Úrsula

Úrsula Maria Firmina dos Reis...




Resenhas - Úrsula


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Angela Regina 21/06/2020

Esse livro tem que ser obrigatório nas escolas!
Livro publicado em 1859 por Maria Firmina dos Reis, uma escritora e professora negra e nordestina. Este livro é o primeiro romance da literatura afro - brasileira. Ele está finalmente sendo mais reconhecido! Esta edição que li apresenta um importante contexto histórico sobre a autora, o tempo que viveu e escreveu e sobre os ecos desta obra importante! Apesar de possuir a escrita rebuscada da época vale a pena se dedicar a esta dramática e impactante história, que critica o sistema escravista
e o patriarcalismo do século XIX no Brasil.
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FocaRafa 18/06/2020

Obra maravilhosa
Surpreendente e maravilhoso, Ursula é uma descoberta literária que muda a história do que conhecemos como literatura nacional.
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Cris 16/07/2019

Surpreendente!
O estilo do livro é uma mescla da primeira e a segunda fase do Romantismo. Em termo de enredo me surpreendeu.
Tanto o livro como a história de Maria Firmina deveriam estar disponíveis em todas as bibliotecas brasileiras.
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THALES76 02/08/2019

Um amor genuíno.
Maria firmina dos Reis, até então para mim era uma autora desconhecida, portanto fico grato a Universidade (ufrgs, leitura obrigatória) por colocar-me em contato com esta obra.
Importante destacar que "Úrsula" é o primeiro romance da literatura afro-brasileira. Mesmo que trate-se de um romance de pessoas brancas, e que a autora é negra (descrevendo aspectos da escravidão com sublime detalhe) tem-se uma narrativa com a perspectiva interna quanto aos afro-brasileiros.
A historia gira em torno de Tancredo (mancebo) e Úrsula, que de acordo com as normas sociais de sua época não podem ficar juntos, mas como o amor é fortíssimo, tentam mesmo assim viver o seu genuíno amor, porém enfrentam alguns percalços no decorrer da história, como o tio de Úrsula, Fernando, que é um tirano insensível, e também pretende casar-se com ela.
Em termos gerais, tirando o desfecho (algo que gostei bastante), Úrsula pareceu-me um romance comum, onde duas pessoas tentam ficar juntas e que existe uma terceira (antagonista) que não permite que isto se concretize, então acaba se desenrolando tudo em torno desta dualidade.

***Livro da editora Pradense. Edição muito boa por sinal, pois manteve a grafia da época de sua publicação e portanto, sua autenticidade***.
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Lethycia Dias 03/09/2019

Reparação histórica
Quando encontrei o e-book Úrsula e outras obras, editado pela Câmara dos Deputados, não pensei duas vezes antes de baixar. A obra de Maria Firmina dos Reis foi ignorada por mais de 100 anos e era considerada rara, e só recentemente é que ganhou novas edições, começando a ser reconhecida pela sua importância.
Isto porque Maria Firmina foi a primeira escritora negra brasileira, em pleno período escravocrata, e escreveu a primeira obra abolicionista no Brasil - embora esse crédito seja dado a Castro Alves. Essa obra é o romance Úrsula, e eu não sabia nada sobre seu enredo até que o li.
A heroína que dá nome à história é filha de uma viúva chamada Luísa B e as duas vivem numa pequena propriedade empobrecida, abandonadas pelo irmão de Luísa, que cortou relações com ela assim que ela se casou com Paulo B, o pai de Úrsula já falecido. A garota recebe e hospeda em casa Tancredo, um jovem de origem nobre que é encontrado caído na estrada por um escravo. Úrsula cuida dele assim como de sua mãe, que está doente e à beira da morte. Os dois se apaixonam. Quando Tancredo parte para resolver problemas prometendo voltar para que os dois se casem, um visitante chega à propriedade, e a vida de Úrsula passa a correr perigo.
A história se orienta pelo movimento romântico do século XIX, com o característico amor à primeira vida, a intensidade das emoções e as ações heroicas e nobres dos personagens. Mas o que achei interessante em ler uma história escrita por uma mulher nessa escola literária foi ver, em contraponto ao mocinho, a presença assustadora de um homem que não aceita ser rejeitado (coisa que até hoje aterroriza mulheres não só nos livros, mas na vida real). O final é trágico.
O e-book ainda inclui dois contos: Gupeva e A Escrava. O primeiro é uma narrativa de temática indígena, também bastante romântica, e o segundo tem um forte tema abolicionista apesar de não ser uma história tão desenvolvida ou interessante como as outras duas. Em Úrsula, o abolicionismo se faz evidente em certo trecho quando uma escrava chamada Susana conta de forma chocante como foi sequestrada e trazida ao Brasil em um navio negreiro.
A última parte do livro inclui vários poemas, de temáticas românticas, religiosas ou nacionalistas, exaltando o Brasil em relação à Guerra do Paraguai. Alguns fazem homenagens a personalidades da época, incluindo o poeta Gonçalves Dias, autor da Canção do Exílio.
A edição da Câmara dos Deputados é bem completa, com textos de apoio e notas de rodapé, e o melhor é que nos permite conhecer várias produções de uma só vez. Apesar de ter feito uma leitura lenta, gostei muito de conhecer essa autora apagada da nossa História, sobre a qual só ouvi falar quando cheguei ao ensino superior. Recomendo muito a leitura como a correção de uma injustiça histórica.

site: https://www.instagram.com/p/B17Q93rj354/
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Bruna.Patti 15/09/2019

Úrsula
Resenha
Livro: Úrsula
Autora: Maria Firmina dos Reis
Ano da publicação: 1859

Vocês já ouviram falar de Maria Firmina dos Reis? Começo essa resenha com esse questionamento, visto que na minha época de escola nunca havia ouvido falar dessa incrível autora, mulher, negra, abolicionista. Ela é autora do primeiro livro escrito por uma mulher, Úrsula, com temática abolicionista. Pensem o que era naquela época uma mulher negra escrever um romance que trazia a história de negros e negras como pessoas, dotadas de características positivas, não animalizadas e além de tudo, questionando o sistema , patriarcal e escravocrata. Como diz a escritora Chimamanda Ngozi Adichie, é necessário que escutemos outras histórias. A história não é única.
Em sua superfície, o romance possui um enredo simples e folhetinesco: a heroína que dá nome à história, Úrsula, uma mulher branca e pobre, que vive com a mãe, uma senhora paralitica, se apaixona por Tancredo, um jovem bacharel , que corresponde seu amor. Porém, a jovem é objeto da paixão de seu tio, irmão de sua mãe Luisa B., um comendador cruel, que jura que sua sobrinha será sua esposa , custe o que custa. Luisa B. e a filha vivem desamparadas, numa sociedade que tratava as mulheres como meros objetos de apreciação masculina(algo mudou?). Porém, esse é o enredo da superfície.
Logo no começo do livro somos apresentados à Tulio, um jovem negro escravizado, cuja senhoria é a Luisa B. que salva Tancredo, pois esse havia caído de seu cavalo e ficado desacordado. Nessa parte, já ficamos conhecendo as virtudes de Tulio, jovem lindo, negro, escravizado, gentil, bondoso e grato. Ele é colocada em pé de igualdade com o homem branco , Tancredo , e ainda por cima salva sua vida. Tancredo, muito agradecido, devota-lhe amizade, que é correspondida, além de comprar sua carta de alforria.
Também ficamos conhecendo dois outros negros escravizados: mãe Susana e Antero. Um dos capítulos mais comoventes do romance é a narrativa de mãe Susana de como era sua vida no continente africano, com marido, filha e mãe e do dia mais triste de sua vida, a sua captura pelos europeus. Ela narra a liberdade que tinha em sua terra natal e que nunca possuiria no Brasil, mesmo que um dia fosse alforriada, pois sua vida ficara lá. Aqui Maria Firmina inova trazendo uma historicidade ao negro. Na maior parte das histórias da época, os negros são simplesmente escravos, anistóricos, animalizados, sem família nem passado. Aqui, Firmina traz a perspectiva da mulher negra escravizada, e seu passado. Ponto muito ousado do romance naquela época.
A estratégia da autora é louvável: com um enredo na superfície simples e atrativo, acabaria por atrair aquela parcela da população que lia folhetins: burgueses, além da estrutura típica dos romances românticos. Com isso, esperava traduzir os horrores da escravidão para essas pessoas dotadas de privilegio. Firmina ainda usa os valores cristão para rechaçar a escravidão, numa época em que a própria igreja utilizada a Bíblia para justificar o sistema escravocrata.
Os marginalizados em uma sociedade patriarcal e escravocrata, as mulheres e os negros, tem voz e vez nesse romance. Contam sua histórias, são dotadas de sentimentos, de passado, de perspectivas, existem para além de fazer figuração ao homem branco, representado pela figura do Comendador. A mensagem é clara: enquanto existisse o sistema escravocrata e patriarcal, a felicidade de mulheres, negros e marginalizados da sociedade não seria possível. Pergunto a vocês por que um romance dessa magnitude e importância não tem destaque maior nas escolas? Por que, apesar de passados alguns anos do fim da escravidão, vivemos ainda num país racista, que possui em suas instituições a legitimação para suas práticas. Um país que mata seus jovens negros pelas mãos do Estado, que segrega, que magoa, que marginaliza. É necessário que façamos um esforço de sempre perseguir outras histórias, contadas pelo outro, pela mulher, pelo negro, pelo indígena, ou seja, pelo oprimido, a fim de mudar essa homogeneização, pois somos e sempre seremos plurais. Recomendo a leitura.


LINK DO MEU BLOG:

site: https://abiologaqueamavalivros.blogspot.com/2019/09/ursula.html
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Isa Beneti 07/05/2020

Um romance clichê, mas com críticas inéditas
Impressionante como Maria Firmina dos Reis, apesar de ter ideias revolucionárias e abolicionistas (o que fica muito claro no seu romance), é uma mulher de seu tempo, pois "Úrsula" é um típico romance folhetinesco do romantismo, com personagens idealizados e planos (o vilão Comendador Fernando, o mocinho Tancredo e a mocinha Úrsula) e com diálogos/sentimentos exagerados.

É praticamente uma novela mexicana. Não que ele seja um romance ruim, muito pelo contrário, é intrigante e com um bom desfecho (inclusive, achei-o mais interessante que os romances de José de Alencar, talvez por ser mais simples de compreender), mas a história principal não é muito original.

O que torna essa narrativa única são seus personagens secundários: Túlio, Susana e Antero. Os três negros dão profundidade às críticas contra a escravidão, que são explicitamente realizadas pela autora, a primeira escritora negra brasileira. Aqui vale destacar a narração da velha Susana de seu sequestro e da vinda de sua terra natal para o Brasil num navio negreiro (muito tocante graças ao exagero de sentimentos e de descrições. Sim, muitas descrições sempre, com váaarias metáforas repetitivas)

Ademais, o livro possui o conto abolicionista "A escrava", também com uma protagonista branca, mas que descreve com detalhes a péssima condição de vida dos escravos do século XIX.

Outro conto é "Gupeva", típica história do romantismo brasileiro que idealiza os indígenas. Há uma influência muito forte de Gonçalves Dias na obra de Maria Firmina, o que se confirma na sua coletânea de poemas, com uma poesia inteira dedicada unicamente ao poeta.

Esses poemas também são "produtos de sua época", pois descrevem muito bem o contexto histórico em que foram escritos: a Guerra do Paraguai durante o segundo reinado. São vários os versos exaltando a nação brasileira e seus guerreiros (típico nacionalismo romântico). Além disso, na coletânea não faltam poesias líricas sentimentalistas, entre elas algumas muito pessimistas/depressivas (novamente a influência de G. Dias)
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Julia Dutra @abibliotecadebabel 18/04/2020

“Mesquinho e humilde livro é este que vos apresento, leitor. Sei que passará entre o indiferentismo glacial de uns e o riso mofador de outros, e ainda assim o dou a lume”.

É assim que Maria Firmina dos Reis, assinando como Uma Maranhense, inicia Úrsula. Desculpando-se por escrever e por publicar esse romance, a autora coloca-se em posição de inferioridade quando comparada a seus pares masculinos. 

Contra todas as expectativas, Maria Firmina, uma mulher, negra, maranhense e filha de ex-escrava, ousou escrever, publicar e fazer parte de um círculo literário restrito. Apesar disso, não errou quando previu o esquecimento de sua obra. Sua Úrsula, publicada em 1859, ficou alheia à história por mais de cem anos, sendo reencontrada somente em 1970, ao acaso.

A redescoberta trouxe ao público o que foi - provavelmente - o primeiro romance publicado por uma mulher no Brasil. O que mais se destaca, contudo, é o abolicionismo expresso na história. Embora os protagonistas sejam brancos e proprietários de terras e escravos, temos aqui dois personagens negros e escravizados, que merecem especial atenção: Túlio e Susana. 

Esse é um romance romântico em sua essência. A linguagem é extremamente carregada e padronizada para todos os interlocutores. Os sentimentos são intensos: a saudade leva a consequências físicas, o amor é à primeira vista e o ódio é mortal. O destino dos personagens, da mesma forma, segue os preceitos cristãos. Aqui o “mal” até pode prosperar por alguns momentos, mas o fim de quem o pratica não é dos melhores.

A importância histórica desse romance merece o destaque e as honrarias que lhe foram negadas por mais de um século. Na edição da Penguin Companhia - gratuita até o dia 21/04 -, contamos com um prefácio rico em informações e discussões sobre a vida e a obra de Maria Firmina. Recomendo a leitura e chamo a atenção para o papel do leitor em manter a obra de mulheres negras viva. 

Leia Maria Firmina dos Reis.

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Tinho Silva (@cafecomlivrossp) 09/04/2020

Úrsula - Maria Firmina dos Reis
“Úrsula” foi publicado em 1860, o romance em questão trata-se de uma história de amor trágico. Tancredo saindo de uma decepção amorosa e Úrsula que tem como único apoio na vida a sua mãe, Luiza B., paralitica e muito doente que se segura aos últimos suspiros de vida para não deixar a sua pobre filha desamparada. Úrsula e Tancredo se apaixonam após o rapaz sofrer um acidente que o deixa entre a vida e a morte, e assim eles protagonizam um amor impossível que tem como principal impedimento o tio da moça que após um longo afastamento das mulheres da família, ao ver Úrsula já crescida, se apaixona à primeira vista, ela por sua vez já está enamorada de Tancredo. Fernando, seu tio tenta de tudo para afastar o casal, inclusive se reaproxima da irmã a quem ele não via há muito tempo, ao não conseguir possuir o amor da sobrinha, resolve se vingar daquele que lhe roubou o amor. Combinado a essa história de amor trágico, temos também Túlio e mãe Susana, personagens negros e que possuem papel fundamental na narrativa, Maria Firmina dos Reis deu-lhes voz, permite que ambos reflitam sobre as suas vidas e as injustiças já sofridas, mãe Susana rememora sobre tudo que perdeu ao ser tirada da sua terra e Túlio que se vê obrigado a se separar da sua mãe por causa da escravidão. É uma trama envolvente e tem um final surpreendente e que nos mostra um pouco do estilo literário produzido em meados do século XIX.

A autora já apresenta no prólogo a sua condição social, “...Sei que pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira e de educação acanhada e sem o trato da conversação dos homens ilustrados...”(p. 47), mulher, brasileira vinda da pobreza, fatos esses que no seu entender, não devam influenciar na avaliação da sua escrita, embora ela compreenda e admita que seja ele um livro “mesquinho e humilde”. Com tais afirmações a Maria Firmina dos Reis nos aponta o contexto histórico e social em que a sua obra está sendo publicada, uma época onde escritores, principalmente os que tiveram uma educação considerada a ideal, tinham voz, e aqui ela reivindica o seu lugar, acreditando na força da sua obra.

Falando sobre a obra, à medida que a narrativa vai se desenrolando, percebemos mais nitidamente a construção ideológica de cada personagem. Tancredo é um jovem benevolente que está “fugindo” de um triângulo amoroso entre ele, Adelaide (até então sua noiva) e seu pai. Úrsula, coração igual em benevolência, vive reclusa da sociedade, cuidando da sua mãe doente. Após o acidente, ambos se apaixonam e esse amor cresce à medida que o jovem permanece na casa de Úrsula enquanto se recupera do acontecido. Ambos são personagens que não nos revela uma complexidade psicológica, afora os seus dramas pessoais. Nesse sentido, Maria Firmina dos Reis apela ao amor ultrarromântico para ligar os personagens afetuosamente “o que sinto por vós... é veneração, e à mulher que se venera, rende-se um culto de respeitosa adoração, ama-se sem desejos, e nesse amor não entra a satisfação dos sentidos” (p. 74), afirma Tancredo à Úrsula para justificar os seus sentimentos. Percebemos então, a idealização exagerada da mulher amada, colocando-a muitas vezes como algo inalcançável, inatingível ou algo para ser adorado, com isso fica evidenciado as características da produção literária que marca o período dessa publicação.

Todavia, o que de fato marca essa obra é a postura dos personagens negros no decorrer da obra, trazendo originalidade ao texto. Como exemplo podemos citar o contato inicial entre Túlio e Tancredo logo no primeiro capítulo. Nesse contato, temos o contraste entre os personagens branco e o negro. Túlio ao ver Tancredo caído, se compadece da sua dor e implora aos céus que salve aquele homem:

O homem que assim falava era um pobre rapaz, que ao muito parecia ter vinte e cinco anos, e que na fraca expressão da sua fisionomia deixava adivinhar toda a nobreza de um coração bem formado. O sangue africano refervia-lhes nas veias; o misero ligava-se à odiosa cadeia da escravidão;
Logo em seguida Túlio continua:

...Senhor Deus! Quando calará no peito do homem a tua sublime máxima – ama a teu próximo como a ti mesmo –, e deixará de oprimir com tão repreensível injustiça ao seu semelhante!... Àquele que também era livre no seu país... Àquele que é seu irmão?!. (p. 54).
Aqui percebemos a profundidade com que a autora tratou a questão racial no livro. O discurso antiescravista vai permear toda a sua obra.

Outra passagem que podemos destacar é a narração de mãe Susana acerca da sua vida na África de onde fora tirada, sendo obrigada a deixar para trás sua liberdade, sua terra, sua filha e o seu marido. Relatando também a viagem difícil que fizera até o Brasil nos navios negreiros, ela diz “É horrível lembrar que criaturas humanas tratem a seus semelhantes assim e que não lhes doa a consciência de levá-los à sepultura asfixiados e famintos” (p. 122), para depois afirmar “A dor da perda da pátria, dos entes caros, da liberdade foi sufocada nessa viagem pelo horror constante de tamanhas atrocidades” (p. 123). Por conta dessa consciência e denúncia da maneira como eram tratados os negros, a autora reafirma também a sua Negritude, indo de encontro às injustiças sofridas pelos seus semelhantes. Por tais motivos, “Úrsula” é considerada uma obra abolicionista e Maria Firmina dos Reis como a primeira romancista brasileira, assim como a percussora da literatura afro-brasileira.

Outra característica que chama a atenção no texto, essa parte da editora, foi a manutenção da grafia, visto o contexto em que foi publicado, a editora optou apenas por uma atualização das regras gramaticais, como sinaliza em uma nota antes do início do texto, aderindo ao Acordo Ortográfico de 1990, apenas para adaptar questões relacionadas à pontuação, concordância verbal e etc. O que isso quer dizer? Que o texto traz o vocabulário da época, com palavras e colocações que não são utilizadas comumente nos dias atuais. Cito como exemplo uma das falas de Fernando, tio de Úrsula, ao descobrir que Tancredo casou-se com a sua amada, que diz, “Roubaste-ma, e envileceste-a a meus olhos! Cuspiste-me a face, e nodoaste-a com teu amor impuro!... Poluíste-a com o teu hálito... Tancredo, esse ósculo trespassou-me o coração de ciúme”, (p. 194). Cabe salientar que ao manter essa linguagem, a editora assegura a autenticidade da obra, dando-lhe o respeito devido, levando em consideração a importância da obra para a literatura brasileira.

Finalizando, Com a publicação de “Úrsula”, Maria Firmina dos Reis faz história, e hoje é considerada por muitos estudiosos, a primeira romancista brasileira. Além do mais, a obra traz uma perspectiva interessante sobre os diversos temas que norteavam a sociedade maranhense da época, dentre os quais destacamos a crítica ao sistema patriarcal, as injustiças, principalmente as sofridas pelas mulheres e pelos negros. É interessante perceber também no enredo, a forma com que os personagens negros são tratados, como ganham voz e consciência, para citar as injustiças sofridas durante a vida. Enfim, essa é uma obra que traz em sua essência implicações mais profundas do que de fato aparenta. É um texto denso, ultrarromântico que pode nos soar antiquado para os dias atuais e que em sua linguagem rebuscada, nos apresenta um mundo longínquo, trazendo consigo um olhar crítico e ampliado sobre o passado, contribuindo de forma positiva para a formação da literatura aqui no Brasil.

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Ingrid.Rosa 01/04/2020

Seguindo o Desafio Literature-se de 2020, busquei para a primeira categoria de clássico pouco conhecido alguma obra que eu realmente não tivesse ouvido falar, e pra auxiliar minha pesquisa, procurei por escritoras brasileiras "esquecidas" nós dias atuais e encontrei Maria Firmina dos Reis (1822-1917) e sua Úrsula.
A autora, maranhense, negra e bastarda, é considerada a primeira romancista brasileira e abolicionista do período, sendo a primeira mulher a exercer um cargo público no estado do Maranhão.
Dito isso, a leitura de Úrsula (lançado em 1859) tem o reflexo daquela sociedade patriarcal e escravocrata, onde mulheres não tinham poder de escolha e os negros não tinham poder sobre suas próprias vidas.
A protagonista é a típica mocinha romântica, mas que pra viver seu grande amor precisa enfrentar grandes desafios. Mas os momentos que mais sensibilizam são aqueles onde os escravos, coadjuvantes na história, mostram um pouco de sua realidade: Tulio é um poço de bondade e um modelo de dedicação e amizade, vê na liberdade uma forma de recomeçar que não se apagou frente à dura realidade da escravidão; Suzana, uma escrava já de idade avançada, conta sua história desde a vida na África com a família até o tráfico desumano em um navio negreiro e a crueldade dos patrões. Ambos trazem a pespectiva da escravidão contadas em primeira pessoa, o que torna a obra mais impactante.
Foi uma leitura difícil até que me acostumasse com o ritmo e a forma da escrita praticada há mais de um século mas, passado esse estranhamento, li de uma vez só - tanto que emendei a leitura com o conto "A escrava" e "Gupeva" presentes no livro.
Úrsula me encantou e emocionou, e assim como a autora, repito o convite para sua leitura:
"Esta obra, digna de ser lida não só pela singeleza e elegância com que é escrita, como por ser a estreia de uma talentosa maranhense, merece toda a proteção pública para animar a sua modesta autora a fim de continuar a dar-nos provas de seu talento".
Maria Firmina dos Reis, sobre Úrsula. Jornal A Imprensa, 18/2/1860.
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JoAo.Belos 31/03/2020

É um bom livro. A inovação temática é a mais importante dentre todas as coisas que ela traz.
Os poemas são interessantes, ainda mais sobre as pessoas que voltaram da Guerra do Paraguai.
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null 26/03/2020

É um livro relevante pela força histórica. Primeiro romance abolicionista do Brasil. Denuncia a escravidão. Escrito por uma mulher Maranhense, filha de escrava alforriada. O romance é meloso, uma linguagem um pouco prolixa. Vale conhecer pela importância da obra. Gostei, mas não amei.
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