Úrsula

Úrsula Maria Firmina dos Reis...




Resenhas - Úrsula


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Daniel 22/03/2020

O romance de nossa primeira ficcionista negra
Resenha no link abaixo!

site: https://blogliteraturaeeu.blogspot.com/2020/03/ursula-de-maria-firmina-dos-reis.html


Isrrael Reis 19/08/2020

Úrsula, a mulher que chora do começo ao fim.
A mulher chora tanto que dá pra encher o Rio Jaguaribe todinho só com as lagrimas dela e do amante dela.

O livro apesar de ter muitas palavras que nem sabiam que existiam (por causa do modelo de escrita da época) não foi uma pedra no meu caminho já que li no kindle. E, cara, a bicha chora do começo ao fim. Tem hora que dá vontade de entrar na história e falar: "bicha, se acalme, se quizer fazer show aluga um palco". Os pontos fortes do livro: já que estamos falando do século em que negros era escravizados, temos aqui personagens negros com voz, só que a passagem é rápidinha vaptivupt.

Aaaaaah o que falar desse final que você fica o próprio meme da Nazaré Tedesco.
Ananias 19/08/2020minha estante
Lkkk adorei seus comentários




Letícia Reis 02/08/2020

Uma leitura ESSENCIAL.
Há muito tempo não devorava um livro com tanta rapidez como esse aqui. No início pensei que não iria rolar, mas poucas páginas depois a leitura fluiu muito.
Simplesmente por ser considerado por muitos historiadores e especialistas em literatura a materialização de três marcos históricos (primeiro romance escrito por uma mulher brasileira, primeiro romance escrito por uma mulher negra no Brasil e primeiro romance abolicionista da nossa literatura), essa história já deveria ser lida e estar em todos os currículos e bibliotecas deste país!
Apesar da história principal, escrita em estilo romântico, ser a do romance entre um casal de brancos de famílias escravagistas, Úrsula e Tancredo, são as histórias paralelas que roubam a cena. Nenhum personagem é tão forte na narrativa quanto a Mãe Susana e, pra mim, o livro começou mesmo no capítulo dedicado á ela. Inclusive acho que ela merecia um livro todo sobre ela. Pelo menos, eu gostaria muito de ler.
Não dá para ler esse romance sem pensar o tanto que a perspectiva de quem escreve determina o conteúdo e a estrutura de uma história. Principalmente quando comparamos o modo como autora coloca as trajetórias dos personagens femininos e negros nesta obra á outras escritas no mesmo período.
Jean 02/08/2020minha estante
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Anelym.Anjos 08/08/2022

Aí está a importância de se resgatar obras de autoras
É provável que eu nunca tivesse contato com Úrsula, ou até mesmo com a Maria Firmina dos Reis se não fosse pela proposta de uma ptofessorA na faculdade. Veja, aí está a importância de se resgatar obras de mulheres. Elas costumam escancarar algumas coisas que nem os mais reconhecidos dentro da literatura seriam capazes de fazer somente com às suas metáforas e ironias.
Não há em mim a intenção de dar qualquer spoiler sobre o livro. Mas se minha opinião vale de algo para alguém, leia a obra, mas leia o subtexto, o que está sendo dito com todas as palavras, mas não está no enredo principal.

Por fim, é um deleite. Bem escrito, fluído, não há encheção de linguiça e ambas as histórias, que se cruzam de alguma forma, são muito boas de serem lidas.

(Confesso que muito me dói o destino de todos os bonzinhos...)
Danny109 15/08/2022minha estante
Acho q é o contrário, a escrita dela é muito boa no sentido de ser muito tocante e poética porém ela enrola demais e acaba não explicando o contexto das cenas (e fora q chega uma hora q ela simplemente viaja demais e não volta)




Gabi 11/07/2021

Leiam "Úrsula" de Maria Firmina dos Reis!
Primeiro quero dizer que recomendo bastante a leitura do livro. Primeiro porque se trata de uma autora mulher escrevendo num contexto em que mulheres não só não eram publicadas como não eram consideradas capazes de escrever (vide o comentário da própria autora se justificando antes da história começar). Segundo, porque se trata de uma obra que faz da liberdade uma temática recorrente ao longo da narrativa.
Maria Firmina fala sobre a incoerência da manter pessoas escravizadas ainda no século XIX. Talvez ainda por uma lógica conservadora, recorrendo a argumentos e estratégias religiosas como, por exemplo, a tentativa de redenção de Fernando através da religião no final do livro, mas ainda assim, denunciando as condições de desumanização que negros e negras vivenciavam em escravidão.
***
Pra mim, uma das passagens mais significativas e preciosas do livro não está ancorada no enredo principal (o romance branco, que tem seus "problemas de época"), mas a narrativa de Susana - uma mulher idosa ainda em situação de escravidão - quando, falando sobre a compra da alforria, Susana narra a sua compreensão de liberdade a partir de suas lembranças e história pessoal, anterior ao sequestro em África.
Não apenas por essa, mas em especial por ela, deixo minha opinião: leiam "Úrsula" de Maria Firmina dos Reis!
Taiane.Anhanha 11/07/2021minha estante
??????




Lorena 05/09/2021

Uma história por trás da história
Exatamente. O romance daquela que talvez seja a primeira romancista abolicionista do Brasil, 'Úrsula' - da maranhense filha de escrava liberta - conta uma história de amor entre um casal de brancos ao passo que, na verdade, conta a história Túlio e Susana, dois escravos. E assim o faz.
O segredo desta leitura é justamente se ater às falas e pensamentos desses dois personagens.
Kah Morais 05/09/2021minha estante
Que complexo, amei!!!




Shato 23/04/2023

O livro é muito divertido e gostoso de se ler e eu recomendo muito. Maria Firmina dos Reis é uma escritora que foi muito subestimada e deixada de lado, apesar de ter escrito romances de extrema importância para a causa antirracista e abolicionista no Brasil. Com falas magníficas contadas pelas próprias personagens, esse livro torna-se mais denso e profundo.
Bel 12/07/2023minha estante
"Gostoso de ler" meu cu




Vania.Cristina 13/06/2023

As camadas importantes estão nos personagens secundários
Que boa surpresa esse livro! Achava que ia ser uma leitura cansativa (tenho um certo preconceito com o Romantismo brasileiro) mas fluiu muito bem. Tem que ter paciência com os amores instantâneos e o tom exagerado da fala dos personagens, mas as várias camadas do livro compensam, e muito. A edição da Antofágica está uma delícia de ler, com diagramação generosa, papel macio, notas que esclarecem rapidamente palavras difíceis, textos de apoio que, embora repetitivos, são de leitura fácil e fundamentais para compreensão da dimensão da obra. E gostei das ilustrações, que costumam ser polêmicas nas edições da Antofágica. Pra mim, os desenhos de Heloisa Hariadne, embora não sejam descritivos e "belos", dialogam com a obra, acrescentando novas camadas e parecem colocados de forma a contribuir com o ritmo do livro. E que livro! Reparem bem na construção dos personagens secundários, porque é neles que estão as camadas mais críticas e importantes: As mães brancas vítimas do patriarcado, a velha negra de alma livre raptada na África, o jovem negro que nasceu escravo e mesmo alforriado permanece servil. Maria Firmina trabalha com importantes inversões pra época em que o livro foi escrito: a nação idealizada não é o Brasil mas uma África unificada; é impossível encontrar a felicidade individual ou a liberdade enquanto existirem homens escravizados; bárbaro não é o povo negro mas o europeu escravocrata. Vale sempre lembrar que a escritora era negra e de classe média baixa, e que escreveu esse livro em 1859, antes do movimento abolicionista, ou seja, de forma transgressora. E também é importante dizer que ela foi apagada da história e que, por acaso, foi redescoberta. O patriarcado brasileiro branco achou possível embranquecer Machado de Assis, mas preferiu esquecer Maria Firmina porque seu gênero não era possível mudar.
Carla.Floores 13/06/2023minha estante
Que resenha primorosa!




Polly 28/07/2022

Úrsula: diferente do que eu esperava (#175)
Preciso dizer que Úrsula não me conquistou, e me deixou com a impressão de que não era exatamente essa história que a autora queria nos contar. Escolhi ler Úrsula por sua importância histórica. Maria Firmina dos Reis é a primeira escritora negra do país e Úrsula o primeiro romance abolicionista do Brasil. É inegável que esse livro tem uma importância inestimável para a nossa literatura e nossa cultura.

No entanto, enquanto lia a história da frágil protagonista, minha impressão era que a Maria Firmina dos Reis idealizou a história dessa personagem para contar nas entrelinhas as histórias das pessoas escravizadas da trama. Pelo menos, foram as trajetórias de Túlio e Suzana que me fizeram ler as páginas com voracidade e não a de Úrsula. As histórias de Túlio e Suzana me pareciam ter muito mais importância, muito mais sentimento. A verdade é que eu queria que a Maria Firmina dos Reis me contasse bem mais sobre eles.

Sei que é provável que contar mais uma história trágica e romântica tenha sido a maneira encontrada pela autora de falar sobre o que realmente importava para ela, mas a protagonista que dá nome ao livro não tem nada de muito especial. O bucolismo também me afastou um pouco da narrativa e, embora eu ame tragédias, Úrsula, a personagem, não ganhou meu coração.

A leitura vale por seu pioneirismo e historicidade. É preciso celebrar mulheres e o feito de Maria Firmina dos Reis foi importantíssimo para as que vieram depois, mas fico com a impressão de que se ela tivesse liberdade de escrita, se não fosse necessário encaixar-se numa escola literária e a obrigação de ter que escrever uma história ~publicável~ para época, a escrita de dos Reis teria sido muito mais engajada. Se ela tivesse tido liberdade, é provável que esse romance se chamasse Túlio ou Suzana.
Vilamarc 28/07/2022minha estante
A história secundária é o foco. As personagens negras se sobrepõem ao romance principal.




Mari Pereira 12/01/2021

O livro tem uma importância histórica e social muito grande e merece ser resgatado e valorizado. O excesso de descrição, típico do romantismo, é um pouco cansativo. O livro ganha mais ritmo na segunda metade e tem um desfecho bastante interessante. A crítica social presente é a maior riqueza da obra, em minha opinião.
Alê | @alexandrejjr 12/01/2021minha estante
Exatamente, Mari! Estilisticamente ele é comum, mas temática e socialmente ele é uma joia perdida que precisa ser descoberta!




Karina.Ribeiro 05/01/2024

Uma obra a frente de seu tempo
Após finalizar a obra de Maria Firmina dos Reis posso afirmar que sua obra além de excelente está muito a frente de seu tempo. Publicado em 1859, é impressionante a forma como a autora retrata as barbaridades da escravidão no Brasil e dá agência (pela primeira vez na história da literatura nacional) aos personagens negros em sua história, tornando-os complexos e cheios de personalidades. Um ótimo livro para refletirmos sobre nosso passado escravocrata e termos esperança que em um futuro não tão distante, possamos ler "Úrsula" e não sentirmos tão vivida as consequências das violencias na qual Maria Firmina denuncia.
AdilsonPtS 09/01/2024minha estante
Excelente resenha! Pretendo lê-lo em breve, já que trata-se de um documento histórico importantíssimo sobre a escravidão no Brasil!




Joyce 05/03/2024

São 3 contos e um tanto de poemas. Eu particularmente gostei bastante, principalmente pelo valor da obra em si. Escrita em um período em que as mulheres tinham pouco acesso a educação e aos estudos, principalmente uma mulher negra. Úrsula é o primeiro romance abolicionista do período e Maria Firmino dos Reis é a primeira escritora negra da história do Brasil. Ela também foi a primeira mulher a se tornar professora na região em que vivia e ainda foi capaz de construir uma escola mista, o que foi algo totalmente revolucionário.
Independente do conteúdo dos contos, só essas observações já são valiosas, porém a narrativa não fica para trás. O final de Ursula foi muito doloroso para mim, mas valeu super a pena.
E a poesia, embora com uma carga religiosa muito forte (típica do período) me encantou. Principalmente os poemas que ela escreveu para outras mulheres.
Dan 06/03/2024minha estante
Li "Úrsula" e amei! Apesar dos erros, dos pontos fracos do estilo, achei forte, sincero. Maria Firmina dos Reis escreve com tudo de si, se entrega ao seu ofício. Fica visível no texto sua força de caráter, suas virtudes. Isso foi o que me ganhou. Irei ler mais obras dessa mulher exemplar e certamente irei reler "Úrsula".




Henrique Fendrich 06/01/2022

Uma preciosidade esse livro, seja pelas improváveis condições para que fosse publicado por uma mulher negra em plena época da escravidão, em 1859, seja pela riqueza de conteúdo e de linguagem que esse mesmo contexto histórico é capaz de oferecer ao leitor contemporâneo.

Em termos de estilo, tem-se um texto romântico e carregado de sentimentalismo, como eram usuais à época, mas mesmo nesse ambiente a autora oferece algo novo, como, em geral, todos os estudiosos destacaram: o fato de dar voz a escravos para que refletissem sobre a sua própria condição, inclusive em uma cena da qual branco nenhum participa.

Trata-se, contudo, de reflexões incidentais, já que a trama principal envolve um par romântico de brancos, vindos de famílias escravagistas, mas que, mesmo assim, destacavam-se pela pureza e nobreza de espírito, o que se refletia inclusive no tratamento que dispensavam aos escravos. Nesse sentido, o "mocinho" Tancredo emite juízos abertamente antiescravagistas.

Além dessa escravidão de fato, o livro tem como tema principal outro tipo, que é a escravidão dos seus desejos e dos seus apetites. Fernando, crudelíssimo proprietário de escravos, era ele próprio escravo dos seus impulsos, deixava-se facilmente dominar por eles e, agindo dessa maneira, matava, perseguia, torturava, fazia o possível para satisfazer a sua cobiça.

Também o pai de Tancredo e a ex-amada Adelaide cederam a caprichos momentâneos e com isso perderam o controle das suas vidas, atraindo sobre si desgraças e sofrimentos. Por outro lado, o escravo Túlio, se bem que tenha levado uma vida de muito sofrimento físico, tinha a consciência de que possuía a liberdade da mente e, com sua atitude, provava ser muito mais digno e valoroso do que aqueles que tinham o poder de subjugar outros seres humanos.

Não que, no fim das contas, isso tenha evitado o terrível desfecho, que, inclusive, parece ter sido estendido a todo mundo (pessoalmente, eu gostei que o desfecho não fosse feliz como talvez seria de esperar de um romance que fosse puramente sentimental). Há, de todo modo, um claro apelo a virtudes e boas condutas que, nitidamente, não contemplam a escravidão.

O livro se mostra atual mesmo em nossa época, pois todos os dias lemos sobre homens que, se bem que possam dispor livremente de seus corpos, estão escravizados à ideia de que não podem ser rejeitados por mulher alguma, sob pena de promoverem verdadeira carnificina. O comportamento de Fernando em relação a Úrsula, assim como o do pai de Tancredo em relação a mãe dele, ainda são comuns e estão por trás de tantos casos de feminicídio.

Em relação à linguagem, especificamente, há aqueles exageros líricos próprios dos livros românticos, mas me chamou bastante a atenção o uso da palavra "transporte" com o sentido de "arroubo", que Maria Firmina usa com muita, muita frequência mesmo: "num transporte de íntima e generosa gratidão", "os virtuosos transportes do seu coração", "correu para ela com indefinível transporte", "no primeiro transporte de alegria", "abraçou-me com transporte", e por aí vai.

Também frequente é o uso de "embalde", forma menos comum para "debalde" (que, contudo, também já está em franco desuso há muito tempo). Um livro escrito há mais de 160 anos certamente terá notáveis diferenças de linguagem e felizmente essa edição da Penguin parece ter mantido grande parte delas, o que torna a leitura igualmente interessante.

Sem dúvida, um livro que deve ser conhecido por todo brasileiro que gosta de ler.
Alê | @alexandrejjr 18/02/2022minha estante
Mais uma formidável análise, Henrique, parabéns! Esse livro era - talvez ainda seja, pra falar a verdade - uma joia perdida da nossa literatura, justamente por tudo que tu apontasse no teu texto e pelos inteligentes paralelos que fizesse com a nossa contemporaneidade.




Raquel 10/08/2019

Maria Firmina, literatura e ousadia
Antes de falar sobre o enredo, é importante dizer que Maria Firmina foi uma mulher ousada. Afrodescendente, livre, letrada, professora que fundou uma escola de classe mista. De origem pobre, podemos dizer que Maria Firmina fez a diferença em seu mundo. Escrever e publicar Úrsula foi um ato de ousadia, uma vez que o espaço literário era restrito para as mulheres. Hoje, com o resgate dessa obra, podemos reverter este injusto quadro de apagamento dela e de outras autoras do século XIX.
Úrsula se mostra uma obra tipicamente Romântica com todos os elementos, porém traz embutido a um enredo comum para a época, críticas ao catolicismo, à escravidão, à condição feminina. A preta Susana é minha personagem preferida, pois, através dela, a história é contada pela ótica de quem viveu e sofreu.
Não gostei muito do relacionamento entre Tancredo e Túlio, apesar de entender as escolhas da escritora e o contexto da época, acho, sim, que Túlio trocou um cativeiro por outro ao seguir Tancredo, numa dívida de gratidão.
É uma leitura extremamente necessária e proveitosa. Recomendo!
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Tinho Silva (@cafecomlivrossp) 09/04/2020

Úrsula - Maria Firmina dos Reis
“Úrsula” foi publicado em 1860, o romance em questão trata-se de uma história de amor trágico. Tancredo saindo de uma decepção amorosa e Úrsula que tem como único apoio na vida a sua mãe, Luiza B., paralitica e muito doente que se segura aos últimos suspiros de vida para não deixar a sua pobre filha desamparada. Úrsula e Tancredo se apaixonam após o rapaz sofrer um acidente que o deixa entre a vida e a morte, e assim eles protagonizam um amor impossível que tem como principal impedimento o tio da moça que após um longo afastamento das mulheres da família, ao ver Úrsula já crescida, se apaixona à primeira vista, ela por sua vez já está enamorada de Tancredo. Fernando, seu tio tenta de tudo para afastar o casal, inclusive se reaproxima da irmã a quem ele não via há muito tempo, ao não conseguir possuir o amor da sobrinha, resolve se vingar daquele que lhe roubou o amor. Combinado a essa história de amor trágico, temos também Túlio e mãe Susana, personagens negros e que possuem papel fundamental na narrativa, Maria Firmina dos Reis deu-lhes voz, permite que ambos reflitam sobre as suas vidas e as injustiças já sofridas, mãe Susana rememora sobre tudo que perdeu ao ser tirada da sua terra e Túlio que se vê obrigado a se separar da sua mãe por causa da escravidão. É uma trama envolvente e tem um final surpreendente e que nos mostra um pouco do estilo literário produzido em meados do século XIX.

A autora já apresenta no prólogo a sua condição social, “...Sei que pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira e de educação acanhada e sem o trato da conversação dos homens ilustrados...”(p. 47), mulher, brasileira vinda da pobreza, fatos esses que no seu entender, não devam influenciar na avaliação da sua escrita, embora ela compreenda e admita que seja ele um livro “mesquinho e humilde”. Com tais afirmações a Maria Firmina dos Reis nos aponta o contexto histórico e social em que a sua obra está sendo publicada, uma época onde escritores, principalmente os que tiveram uma educação considerada a ideal, tinham voz, e aqui ela reivindica o seu lugar, acreditando na força da sua obra.

Falando sobre a obra, à medida que a narrativa vai se desenrolando, percebemos mais nitidamente a construção ideológica de cada personagem. Tancredo é um jovem benevolente que está “fugindo” de um triângulo amoroso entre ele, Adelaide (até então sua noiva) e seu pai. Úrsula, coração igual em benevolência, vive reclusa da sociedade, cuidando da sua mãe doente. Após o acidente, ambos se apaixonam e esse amor cresce à medida que o jovem permanece na casa de Úrsula enquanto se recupera do acontecido. Ambos são personagens que não nos revela uma complexidade psicológica, afora os seus dramas pessoais. Nesse sentido, Maria Firmina dos Reis apela ao amor ultrarromântico para ligar os personagens afetuosamente “o que sinto por vós... é veneração, e à mulher que se venera, rende-se um culto de respeitosa adoração, ama-se sem desejos, e nesse amor não entra a satisfação dos sentidos” (p. 74), afirma Tancredo à Úrsula para justificar os seus sentimentos. Percebemos então, a idealização exagerada da mulher amada, colocando-a muitas vezes como algo inalcançável, inatingível ou algo para ser adorado, com isso fica evidenciado as características da produção literária que marca o período dessa publicação.

Todavia, o que de fato marca essa obra é a postura dos personagens negros no decorrer da obra, trazendo originalidade ao texto. Como exemplo podemos citar o contato inicial entre Túlio e Tancredo logo no primeiro capítulo. Nesse contato, temos o contraste entre os personagens branco e o negro. Túlio ao ver Tancredo caído, se compadece da sua dor e implora aos céus que salve aquele homem:

O homem que assim falava era um pobre rapaz, que ao muito parecia ter vinte e cinco anos, e que na fraca expressão da sua fisionomia deixava adivinhar toda a nobreza de um coração bem formado. O sangue africano refervia-lhes nas veias; o misero ligava-se à odiosa cadeia da escravidão;
Logo em seguida Túlio continua:

...Senhor Deus! Quando calará no peito do homem a tua sublime máxima – ama a teu próximo como a ti mesmo –, e deixará de oprimir com tão repreensível injustiça ao seu semelhante!... Àquele que também era livre no seu país... Àquele que é seu irmão?!. (p. 54).
Aqui percebemos a profundidade com que a autora tratou a questão racial no livro. O discurso antiescravista vai permear toda a sua obra.

Outra passagem que podemos destacar é a narração de mãe Susana acerca da sua vida na África de onde fora tirada, sendo obrigada a deixar para trás sua liberdade, sua terra, sua filha e o seu marido. Relatando também a viagem difícil que fizera até o Brasil nos navios negreiros, ela diz “É horrível lembrar que criaturas humanas tratem a seus semelhantes assim e que não lhes doa a consciência de levá-los à sepultura asfixiados e famintos” (p. 122), para depois afirmar “A dor da perda da pátria, dos entes caros, da liberdade foi sufocada nessa viagem pelo horror constante de tamanhas atrocidades” (p. 123). Por conta dessa consciência e denúncia da maneira como eram tratados os negros, a autora reafirma também a sua Negritude, indo de encontro às injustiças sofridas pelos seus semelhantes. Por tais motivos, “Úrsula” é considerada uma obra abolicionista e Maria Firmina dos Reis como a primeira romancista brasileira, assim como a percussora da literatura afro-brasileira.

Outra característica que chama a atenção no texto, essa parte da editora, foi a manutenção da grafia, visto o contexto em que foi publicado, a editora optou apenas por uma atualização das regras gramaticais, como sinaliza em uma nota antes do início do texto, aderindo ao Acordo Ortográfico de 1990, apenas para adaptar questões relacionadas à pontuação, concordância verbal e etc. O que isso quer dizer? Que o texto traz o vocabulário da época, com palavras e colocações que não são utilizadas comumente nos dias atuais. Cito como exemplo uma das falas de Fernando, tio de Úrsula, ao descobrir que Tancredo casou-se com a sua amada, que diz, “Roubaste-ma, e envileceste-a a meus olhos! Cuspiste-me a face, e nodoaste-a com teu amor impuro!... Poluíste-a com o teu hálito... Tancredo, esse ósculo trespassou-me o coração de ciúme”, (p. 194). Cabe salientar que ao manter essa linguagem, a editora assegura a autenticidade da obra, dando-lhe o respeito devido, levando em consideração a importância da obra para a literatura brasileira.

Finalizando, Com a publicação de “Úrsula”, Maria Firmina dos Reis faz história, e hoje é considerada por muitos estudiosos, a primeira romancista brasileira. Além do mais, a obra traz uma perspectiva interessante sobre os diversos temas que norteavam a sociedade maranhense da época, dentre os quais destacamos a crítica ao sistema patriarcal, as injustiças, principalmente as sofridas pelas mulheres e pelos negros. É interessante perceber também no enredo, a forma com que os personagens negros são tratados, como ganham voz e consciência, para citar as injustiças sofridas durante a vida. Enfim, essa é uma obra que traz em sua essência implicações mais profundas do que de fato aparenta. É um texto denso, ultrarromântico que pode nos soar antiquado para os dias atuais e que em sua linguagem rebuscada, nos apresenta um mundo longínquo, trazendo consigo um olhar crítico e ampliado sobre o passado, contribuindo de forma positiva para a formação da literatura aqui no Brasil.

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