Aione 11/01/2019A Grande Solidão, mais recente lançamento de Kristin Hannah, foi eleito pelo Goodreads Choice Awards como melhor livro de ficção histórica de 2018. E não é para menos: com esmero, a autora não apenas recria um cenário cativante e extremamente bem desenvolvido como também — e principalmente — personagens complexas, cujas vivências entregam um romance de sensibilidade ímpar.
A Guerra do Vietnã causou profundas transformações em Ernt Allbright, que decide se mudar com a família para o Alasca em busca de um recomeço. Embora os primeiros meses demonstrem que a escolha parece ter sido acertada, é durante o rigoroso inverno que Ernt tem sua essência revelada — e com ela, os perigos para sua esposa, Cora, e a filha, Leni, passam a ser muito mais aqueles encontrados dentro de casa do que na natureza selvagem que os cerca.
Passei muito tempo apenas encarando a tela do computador sem saber o que falar desse livro ou da escrita de Kristin Hannah que eu já não tenha dito sobre suas obras anteriores. Mais uma vez, a autora nos presenteia com uma história tão emocionante quanto bem construída, na qual a grande solidão do título não remete apenas ao cenário onde tudo se desenvolve, mas também à sensação de solidão inerente às nossas vivências; não importa o que vivamos ou com quem vivemos, absolutamente cada experiência é única e própria de quem as vive.
No caso de A Grande Solidão, a história é desenvolvida por uma narrativa onisciente e seletiva em terceira pessoa, que segue principalmente a perspectiva de Leni. Como a trama se desenvolve em três partes diferentes, acompanhamos diferentes fases da vida da protagonista, desde o início da adolescência até já a fase adulta. Com isso, temos a personagem buscando compreender, em diferentes momentos da vida, não apenas quem ela é, mas principalmente as pessoas que a cercam. A relação entre seus pais sempre foi complicada e apresentou a ela uma ideia conturbada sobre o amor. Com o passar do tempo, Leni continua tentando entender o sentimento, sua maneira de senti-lo e a forma de como ela o recebe.
Não bastasse a sensibilidade de Kristin Hannah para retratar as complicações das relações humanas e as dificuldades em se lidar com nossos próprios sentimentos — muitas vezes controversos e antagônicos entre si —, a autora estabelece com maestria um paralelo entre personagens e cenário. O Alasca não está presente apenas como pano de fundo, mas é por si uma força extremamente presente e conectada aos acontecimentos e personagens. É quase possível visualizar os locais mencionados, bem como experimentar as sensações que eles oferecem, tamanha a capacidade de descrição da autora.
Em linhas gerais, A Grande Solidão é mais uma obra incrível de Kristin Hannah. Assim como em seus outros livros, a temática da maternidade se faz presente e, aqui, se alia também a dos relacionamentos abusivos e violência doméstica. O fato desse ser um romance histórico possibilita, ainda, a visão das dificuldades legais enfrentadas pelas vítimas desses casos na época em que a história se passa, demonstrando a origem das barreiras ainda sentidas em dias atuais em situações semelhantes. Porém, não apenas pelos temas retratados, o livro se destaca por sua construção geral — de narrativa a personagens e cenas. Essa é mais uma daquelas leituras emocionantes e que nos toca de forma tão única quanto nossas experiências podem ser, e de forma tão intensa quanto a imersão em um cenário tão selvagem pode proporcionar.
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