Alexia Santos 09/10/2023Diferente dos demais livros da autora.Os 13 livros anteriores da Marian (lançados no Brasil) seguiam por um único caminho: Mulheres sofrendo, aguentando tudo sem ter culpa de nada e superando todos os obstáculos para ficarem com os caras mais gatos e improváveis da trama... Isso nunca foi algo ruim, até porque eu amo a Marian, ela sabe contar sobre o cotidiano como ninguém, seus livros (por maiores que sejam) nos prendem de um jeito surpreendente, não queremos parar de ler e com este não é diferente.
Eu acabei pulando este livro e lendo a história seguinte, Adultos, nela eu havia percebido que a forma de escrita da autora mudou e o jeito dela trabalhar o cotidiano ficou mais maduro, mas me enganei. Quando li, Dando um tempo, ficou nítido que a mudança ocorreu neste livro.
Aqui a protagonista (Amy) não é a coitadinha da história, pelo contrário, ela é a "CULPADA".
Amy tinha un casamento feliz, três filhas maravilhosas e um marido ótimo, mas é aquele lance né, só nos damos conta dessas coisas quando perdemos.
Durante o casamento ela começou a flertar com Josh, Amy sente uma grande atração pelo cara e sente uma culpa terrível, mas sejamos justos, emocionante falando ela traiu sim o marido, mas não houve nada físico, ela teve o bom senso de terminar tudo antes que as coisas piorassem.
Depois da morte do sogro e de um amigo do cônjuge dela, ela vê Hugh cada cada vez mais distante e em depressão, até o dia que ele decide "dar um tempo" na relação, ele viaja e ela fica para trás com três filhas, uma adulta e duas adolescentes. Ela sofre, obviamente, e em determinado momento Amy reencontra Josh e ela decide levar o caso adiante, vc pode se pensar que está tudo certo, afinal, o marido deu um tempo na relação, mas Josh é casado!
Amy já foi traída antes e ela sabe a dor que é, ela está sofrendo porque o marido está com outras atualmente e mesmo assim ela impõe essa dor na esposa de Josh.
Vale ressaltar que Márcia (esposa de Josh) não sabe de nada, quer dizer, Josh insinua que o casamento está uma merda e que a mulher dele também tem casos e por isso está tudo "bem".
Mesmo assim Amy se sente um lixo, mas, não consegue terminar com ele.
No fim o marido volta, ela conta sobre Josh, termina com Hugh e continua saindo com o amante, com o tempo a dor vai aumentando e Amy termina o caso (ela só queria farra e o emocionado do Josh quer se separar da Márcia para ter algo sério com Amy, mas os dois sabem que no fundo isso é uma furada e que não daria certo, logo eles se separariam pois Amy só se sente seguro, compreendida e de fato amada, quando está com Hugh) e volta por definitivo para o ex-marido.
Esse livro é um baque! Ele trata sobre relacionamentos, principalmente os atuais, de forma tão real que você entende o lado da Amy. Não é defendendo ela, apesar da traição emocional ela não se relacionou fisicamente com Josh durante o casamento, mas vc sente raiva dela, percebe-se que a ruína da relação dela com Hugh começou por culpa dela! Hugh notava a diferença no comportamento da esposa e mesmo assim não falava nada, sofreu calado durante os três meses do flerte.
Amy, sabe que a culpa é dela, ela conversa com Hugh sobre isso, ela flertava porque o casamento entrou no modo rotina e já não se sentia mais desejada (apesar de Hugh demonstrar interesse) mas mesmo entendendo todo o contexto do ocorrido ela não sabia do porquê ter feito aquilo e pior, ela não sabia do porquê manter uma relação com Josh, ela gostava da adrenalina, gostava de se sentir desejada mas os riscos, a dor e a humilhação não valiam a pena, e ela sempre pensava na tortura que seria para a outra mulher quando descobrisse tudo.
É um livro bem complexo, bem diferente dos anteriores, a mocinha é a culpada e não coitadinha, Amy é MUITO bem trabalhada (apesar do marido não ser muito bem desenvolvido assim), é ótima dentro da profissão dela, também se destaca e muito como uma ótima mãe e sempre guarda comentários que, apesar de verdadeiros, podem machucar os outros, ela engole alguns desaforos e sempre mantém a compostura,. Por mais que sintamos raiva dela durante a narrativa também passamos a entender que tudo é complexo, que tudo é sobre escolhas e consequências e que mesmo que uma pessoa tenha sido traída no passado isso não significa que ela mesma não possa vir a trair no futuro, o luto desse processo é tão longo e doloroso, é uma escolha tão idiota porque todos ao redor sofrem, não só o cônjuge traído mas os amigos, os familiares e principalmente os filhos.
A narrativa dos sentimentos é tão real que você se pergunta se a Marian não está escrevendo uma autobiografia, é dilacerante ler aos monólogos da Amy sobre o luto pós separação.
É um livro bom, eu sinceramente recomendo a leitura... Marian sabe escrever boas histórias sobre temas atuais e com uma pitada de humor ácido.
Temas abordados: Traição, abandono paternal e aborto, ataques de ódio em redes sociais e Alzheimer.
PS: Sim, não gostei da Amy e sim, gostei que ela sofreu muito emocionalmente.
Me ligava e desligava dela ao passar das páginas, minha opinião sobre ela ainda é muito conflitante, para ser sincera queria que ela terminasse sozinha ou com o Alastair, visto que ele é mais mente aberta e liberal, só que ao mesmo tempo já não queria que ela ficasse com ele, Alastair tem um senso de lealdade e fidelidade genuína, não sei... Talvez ficar com um personagem novo?
É difícil se decidir sobre o final da Amy porque é exatamente isso que acontece na vida real, é um misto de incertezas, inseguranças e uma sensação de que não está certo, no fim só a opinião e o perdão mútuo entre o casal é o que vale, se para eles é uma página virada, um erro que ficou no passado e que estão prontos e decididos a melhorar e não cometer os mesmos atos infames novamente é o que importa.
O livro trata muito bem sobre esse dilema e mais uma observação: A única personagem de fato bem trabalhada é a Amy, os demais são apenas suportes para suas ações e consequências, mesmo Josh e Hugh não são bem desenvolvidos na trama, mas a história, assim como todas as outras da autora, não deixa pontas soltas.