Galáxia de Ideias 26/03/2018
Ler Nora é como vestir um moletom, daqueles que amamos e que é completamente confortável, e que nos traz uma sensação deliciosa de se sentir em casa.
Estrelas da sorte foi, desde o dia em que descobri que seria lançado em março de 2018 pela Editora Arqueiro, uma obra pela qual ansiei muito, e ao mesmo tempo receei muito. O fato de ansiar se deve a ser uma história de Nora Roberts, autora de quem gosto muito, mas receei por ser um enredo que aparenta muita fantasia, gênero com o qual não sou familiarizada. No entanto, após começar a leitura, percebi que não havia muito com o que me preocupar, pois ler Nora é como vestir um moletom, daqueles que amamos e que é completamente confortável, e que nos traz uma sensação deliciosa de se sentir em casa.
Mas, mesmo que já nas primeiras páginas consegui perceber que era uma obra fluída, admito que me senti, por alguns capítulos, como se estivesse caindo na terra de Oz, da história O mágico de Oz, pois a fantasia foi jogada em mim com intensidade e sem muito preâmbulo, e eu não estava preparada para ela, e a princípio pouco entendi o que estava acontecendo e até mesmo achei tudo um tanto breve demais. Porém, a medida que a minha leitura foi evoluindo, consegui mergulhar profundamente no enredo, a ponto de amar todo o mundo fantástico, os seres míticos e as lendas que o livro me apresentava, e o finalizei ansiando pelas próximas histórias que compõem a trilogia, e encantada pelos diversos elementos instigantes que Nora trouxe, que foram capazes de criar uma ótima história.
O primeiro desses elementos é a dinâmica do livro. É uma obra que apesar de abordar a história de um casal, ele traz foco em todos os outros personagens, e conseguimos conhecer a personalidade, peculiaridades e gostos de cada um. Além disso, ele não é aquele livro que fica focado em coisas individuais, apesar de ter os momentos a dois do casal protagonista, mas traz, no geral, a união, fraternidade e laços entre o grupo, o que é admirável e nos enche de um sentimento bom. Também, preciso dizer que esse livro traz um romance capaz de agradar vários tipos de leitores, pois sim, ele existe e é bonito, mas não é o maior foco do livro, sendo construído na medida certa de nos prender, mas não a ponto de ser o acontecimento único e exclusivo e não transforma o livro em algo meloso.
Ainda, devo mencionar que embora eu não tenha experiência com a leitura de histórias de fantasia, achei que Nora ousou e muito nesse livro, mas de uma forma boa, pois aqui ela não hesita em trazer todos os tipos de seres míticos, de lendas, crenças e possibilidades, o que torna o enredo uma surpresa a cada capítulo, literalmente. E, falando em lendas, o enredo tem um levíssimo toque de conto de fadas, trazendo a história das deusas que presentearam a rainha, e nos lembra, de longe, a história da Bela adormecida. Ainda, algo que me encantou profundamente foram os cenários descritos, em especial a ilha de Corfu, suas praias, comidas e panorama geral e a colocação destes no livro merecem aplausos, pois em mais ou menos quinze palavras de descrição, eu já estava preparada para arrumar as malas e correr para lá, de tão delicioso que tudo se mostrou.
Eu, em particular, não encontrei nenhum ponto que se mostrasse excessivamente negativo, no entanto, como pode-se perceber, esse é um livro carregado na fantasia, então para os leitores que não gostam de jeito nenhum desse gênero, essa é uma história que pode não ser tão positiva. Além disso, nos livros de Nora sempre acontece um amor bastante rápido, o que pode servir de incômodo para os leitores mais exigentes e também há o fato de a fantasia ser pouco detalhada, e as coisas por vezes acontecerem rapidamente, no entanto, creio que essa é uma característica especial de Nora e que não tira o encanto do livro.
Os personagens são os elementos mais incríveis do livro, e eles tem a capacidade de nos tragar para dentro das suas vidas, e nos fazer amar e admirar a relação que constroem aos poucos. É difícil definir quem são os meus personagens favoritos, mas, Sasha, a protagonista, me conquistou e eu me identifiquei com ela, pois ela começa sendo temerosa, escorregadia e até mesmo esquiva, pois caiu de paraquedas nas lendas e não sabe o que virá pela frente. Sasha é alguém que evolui muito ao longo do livro, e isso me deixou orgulhosa da personagem. Já Bran, o par de Sasha, é um homem lindo por dentro e por fora, e achei incrível a magia dele. Seu poder é admirável, e é alguém corajoso e determinado. Quanto aos outros personagens que irão protagonizar os livros seguintes, temos Annika, alguém que surge do nada e que conquista a todos do livro, e nós leitores também, com seu misto de ingenuidade e coragem, que tem o poder de nos fazer rir em alguns momentos, e em outros nos leva a ficarmos sensibilizados. O segredo de quem Annica é foi um dos mais bonitos e bacanas que encontrei. Sawyer, o quarto integrante é um homem também cheio de segredos e que me pareceu bastante romântico, e acredito que com seu desenvolvimento nos próximos livros será alguém por quem sentirei afeto. Ainda temos Riley, a moça dos contatinhos, que consegue tudo o que o sexteto precisa nessa empreitada mágica, e que é a pessoa mais autoconfiante do livro, além de ter um segredo que me deixou de respiração suspensa por uns trinta segundos quando descobri, e Doyle, alguém completamente fechado que passou a se abrir ao final do livro, mas que tem grandes motivos para tal distanciamento.
Mas, nem só de personagens incríveis e bonzinhos o livro é feito, e Nerezza, a vilã, é daquele tipo de ser maligno que quando aparece, conseguimos até mesmo sentir uma mudança na corrente de ar ao nosso redor, e tudo fica mais gelado, de tanta intensidade que ela carrega.
O livro é narrado em terceira pessoa, dividido em 19 capítulos curtos e a leitura traz uma escrita ágil e um enredo que prende, o que me fez lê-lo em menos de vinte e quatro horas. Esse foi o primeiro livro da trilogia, e a previsão é que os dois restantes sejam lançados ainda em 2018, estando programados inicialmente para julho, o livro intitulado de Baía dos suspiros, e novembro, o terceiro e último intitulado de a ilha de vidro.
Recomendo Estrelas da sorte para os amantes de fantasias instigantes e de tramas deliciosas, ou ainda para aqueles que querem embarcar em algo escrito por Nora Roberts, pois aqui ela está em sua melhor forma, aliando elementos típicos de suas obras à coisas novas, e consegue nos causar uma imensidão de sentimentos e ao final nos deixa com um sentimento de "preciso do resto dessa trilogia para ontem!".
**Resenha postada originalmente no blog Galáxia de Ideias"**
site: http://www.galaxiadeideias.com/2018/03/resenha-estrelas-da-sorte-por-nora.html