Helaina 27/05/2023
"Às vezes, no entanto, não há outra escolha senão a errada." - Pág.11
Com o hype em torno do nome da autora, e acompanhada pela minha mãe, quando fui à livraria acabei comprando três livros da CJ Tudor sem nem mesmo saber se iria gostar da escrita. Li e gostei de ‘O Homem de Giz’ e agora me aventurei nessa segunda história que promete um mistério tão bom quanto o do outro livro.
Joe Thorne é o personagem principal dessa narrativa em primeira pessoa, então acompanhamos tudo pela perspectiva dele. Ele consegue uma vaga de professor em sua antiga escola, Instituto Arnhill, enquanto tenta descobrir o que pode ter acontecido com sua irmã, Anne, e se esconde de pessoas que querem cobrar dele suas dívidas de jogo. Uma perseguição nada amigável e bastante violenta. Esse também é o clima de da recepção a ele na cidade. A tensão já começa alta e não demora a partir para a agressão.
"Entendo a mensagem: Arnhill é um vilarejo impiedoso onde aconteceram muitas coisas ruins." Pág.128
Os demais personagens presentes são os alunos e funcionários da escola e os habitantes do vilarejo, mas, como acompanhamos o protagonista, estes só recebem mais atenção quando tem alguma ligação relevante com o mesmo.
No início do livro temos um prólogo narrado em 3ª pessoa com dois policiais chegando a uma cena de crime. Os mortos são uma professora do vilarejo e seu filho e é nesse local que Joe procura abrigo em sua temporada na cidade, depois que foi limpo, claro. E o detalhe foi omitido pela agência que alugou o imóvel, óbvio. Mas temos internet, e Joe usa esse fato para conseguir um desconto, já que dinheiro não é algo que ele possui.
"Como se a capacidade de comprar uma moradia grande ou o meio de enfrentar um engarrafamento gastando o máximo de combustível possível fosse o auge da realização de nossos escassos anos nesse planeta. Apesar de todos os avanços, ainda avaliamos as pessoas por tijolo, tecido e potência." Pág. 238
A trama acompanha o presente e em alguns momentos o passado, sempre pela perspectiva do protagonista, e nessas lembranças somos apresentados ao que aconteceu com Annie. O mistério da história fica por conta de uma atmosfera sobrenatural em torno do sumiço da garota e seu reaparecimento inexplicável. Não era para ter acontecido e Joe sabia o motivo. Além disso, o culpado pelo crime nunca foi condenado.
Mais uma vez, é assim também em O homem de Giz, o bullying é uma temática muito explorada aqui. Apesar de der presenciado e vivido essa situação na época de escola, nada que eu lembre foi tão violento quanto o que CJ Tudor descreve em seus livros. Inclusive, ouvi alguém dizer certa vez que violência física não é bullying, é crime, e por isso passei a leitura toda revoltada com a escola distribuindo suspensão e “passando pano” para os agressores. No caso dessa história havia um motivo nada ético por trás disso.
"Ele me encara com ar desafiador. E tem razão. Valentões não respeitam quem revida. Apenas batem com mais força. Porque estão sempre em um grupo maior. Uma simples equação numérica." Pág. 98
Eu gostei da leitura. Foi um mistério que me segurou até as últimas páginas e mesmo lá no final ainda há revelações importantes sendo feitas. A narrativa flui rápida e com essa alternância entre passado e presente, apenas em alguns capítulos, às vezes eu lia uma parte já querendo ler a outra para saber o desfecho do evento. Recomendo para quem gosta de leituras desse tipo.
Quem é sensível a cenas de violência ou bullying é bom se preparar antes de ler. A título de comparação, o primeiro livro que li da autora me chocou mais, mas não consigo dizer se há mais ou menos dessas cenas aqui ou se o fato de eu já conhecer a escrita dela tenha me preparado. Quanto ao aspecto sobrenatural, não é muito explorado, inclusive isso me decepcionou um pouco. A trama me fez lembrar muito o filme Cemitério Maldito, baseado no livro de Stephen King. Outro tema sensível presente aqui é o suicídio, não chegou a me impressionar, mas sei que algumas pessoas preferem evitar esse tipo de leitura.
"É engraçado como as crianças conseguem ser criativas quando cruéis." Pág. 30
site: https://hipercriativa.blogspot.com/2023/04/resenha-o-que-aconteceu-com-annie.html