acho que mais pro final da pra ver um pouco melhor isso mudando) em que o Jardineiro é realmente retratado como monstro que realmente é.
O fato de no final ela se condoer pelo filho mais novo do jardineiro é uma maneira tbm de romantizar seus atos: pobre coitado, ele só queria que o pai se orgulhasse dele? apesar da vítima reconhecer sua covardia, ainda consegue desenvolver um certo afeto por um dos seus carcereiros (afinal de contas se ele sabia e não moveu um dedo para ajudar, colaborou com aquilo também).
O final é um pouco decepcionante, mas não sei o que esperava de diferente.. o fato de ter uma borboleta que realmente fugiu e por acaso ser uma das meninas que morava com Maya foi meio novelinha em que todo mundo se conhece, todo mundo se esbarra.
Enfim, é uma boa leitura: fluida, instigante, intrigante? mas existe um pouco de romantização, contém muitos gatilhos que não são tratados da maneira devida e o final é bem fraco.