Maryy.Maria 08/05/2024
Esse livro acabou comigo mds
Este é um dos livros mais bem elaborados e escritos que já li. Apresenta um protagonista com habilidades limitadas para escrever, que expressa seus pensamentos da maneira que consegue entender. À medida que a narrativa avança, testemunhamos o desenvolvimento intelectual de Charlie. No entanto, a essência da história não é sobre ele se tornar um super gênio; trata-se da carga dramática que acompanha sua crescente inteligência. Conforme ele se torna mais astuto, começa a perceber que as pessoas que considerava amigos não riam com ele, mas dele.
Um aspecto fascinante da obra é como as memórias de Charlie emergem. Não apenas acompanhamos seu progresso, mas também revisitamos sua infância, o que remete a um estudo psicanalítico: tudo o que vivenciamos está armazenado em nossa memória, seja no subconsciente ou conscientemente, e nada do que esquecemos se perdeu completamente.
À medida que Charlie domina a linguagem, a esperança do livro repousa nas mãos da ciência, entrelaçada com referências cristãs. Charlie, prestes a completar "33 anos", é o "escolhido" não por Deus, mas pelos médicos. Quanto mais inteligente se torna, mais se distancia da religião e, quando se encontra em um estado menos avançado, volta a se apegar à fé. Em um ponto, alguém lhe diz: ?Se você lesse a Bíblia, Charlie, saberia que o homem não deve ultrapassar os limites impostos pelo Senhor. O fruto daquela árvore é proibido ao homem. Se você fez algo que não deveria, talvez não seja tarde demais para desistir. Talvez você possa voltar a ser o bom e simples homem que costumava ser.? Na cabeça da personagem, para alguém elevar seu QI de 60 para 200, só poderia ser por meio de um pacto com o diabo.
Outro ponto é que, à medida que Charlie reinterpreta suas memórias, entendendo e redescobrindo o que lhe aconteceu, ele usa essas informações e lembranças como mecanismos de defesa. O jovem dócil do início do livro se torna uma pessoa amarga. Com a inteligência e uma percepção mais realista, é possível que as pessoas se tornem mais endurecidas. Em um momento, um dos cientistas lhe diz: "A inteligência é um dos maiores presentes humanos, mas frequentemente essa busca por conhecimento exclui a busca por amor." Charlie adquire inteligência, mas não inteligência emocional. Ele não consegue se relacionar com as pessoas; seu relacionamento com as mulheres, por exemplo, é sempre baseado em tentativa e erro, pois, afinal, sua vida está começando aos 30 anos de idade.
Esta não é apenas uma história de um rapaz com problemas cognitivos; é muito mais do que isso.