Silvana 02/07/2018
Cameron Post não tinha ideia de como ia contar certas coisas para seus pais, por isso a primeira coisa que ela pensa quando descobre que eles faleceram em um acidente de carro, é que não vai precisar ter "A conversa" com eles. Mas logo depois ela sente muita culpa porque com certeza seus pais morreram porque ela estava fazendo coisas muito erradas. No dia que seus pais faleceram ela havia acabado de furtar dois chicletes do supermercado e o pior, ela tinha beijado sua melhor amiga Irene Klauson depois de um desafio. Mas o que começou como um desafio despertou coisas em Cam que ela nunca tinha nem pensado. Culpada pelo o que aconteceu, sua reação é se afastar de Irene, que acaba indo estudar em outra escola e elas praticamente perdem o contato.
Depois disso a vida de Cam muda radicalmente já que sua tia Ruth e sua avô Post vem morar com ela. Sua avó é de boa, mas Ruth é ultraconservadora e decide que Cam vai mudar de igreja e começar a frequentar a Portões da Glória, onde Cam vai participar de um grupo de adolescentes e Cam até ganha uma bíblia voltada para sua idade, onde é claro ela corre pesquisar o assunto homossexualidade e fica ainda mais culpada pelo que aconteceu com Irene. Dois anos depois, no verão antes de Cam começar o ensino médio, ela participa da competição de natação e sua adversária direta é Lindsey Lloyd com quem ela aprende sobre parada gay e outras coisas. Não é tão intenso como foi com Irene, mas a deixa tão culpada quanto, cada vez que ouve o pastor Crawford condenando a "homo-sexo-alidade".
O verão termina, Lindsey vai embora e começa o ensino médio e com ele vem Coley Taylor. Coley veio de uma cidadezinha que não tinha ensino médio e logo que chega chama a atenção de Cam. Mas Coley mal fala com Cam até o dia em que ela e sua mãe começam a frequentar a Portões da Glória. Junto com o namorado perfeito de Coley. Só que isso não impede Cam de se aproximar de Coley e se apaixonar por ela. Mas Cam sabe que é algo só da parte dela, até o dia em que Coley toma a iniciativa e as coisas vão um pouco além do que Cam esperava. Porém Coley se arrepende do que aconteceu e conta tudo para o pastor Crawford, que então junto com sua tia Ruth decidem que está na hora de consertar Cam e ela vai parar em um centro de conversão, Promessa de Deus, que é uma espécie de escola cristã e centro de cura para adolescentes que estão se deixando levar pelo pecado, como é o caso de Cam.
“Mesmo que nunca tivessem me dito especificamente para não beijar uma garota, ninguém precisava fazer isso. Beijos eram coisas entre meninos e meninas: na nossa turma, na TV, nos filmes, no mundo - era assim que funcionava: meninos e meninas.”
Sempre que termino um livro vou até o skoob para anotar como lido e dar minha nota para ele. Mas esse foi bem dificil de dar a nota. Mudei ela umas três vezes até me decidir. Eu gostei muito da história, mas aquele final, não me conformo. Se a autora resolver escrever uma continuação, aumento minha nota, mas se for ficar daquele jeito, aberto como ficou, só posso dar uma nota 3/5. Eu não gosto de finais abertos, mas tolero quando é coerente com o que o autor escreveu até então. Mas da forma como a autora terminou esse livro, ficou não só dúvidas sobre o que aconteceu depois, mas ficou aquela sensação de que a leitura foi a toa, que toda a luta da Cameron foi em vão.
O livro não é um romance romântico, então não espere que a personagem vai se apaixonar, sofrer alguns percalços por ter se apaixonado por alguém do mesmo sexo e tudo terminar bem ou em tragédia para nos acabarmos de chorar no final. O livro não aborda exatamente esse tipo de coisa. Acho que a intenção da autora, que aliás o livro é baseado em suas próprias experiencias, foi mostrar como era ser homossexual naquela época, a culpa que a sociedade colocava contra quem tinha coragem e assumia que não gostava e nem sentia nada pelo sexo oposto. Se você acha que hoje em dia é dificil é porque nasceu depois dos anos 90, onde AIDS e homossexualidade eram quase sinônimos. E é nessa época que é ambientado o livro, que abrange o período entre 1989 até 1993.
Eu tenho 36, caminhando para 37, e lembro bem como eram as coisas. Era raro alguém se assumir por livre e espontânea vontade. Quando acontecia, era da forma como foi com a Cam, ainda não era usada a palavra homofobia, mas acho que as coisas eram ainda piores, principalmente para a pessoa que além de não ser aceita, também não se aceitava pela enorme culpa que vinha junto com o pacote. Além das doenças e do uso de drogas que eram associados a quem tinha coragem e se assumia. Não vou negar que as coisas não aconteciam assim, mas acho que em sua grande parte foi devido ao despreparo e a falta de informações que todos tinham porque como você ia perguntar para alguém sobre algo que você tinha que manter escondido?
A história é narrada em primeira pessoa pela Cam e é impossível não se afeiçoar a personagem. Ela é divertida, sincera, ingênua e infelizmente vive ao lado de pessoas completamente despreparadas para cuidar da situação. E é impossível não sofrer com seu sentimento de culpa. Dá vontade de entrar no livro e falar para ela que seus pais terem morrido não é culpa dela, que nada do que ela tivesse feito influenciaria no que aconteceu. E também dá vontade de dar uns tapas na tia Ruth, já que ela é uma hipócrita de marca maior já que acha que Cam ser homossexual é pecado, mas ela mesma dormir com o namorado antes do casamento está de boa. Vamos ler e obedecer só algumas partes da bíblia.
E falando em bíblia, aquele centro de recuperação é uma piada já que Cam tem mais acesso as drogas quando estava lá dentro do que do lado de fora. E como assim vamos curar uma garota gay deixando ela dormir no mesmo quarto que outra garota gay. É claro que isso ai dar super certo mesmo. E ainda nesse assunto, sou evangélica desde que nasci e desconheço esse Deus apresentado no livro. O Deus que eu amo, me ama de forma incondicional, não se eu fizer só as coisas que os outros acham "certas" e acima de tudo ele me deu o livre arbítrio, a escolha é minha. Por isso nem vou entrar nessa questão. Amor e respeito acima de tudo. Mas enfim, a resenha já está enorme e só antes de terminar quero falar dessa capa que achei linda e que combina perfeitamente com a história. Dito isso fica por sua conta e risco a leitura, se você não se incomoda com finais abertos como eu, vá fundo.
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