spoiler visualizarEduardo Vieira 18/09/2023
Míseras 600 páginas são melhores que nenhuma
O livro responsável pela adaptação do spin-off de Game of Thrones nas telinhas emociona e decepciona com encantos e lamentos.
Já reclamei algumas vezes nas minhas pequenas notas de leitura, mas cabe a mim, sendo o reclamão que sou, reclamar mais uma vez: é uma afronta, da parte do autor, tentar resumir os quase 300 anos da dinastia Targaryen em menos de 600 páginas. Algo tão grandioso merecia, no mínimo, uma trilogia. Mas entendo a impossibilidade disso acontecer, visto que nem mesmo a os últimos livros da saga principal, As Crônicas de Gelo e Fogo, estão concluídos. Então tudo bem, uma trilogia é melhor que 600 páginas, mas 60 páginas é melhor que nenhuma.
Não obstante, mesmo o livro resumindo esses três séculos em tão poucas páginas eu não diria que há muito do que se reclamar com relação a fluidez da leitura. Na verdade o texto é bem cativante (na maior parte das vezes) e apesar de demasiado corrido consegue prender a atenção do leitor. Eu diria até que esse livro poderia ser muito bem dividido em três partes, sendo:
1 - a história antes da dança dos dragões: Essa primeira parte do início do livro até o fim do reinado do Rei Viserys I nos mostra a ascensão da casa Targaryen e seus inúmeros conflitos antes do início do seu declínio.
2 - A dança dos dragões: marca o início do declínio da dinastia Targaryen, com os confrontos mais marcantes da história da casa, confrontos que levaram à morte de personagens (e dragões) muitíssimo importantes. Sobre a série House of the Dragon, ela começa a ser adaptada a partir do reinado de Viserys, mas neste momento da história da família Targaryen que realmente importa para o presente e futuro da série.
3 - o pós dança: o texto mostra uma casa já fragilizada com a guerra que custou a morte de quase todos os dragões de Westeros, o maior símbolo do poder dos targaryens. Deste ponto em diante a história anda mais devagar, ficando muito mais na política dos 7 reinos após a Dança dos Dragões do que na fantasia medieval; e existem motivos para isso, afinal Westeros agora é um continente muito fragilizado pelos pós-guerra, governado por um rei na menoridade, uma marionete mas mãos de leões, veados, cavalos marinhos, lobos, rosas e tantos outros senhores ambiciosos jogando o jogo dos tronos.
Em meio a essa fragmentação o livro tenta passar o máximo possível de informações do que foi e representou a casa Targaryen desde o momento de sua partida de Valíria até o início da perda da sua hegemonia como, muito possivelmente, a casa mais poderosa a governar os 7 reinos.
Com as quase 600 páginas mais emocionantes que já na minha vida, eu diria que esse é um livro de tirar o fôlego. Ainda lamento que uma história tão rica tenha sido comprimida em tão poucas páginas. Objeto que tornou incapaz o aprofundamento de inúmeros personagens que nasciam em uma página apenas para morrerem na página seguinte por que a história precisava avançar. Espero que com o autor (George R R Martin) envolvido na produção da série da HBO a série tenha a possibilidade de aprofundar onde o livro foi incapaz (como eu já percebi que aconteceu em alguns momentos da primeira temporada) e; feito as minhas lamentações, devo finalizar alegando que apesar de tudo o autor consegue entregar uma história brilhante, fluída e bem fechadinha, sem pontas soltas e gostinho de quero muito mais.