Thalissa.Betineli 16/09/2019
Uma luz na escuridão.
Por onde começar... Complicado falar sobre Minhas três primaveras sem dar nenhum spoiler, mas vou tentar.
Primeiro, parabéns pela obra incrível, por me levar a angústia, ao desespero e a todos os sentimentos em um só livro.
Vamos por partes.
Minhas Três Primaveras é para quem tem estômago, isso é fato. Não digo só pela violência, mas pelo psicológico, é um salto em um abismo escuro dentro da cabeça de uma mulher vitima da sociedade e da violência doméstica. Sim, da sociedade calada, que observa as agressões e não faz nada, e foi com tamanha maestria que a Renata escreveu sobre isso, que chega a chocar. E nos fazer chorar pela tristeza que existe mundo afora, porque ela existe!
Tive receio de começar a ler o livro, mas tanto a sinopse direta e sem floreios como por todos os elogios de autoras que eu gosto muito me convenceram a dar essa oportunidade.
Também tive receio, pois eu sabia que essa história iria me emocionar, visto que tenho pessoas próximas a mim que já passaram por violência doméstica e hoje tenho orgulho de dizer que são pessoas fortes, que sobreviveram e possuem um sorriso único.
Então entrei preparada para me emocionar, me chocar, me desesperar e tentar buscar esperanças onde não havia... Mas nada, absolutamente me preparara... Posso dizer que o final do livro me deixou com a mesma sensação de quando eu li O outro lado da meia-noite do autor Sidney Sheldon.
Como disse, vamos por partes.
Enrico. Que personagem tão bem construído, desde sua história até o ponto de vista dele. É difícil, muito difícil julgá-lo por si só, quando a sua criação tem tanto a dizer sobre como sua mente foi adestrada a pensar daquela maneira. Ensinamento do pai, de família, que vemos até hoje sim em algumas famílias. Odiei Enrico do início ao fim, não senti compaixão, pena ou qualquer sentimento que não fosse raiva. Raiva da brutalidade, da forma animal ou dos seus pensamentos, e por isso parabenizo a autora novamente. Criar personagem que nos causa essa emoção profunda mesma, que nos faz querer entrar no livro e lutar é difícil.
Cora, a mãe de Luz também não foi uma personagem fácil, uma mulher com ensinamentos velhos e reais, e Sabrina me deixou com um misto de emoções, pois não poderíamos julgá-la quando ela não sabia nem um terço da história. Por fim, personagens reais, com suas falhas, com seus amores e dores. E com perdão também, pois no fim, não consegui sentir raiva delas.
O livro não enrola, não demora, ele é cru, direto e tanta história forte aconteceu que eu pensava... nossa, devo estar no final. E o que foi minha surpresa quando vi que estava nos 30% do livro? Na hora pensei... "Meu Deus, se aconteceu tudo isso até agora, o que mais me aguarda?" E sim, muito mais me aguardava, muito mais do que eu imaginava, e confesso que me surpreendi e sofri ainda mais dos 50% do livro adiante. Meu coração não estava nem preparado.
Leôncio foi de longe uma confusão de emoções. Gostei, mas com o pé atrás, desejei que fosse bom, mas temendo. Sem dar spoiler, apenas posso dizer que foi um banho de água fria, sofri com as revelações, com a dor, com o sofrimento.. Eu simplesmente não esperava.
Mas como disse, ainda não estava nem perto do que estava por vir... Junto com o pescador e o que eu sentiria por ele. Um príncipe? Talvez, no meio das falhas imensas, cruéis e que por fim, também o tornava humano... afinal, todos podem errar, não podem?
Sebastien foi um personagem que me deixou sem palavras, não consegui encontrar formas de entender os meus sentimentos por ele, pois em meados do livro, desejava que fosse como eu queria,mas quando levei um tapa na cara, eu já pensava com mais clareza... Até novamente desejar que no meio da escuridão houvesse Luz... Que trocadilho interessante, e que resume tão bem esse livro.
Queria poder dizer mais, bem mais sobre Sebastien, que flutuará ainda por bastante tempo nos meus pensamentos, mas corro o risco de contar spoiler, e não quero estragar a história. Uma história que merece ser lida!
Então vamos para a personagem que deixei para falar por último, e que significa mais do que uma protagonista, significa a voz das mulheres. A Luz na escuridão.
Luz, para mim é sinônimo de força, de garra, de coragem, de luta, de não se silenciar. De ter voz.
Ela nos é apresentada como uma menina tão frágil, tão doce, tão sonhadora, e que tão rápido e abruptamente passa por uma violência que nos deixa agoniados e sentindo seus medos, suas dores e desesperos junto com ela. Era uma angústia tão sufocante que eu queria entrar no livro para libertá-la. Eu via a cena, eu imaginava cada marca, cada som, cada silêncio sufocante. E cada grito.
E na força, na coragem e na esperança que me fazia admirá-la, ela buscava viver, no entanto, como o mundo é injusto. Como há pessoas maldosas, instáveis e insanas.Como o mal é assustadoramente presente. Como dizia Anne Rice," o mal é sempre possível. E a bondade é eternamente difícil..“
Sofri tanto com Luz, pois desejava esperançosamente que suas escolhas a fizessem feliz, que houvesse uma chance de algo bom acontecer a cada vez que ela decidia algo.
Como falar dos momentos finais do livro sem dar spoiler? Como não chorar, não se emocionar por um final que eu lutei tanto para não imaginar, mas que eu sabia que era possível e real?
Confesso que ao acabar o livro eu ri, ri para não chorar tristemente sobre a vida e todas as lutas pessoais travadas dentro de casas e mulheres que podem estar acontecendo nesse exato momento.
Eu tinha medo de passar cada página, eu tive medo de ler cada linha final, principalmente depois da reviravolta final do livro. As esperanças eram tão grandes para acabarem daquele jeito, que eu apenas lia, lia, e lia buscando o final para que ele me consolasse, para que eu pensasse... Está tudo bem.
Mas a vida real nem sempre acaba no tudo bem, e a Renata soube transmitir isso para o livro tão bem, que entendi cada escolha final, cada detalhe e os motivos para tudo acontecer.
Estou devastada, com um nó entalado na garganta por Luz, pelos personagens e por toda a história.
Queria até me prolongar mais do que escrevi, contudo, seria dar spoiler demais. Apenas posso dizer que jamais esquecerei Luz, sua luta e todas as emoções que eu passei com ela, uma montanha-russa com tantos picos em um só capítulo que é impossível descrever.
Novamente, parabéns, você superou as minhas expectativas, me embalou em uma maratona que só consegui parar quando acabei, e me deixou desolada com uma história triste, mas bela da sua maneira de passar a mensagem, e marcante na sua forma excelente ao escrever!