@livrodegaia 05/11/2011
"Ler, Viver e Amar em Los Angeles" de Jennifer Kaufman e Karen Mack - Editora Casa da Palavra.
Topei com essa comédia romântica enquanto fazia a compra de outro livro. Apesar do título de autoajuda pouco convidativo (nada contra, mas estava terminando um do gênero), foi a capa colorida que me chamou a atenção (não é essa com a garota na banheira, a outra). Como ainda tinha (tenho) uma longa lista de livros pendentes para adquirir, não achei legal furar a fila e me deixar levar por uma capa. Não tinha como ler a sinopse. O livro estava no plástico. Não comprei. Ok, mas como eu sempre furo a minha fila literária (rsrsrs), cheguei a casa e procurei referências sobre ele Skoob. Alguns adorando e outros nem tanto, mas o enredo me conquistou: paixão por livros, porres literários, idas à livraria, enfim, rolou uma identificação. Voltei e comprei!
Para os amantes da leitura, “Ler, viver e amar” ou “Ler, viver e amar em Los Angeles” (título original) é bastante agradável. Um chick lit leve, recheado de belíssimos trechos de obras consagradas, cita diversos autores e é narrado por Dora, uma bookaholic!
De início, a narrativa é um tanto quanto cansativa, confesso. As autoras fazem muito uso de flashbacks e até o leitor se acostumar, a história segue num ritmo lento, quase arrastado. A protagonista recua constantemente no tempo para relatar momentos marcantes do seu passado, e tais eventos são extremamente esclarecedores quanto ao seu presente. Mas vale muito à pena perseverar na leitura. Em determinado ponto, o enredo ganha corpo e o rumo dos acontecimentos é cativante. Só senti falta de mais diálogos carregados de ironia a la Marian Keyes e Helen Fielding, mas isso não tornou a história desinteressante.
Dora é uma mulher de trinta e poucos anos, divorciada (duas vezes), desempregada - mas que vive da generosa herança deixada por seu pai - e com problemas familiares pouco aparentes, porém enraizados. Dona de uma autoestima baixa, ela sempre se vê diante da pressão social que a obriga a ter (ou parecer ter) uma vida perfeita. Em meio ao caos amoroso, profissional e familiar, nossa querida Dora busca refúgio no mundo fictício.
Confortável em sua banheira e cercada por livros escolhidos a dedo, Dora se desconecta da realidade regada a muito vinho tinto (delícia!). Deprimida, triste, perdida e sem muitas perspectivas, ela se joga num porre literário que pode durar vários dias. Sim senhor, uma bibliômana de carteirinha!
Bem, todos têm um meio de fuga para se esconder dos problemas da vida e o da Dora é a leitura. Ocorre que, existe uma linha tênue entre um vício gostoso e um vício preocupante, se é que vocês me entendem. No decorrer da história, a personagem se conscientiza de seus excessos alarmantes. A meu ver, um ponto importante para reflexão.
Amigos leitores, eis a passagem mais encantadora e famosa desse livro: “Eu coleciono livros da mesma forma que minhas amigas colecionam bolsas de grife. Às vezes, só gosto de saber que os tenho e lê-los de fato não vem ao caso. Não que eu não termine lendo-os todos, um por um. Eu os leio. Mas o mero ato de comprá-los me deixa alegre – o mundo é mais promissor, mais satisfatório. É difícil explicar, mas eu me sinto, de alguma forma, mais otimista. A totalidade do ato simplesmente me faz feliz.” Digna de ser memorizada, certo?
A relação de amor/dependência que a personagem mantém com o mundo literário é descrita de forma simples, por vezes engraçada (hilária a parte em que Dora e Palmer classificam os leitores), mas acima de tudo, é descrita de forma extremamente honesta. Se você também é uma leitora (o) voraz, certamente irá se identificar com diversas passagens. Particularmente, por várias vezes me peguei gritando mentalmente: Ei, eu também sinto isso!! rs!
Existem vários, mas dois trechos retratam bem meu sentimento a respeito do tema:
“Determinadas passagens continuam repercutindo em minha cabeça muito tempo depois que já fechei o livro, e muitas vezes mal consigo esperar para voltar à história, como se fosse um amante secreto.”
“Os livros ensinam a você como outras pessoas pensam, o que estão sentindo e como se transformam de seres comuns em seres extraordinários. Muitas vezes elas são tão atraentes e inteligentes que você prefere passar o tempo lendo sobre elas a fazer qualquer outra coisa. E, diferentemente da vida, se não gostar do que está lendo, você pode fechar o livro com força e depois... paz. Aquela voz amistosa e persuasiva fica emudecida até que você decida abrir o livro novamente.”
Recomendo a leitura principalmente aos bookaholics de plantão. Esse livro foi escrito para a gente!!