snoopyievski 06/03/2024
Que livro gigante (em todos os sentidos)
Nem acredito que cheguei até aqui. Não porque tenha sido torturante, como se o conteúdo fosse cansativo somando pela quantidade de páginas, mas por achar que a obra seria monstruosamente grande e me engoliria antes de eu terminar. Minha experiência com Guerra e Paz foi muito íntima e pessoal desde a página 1, ela envolveu a minha relação com a faculdade, comigo mesma e com a minha percepção sobre coisas que eu ainda não consigo delimitar exatamente o que são.
Pra começar, acho importante dizer que Tolstói descreve, relata, caracteriza tão bem os integrantes de uma família e sua convivência, como passam pelas dificuldades e alegrias juntos, seus costumes, tudo de uma forma tão intimista e cuidadosamente realista que me sinto uma Rostóva agora. É como se Natacha fosse a irmã que vi crescer, com quem briguei pelas escolhas imprudentes e com quem chorei junto.
Aliás, é a primeira vez que choro lendo um livro. Isso só pode ser muito especial!
Um conhecido me disse, quando soube que eu estava lendo Guerra e Paz, que era um clássico com final feliz. Em partes, discordo profundamente com ele. Não vi final feliz aqui, mas vi um final realista. Em muitas partes, sobre muitos personagens, seus finais me agradaram, mas eu não diria que é especificamente feliz. O final é, observando pela lógica dos desenvolvimentos e desfechos dos personagens, realista, imperfeito, doloroso misturado com as felicidades que a vida também traz com a dor, espiritualmente esclarecedor (Pierre, particularmente, não poderia ter tido um desfecho melhor, apesar de algumas críticas pessoais minhas) e parece retratar exatamente o desenrolar de uma família que se ramifica para a criação de outras mais. Uma familiaridade, uma intimidade que se cria a partir de relações que vão surgindo junto do desenrolar de outros acontecimentos paralelos que você não controla e que mostra, justamente, que a liberdade que achamos que temos, a consciência e responsabilidade de seguir os planos que traçamos baseados no nosso senso de certo, de justiça etc, são apenas detalhes facilmente corrigíveis a algo muito maior que nem imaginamos que aconteceu, acontece e vai continuar acontecendo. Enquanto isso, nos deixamos ser acontecidos pelo entorno.