Henrico.Iturriet 27/02/2023
Um conteúdo vasto
A cada momento que imagino uma resenha de uma obra do cânone marxista, revejo e repasso algumas obras passadas e disciplinas da faculdade que já consideram muitas das suas considerações datadas. Porém, que contém em sua análise pré-sociológica, uma importância sem igual para compreender a sociedade e a época em que foi escrita.
Revisitar Marx e Engels é como se aprofundar nas linhas da história que a máquina educacional repressiva e socializadora do Estado nos priva em aulas de 50 minutos supostamente neutras. Ao comentar a obra de Morgan, Engels adiciona algumas visões econômicas e relaciona sentidos e conceitos com acontecimentos históricos reais e delimita, no campo de estudo do seu método, as análises que valem mais a pena destacar.
Para qualquer estudioso da área, interpretar essa obra é difícil. Ela é bem escrita e comunicativa, porém, sua influência decai na formação da monogamia, do Estado, do acúmulo de excedente primário e da elaboração de órgãos de Estado dependentes do desenvolvimento dos modos de produção, da população e do direito de acumulação. Delega o papel da mulher como submissa após a invenção do patriarcado, e como ele é intrínseco a propriedade privada no que diz respeito ao direito paterno de herança, e acompanhado disso, tem a queda do direito da tribo. Ou seja, se individualiza famílias e privatiza a propriedade. Ao passo que esse processo ocorre, a monogamia se torna uma condição circunstancial da formação do Estado, já que é a partir das Leis e das invenções de normas a serem seguidas que a dialética dos costumes e da acumulação se chocam, sendo necessário o Estado para intermediar essas duas.
Seguindo-se, o trabalho escravo, os sistemas de dominação antigo, feudal e moderno sempre apresentam uma característica em comum: patriarcalismo, monogamia como relação de família que sustenta o direito paterno, o Estado como principal mediador das relações coletivas e dos meios de acúmulo privado (feito pelas classes dirigentes acompanhado pelas rendas, via de regra) e o direito como novo método repressivo, unido a polícia e o poder bélico.
Podemos, então, determinar a característica de sustento do estado em três instâncias: a subdivisão dos seus cidadãos por território (obrigação destituir a ideia de tribo e substituí-lo pelo direito a herança, facilita também a unidade de controle) com isso, direitos públicos são introduzidos e toda pessoa que se fixasse ali agora era imposta com deveres. O poder público se separa da população e da massa, ou seja, se consolida uma espécie de dominação/controle. E, por último, a necessidade de cobrar impostos para manter-se em pé, como uma entidade acima da sociedade, mas que, invariavelmente, depende dela.
Enfim, podemos falar sobre poligamia ou amor livre, a primeira obra marxista a discutir a submissão da mulher como culpa do capitalismo e do sistema patriarcal de organização de poder e dominação masculina, assim como rondar a suposta linearidade dos eventos e sua relação com o evolucionismo social. Contudo, finalizo em aberto a necessidade de estudar essa obra como um ?precisa ler? quando se levanta qualquer estudo da área da antropologia, da família e da economia doméstica e o seu desenvolvimento (particularmente, n foi uma das minhas leituras favoritas, mas entendo sua importância e não poderia passar pelo marxismo sem estudá-la).