anapachecoeumsm 30/03/2022
Brás; a borboleta preta
Das coisas tristes que se sucedem nesse livro; a constância dos dias cortados, a sutileza nas coisas abrupta, o cotidiano dramático, apático, a vida como qualquer coisa, a vida de Brás nos vem, como muitas outras perspectivas, como a borboleta do capítulo A Borboleta Preta, XXXI (pg.130). E apenas isso.
Não tenho embasamento cultural, político ou histórico o suficiente pra debater ou me debruçar sobre essa obra, mas posso dizer que ela me toca ainda mais sensível que da primeira leitura; em primeiro plano porque a edição da Antofagica é surrealmente" superior as outras e, em segundo, porque li como leitura de ensino médio e a mente de hoje é de longe mais madura que a da época.
Choro horrores com o conteúdo por ser real e cru em sua dificuldade. Acho, sim, que há falta de didática em impor uma leitura densa e profunda pra adolescentes, mas acho também que o livro faz parte de uma daquelas "obrigatoriedades" da vida, uma bagagem cultural excelente, que assimilamos mesmo sem perceber, como quem escova os dentes ou respira.
E sem o embasamento suficiente, mas com amor em demasia eu digo que esse é um dos meus livros favoritos de todos, se não o favorito, além de uma das melhores obras de todo o mundo. Machado faz com maestria o que autores passam anos tentando. Nós, leitores, nos vemos como o protagonista (ou seria uma parte de Machado?) a encarar esse cadáver de borboleta com alguma simpatia e apego, talvez até por identificação, já que a vida dele permeia, em algum modo ou ideia, a vida de todos nós.
Brás, na ironia paradoxal das suas negativas, nos deixa um legado em nossa plena miséria do dia a dia; sua vida e a consciência que ela elucida.