Matheus Nunes 09/07/2023
Nix é uma estreia capaz e pretensiosa.
Nix começa bem, se desenvolve de uma maneira assustadora para o primeiro livro do autor Nathan Hill. O numero de paginas também impressiona, para mim chega a ser inevitável a comparação com a escritora Donna Dartt, tanto no numero de paginas de seus respectivos livros, como pelas sinopses que realmente atraem os leitores, e também pela enorme pretensiosidade deles, coisa em que ambos raramente atingem o alvo.
Cerca de 98% desse livro é muito bem escrito, o autor de fato passeia pelas tramas que ele vai desenvolvendo com muita maestria e cuidado, é difícil acreditar que ele vá perder o rumo no qual ele estava guiando os personagens até aqui. A enorme trama familiar do protagonista Samuel, toda a busca por quem foi embora, a perspectiva de quem fica... o pesadíssimo desfecho da historia do Bishop (assim como toda a sua historia), o capitulo sobre a juventude da Faye... as lembranças do Frank no asilo em meio a demência (o capitulo mais belo desse livro)... tudo vai muito bem até chegar na parte final do historia.
O autor resolve preencher todas as lacunas contando com a técnica (se é que posso chamar assim) mais usual e comum de todas: o Deus Ex Machina, ou como se fosse o Dickens de A Casa Soturna (de quem o autor é aparentemente um grande fã vide o nome do editor do Samuel, e do próprio Samuel, uma referencia a Samuel Pickwick), todo o proposito e beleza do livro se perdem em meio as soluções grotescas que foram escolhidas para dar um fim a narrativa.
Historias que já eram tidas como resolvidas como a da Bethany Fall voltam para serem remexidas, o Juiz Charlie Brown e toda a sua perseguição odiosa que pareceram ser tão importantes são deixadas de lado ganhando uma promoção como recompensa, e o editor patético que era até tolerável porque não aparecia tanto se revela o personagem chave que liga toda trama da historia, tanto no passado quanto no presente. E eu nem vou mencionar aqui a coitada da Alice, que tem um capitulo de apresentação belíssimo e nunca mais retorna. A coincidência reina aqui, é fácil, é rápido, e dá uma aparente impressão de que a historia foi sim muito bem pensada nos 10 longos anos que o autor demorou para escrever este livro e que faz questão de revelar nos agradecimentos finais.
É um livro que apesar de tudo isso ainda sim é uma excelente estreia literária, o autor chega mostrando um potencial absurdo como poucos atualmente são capazes de fazer, mas por outro lado revela também uma fraqueza enorme em não saber como amarrar bem uma trama e entregar ela ao final com o mesmo folego (ou até mais) com o qual começou. Longe de ser perfeito, Nix se mostra uma obra regular.