Lavinia 02/09/2022
o único jeito de corrigirmos nossos erros é tentando desfazer o mal que causamos
Este livro nos conta a história de Mukta, uma indiana descendente de gerações de devadasis, prostitutas do templo, mulheres que se casam com a deusa Yellamma, o que significa que, depois do ritual do iniciação, elas são obrigadas a dedicarem sua vida à prostituição para homens de sua aldeia. A história se passa no sul da Índia no período de 1986 a 2008, na sociedade de castas. Depois de algumas pesquisas, descobri que este ritual das devadasis fora proibido por lei em 1982, no entanto, ainda ocorrem muitos escondidos, principalmente nas partes mais pobres das cidades e em famílias que creem nesta tradição, além do tráfico infantil e sexual que colabora com a existência de bordéis que abusam de crianças e mulheres para fazer dinheiro, as tornando escravas. É uma ficção, mas, infelizmente, é a realidade de muitas.
A mãe de Mukta tenta ao máximo deixar a tradição longe da filha, no entanto, ela foi conduzida ao ritual aos 10 anos - muitas meninas são aos 8 anos, até mesmo 4 - e se vê presa a este destino cruel e sombrio. Mas, para a sua surpresa, um desconhecido a leva para longe de sua aldeia e permite que ela fique com sua família fazendo tarefas domésticas. Mukta cria um forte vínculo com a filha do homem, Tara, que tem quase a mesma idade que ela. Mukta e Tara vivem juntas durante 5 anos, até que acontecimentos causam a separação de Mukta da família de Tara e ela se encontra encarando novamente o seu destino de ser uma devadasi. Ao longo dos anos Tara vai para os EUA, mas logo volta à Índia e está determinada a encontrar sua amiga, o que ela não sabia era da origem de Mukta, nem ao que ela foi submetida durante esse tempo.
Esta leitura é muito fluida, narrada por Tara e Mukta, a escrita é maravilhosa, fiquei presa ao livro logo de inicio. É uma história muito triste e dolorosa, nunca tinha pensado que essa desumanidade era possível existir em todas as formas de violências ali explícitas, nunca tinha parado para refletir sobre estes possíveis cenários que, provavelmente são mais abundantes do que se imagina. Eu adorei o livro e recomendo muito a leitura, é bem escrito, te traz muitas lições inesquecíveis, a vida de Mukta significa nunca perder a esperança, agarrar-se ao amor e à vida, ter gratidão, perdoar, amar, ter perseverança e resiliência.
"Sabe, quando encontramos um verdadeiro amigo, uma alegria estranha de repente salta de dentro de nós - uma alegria que você não conseguira encontrar sozinho até então, uma alegria que você espera carregar consigo quando seguir adiante."
"Dizem que o tempo cura tudo. Não acho que seja verdade. À medida que os anos passaram, comecei a achar estranho como coisas simples ainda podem nos fazer lembrar de tempos terríveis ou como o momento que nos esforçamos tanto para esquecer se torna nossa lembrança mais nítida."
"A mágica está nas palavras, minha menina querida. Quando você dobra os pensamentos de alguém com palavras que tocam a alma, isso se chama inspiração."
e para finalizar...
"Acho que nossa vida é como o céu. - Amma suspirou, ainda olhando para cima. - Às vezes, Mukta, quando você olhar para o céu ele vai estar escuro. Você não vai saber em quem confiar. Vai se perguntar se alguma pessoa conseguirá tirar você da escuridão. Mas, acredite em mim, algum dia o nosso céu vai brilhar de novo. E vai ter a aparência e o cheiro de esperança. Não quero que se esqueça disso. Quero que tenha esperança, não desista."
+18: inúmeros gatilhos como abandono parental, aborto forçado, classicismo, estupro, suicídio, depressão, prostituição, violência, violência contra a mulher, tortura