Ana Alice | @soprodepaz_aa 11/01/2023Uma das leituras mais estranhas que já fiz"Enxerguei um mundo novo chegando muito rápido. Mais científico, mais eficiente, é verdade. Mas um mundo duro, um mundo cruel. E vi uma menina novinha, de olhos bem fechados, segurando no colo o mundo antigo e bom de antes, o mundo que ela sabia, lá no fundo, que não poderia continuar existindo, e ela segurando esse mundo no colo e pedindo pra ele não deixá-la partir."
Comecei esse livro pra usar como base na redação do vestibular da UERJ. Acho que, se eu não tivesse essa motivação, não teria continuado a leitura. Assim que percebi sobre o quê se tratava, fiquei negativamente impressionada. É uma resenha difícil de escrever porque foi um livro difícil de ler e entender.
Em um mundo cientificamente avançado, concretizou-se a ideia de clonar pessoas para que essas cópias humanas siervissem de banco vivo de órgãos a serem doados para o mundo. A história da existência dos doadores é contada sob o ponto de vista da Kath, um dos clones. Através de lembranças da infância, adolescência e início da vida adulta, o leitor passa a conhecer as pessoas-clones que protagonizam o livro. Principalmente, Kath, Tommy e Ruth - alunos de Hailsham (um dos internatos para futuros doadores).
Desde que foram trazidos ao mundo, os alunos dos internatos especializados em cuidar dos próximos doadores sabem seu propósito. Eles precisariam ter uma vida saudável para que pudessem doar o máximo de seus órgãos em vida até "concluir"(morrer). Embora esse destino tenha me assustado, o assunto é tratado pelas crianças e adolescente como algo natural - já que elas só convivem com quem tem o mesmo caminho traçado. No final da adolescência, esses alunos saem do internato, passam um tempo cuidando de clones já em processo de doação para só depois começaram a doar. Nesse momento, há uma interação maior com o mundo externo e as pessoas que não são clones.
A partir daí, questionamentos sobre existência, propósito e humanidade são intensificados nos personagens principais. Assim como Kath, vamos relacionando gradualmente as lembranças que ela traz nos primeiros capítulos com as descobertas que são feitas nos últimos. Se no início eu estranhei os indivíduos dessa obra, no final, me vi reflexiva e apegada a eles. Não sou a maior fã dos diálogos entre aspas, mas - sabendo que todos os capítulos são recheados de memórias - fez sentido. Pela quantidade de acontecimentos e informações que precisam estar ativas na mente para que a história faça sentido, achei a leitura difícil e cansativa. Também pelo meu objetivo, precisei estar mais atenta a cada detalhe.
Além disso, algo que me agradou foi passar páginas e páginas tentando entender o porquê do título e - finalmente - descobrir. Essa explicação agrega muito à história de forma que integra o título à experiência de leitura em si. Por se tratarem constantemente de fatos passados, a narrativa tem um tom nostálgico e melancólico que eu gostei. Pode ser levado em consideração que a obra não foi vencedora de um prêmio Nobel de Literatura à toa.
Indico a leitura principalmente aos vestibulandos da UERJ, por ter bastante repertório útil pra redação. E indico também a quem queira uma reflexão sobre a vida com um tom tecnológico não tão distante da realidade.