Maria - Blog Pétalas de Liberdade 28/03/2019Resenha para o blog Pétalas de Liberdade"Devoção" é dividido em três partes. Na primeira, a autora relata uma de suas viagens à França e todos os elementos que foram servindo de inspiração para que ela escrevesse a segunda parte, que é um conto que dá nome à obra, e a terceira parte nos traz mais um pouco sobre a viagem e as reflexões da autora sobre o ato de escrever.
"Meu editor francês organizou uma semana de eventos literários que incluem conversas com jornalistas sobre escrita. Meu caderno permanece intocado. Uma escritora que não escreve preparando-se para ir falar com jornalistas sobre escrita. Que sabichona, eu me repreendo." (página 16)
Só pela sinopse, eu acreditava que Patti Smith falaria sobre o que lhe inspira e sobre sua rotina como escritora, mas ela faz algo além disso: ela nos mostra, nos deixa perceber, através do relato de sua viagem, como tudo foi servindo de inspiração para que uma história surgisse dentro dela. É impressionante como um filme que assistiu, um livro que estava lendo, uma apresentação de patinação que viu por acaso na TV, a observação das pessoas ao redor, as amoras que comeu antes de viajar, foram servindo de base para a trama do conto, e é delicioso ir encontrando essas referências ao longo da leitura de "Devoção".
"Todos tinham medo naquele tempo, mesmo depois do fim da guerra, mas eu era só uma criança sem medo de nada." (página 58)
Falando especificamente do conto, ele é protagonizado por uma garota que foi mandada pelos pais para viver com a tia em outro país por causa da guerra. Ela era apaixonada pela patinação e conheceria uma homem mais velho que prometeria ajudá-la a poder patinar sempre, não só nos meses em que o lago perto de casa estava congelado. Mas essa história, que conta com algumas cenas chocantes, teria um desenrolar angustiante e um desfecho trágico.
"- Eu não cheguei a conhecer meus pais. Eles foram deportados da Estônia na primavera, para um campo de trabalho na Sibéria.
- Por que motivo?
- Não é necessário haver um motivo para tratar as pessoas como gado." (página 79)
Acredito que seja uma daquelas narrativas que possa ter mais de uma interpretação, e a minha é a de uma história sobre a perda da inocência, os defeitos humanos, o afastamento do que mais se ama, sobre a solidão, a falta de uma família e de um país.
"E me ocorre que os jovens quando dormem parecem lindos, e os velhos, como eu, parecem mortos." (página 34)
Alguém aí já reviu um filme ou leu um livro e percebeu que a história não era exatamente como lembrava? Que parece que a nossa mente vai modificando nossa memória, e algumas lembranças não são tão precisas, algumas vezes até acrescentando coisas? Isso já aconteceu comigo, e é algo que a autora também comenta, uma das curiosidades da mente humana.
"Devoção" foi o meu primeiro contato com a escrita da autora e foi uma leitura que gostei muito, um livro que li em uma tarde mas que me acrescentou muito e me fez ficar encantada com a escrita maravilhosa da autora, me deixando empolgada para ler "Só garotos", outro livro que tenho da Patti Smith (que também é uma cantora sensacional, se ainda não ouviu nenhuma de suas músicas, está perdendo tempo!).
A edição tem um tamanho de bolso, com uma capa com itens que tem a ver com a história, páginas amareladas, boa revisão, algumas fotografias e diagramação com letras, margens e espaçamento de bom tamanho.
E essa foi minha experiência de leitura com "Devoção", uma leitura rápida mas muito marcante e inspiradora, que recomendo com certeza, especialmente para quem tem vontade de ser escrever.
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