Andressa 14/12/2021
Da série de livros encalhados, mas surpreendentes
Baby Jane Hudson foi um fenômeno do teatro vaudevile, famosa pelo talento em cantar, dançar e atuar, a jovem estrela era a responsável por lotar muitos espetáculos se apresentando como a "Pequena Dançarina Sapeca de Duluth". Mimada por um pai orgulhoso e feita provedora da família muito nova, a mãe e a irmã Blanche tornaram-se apenas adereços perto de sua luz, invisíveis e sem voz diante de seus caprichos. Infelizmente, a sua carreira artística não foi a mesma ao crescer e o brilho, antes inegável, de repente, se apagou. Com a ascensão da irmã, Jane se torna a coadjuvante da própria vida e de sua carreira, pois além de dever a Blanche todos os trabalhos posteriores em Hollywood, agora tem de conviver com milhares de pessoas embevecidas não com ela, mas com a beleza, o talento e a elegância da irmã. Perdida em várias doses de whisky e rancor, Jane e Blanche sofrem um acidente que deixa Blanche paraplégica no auge do estrelato e unicamente aos cuidados de Jane.
Pouco sinistro?
A narrativa da história é construída na terceira pessoa e intercala as vozes entre seis personagens, entre eles as irmãs Hudson, além dos demais que se apresentam no decorrer da história. A escrita de Henry Farrell é densa, detalhista em alguns aspectos, exprime muito bem o cenário de perigo, o suspense nas entrelinhas, a fragilidade de Jane e de Blanche e também da relação extremamente delicada das duas.
Chega a ser divertido acompanhar o que virá a seguir, o que cada uma vai aprontar e até escolher um lado na rixa das Hudson. Comecei o livro amando uma, e no final, entendendo melhor o panorama todo, foi inevitável não amar e enxergar o lado da outra irmã, pois a culpa nunca foi só de uma delas, mas das duas.
Um ponto negativo dessa escrita densa do autor, é que também cansava de vez em quando e interrompia a fluidez do enredo por vários momentos. Mesmo se tratando de uma história relativamente curta, esse fator e a prolixidade de Farrell ajudavam a atravancar a continuidade da história. Por exemplo, tem uma narração de três páginas pra fazer a entrega de um bilhete. Mas, no mais, tem um enredo impactante, cheio de mistério e reviravoltas.
O primeiro livro do autor publicado no Brasil, retornou às livrarias de cara nova pelo selo da Darkside, com um design rosa, capa almofadada, corte preto, imagens icônicas do filme, fitilho e tudo. Apesar da história principal ser da Baby Jane, a editora entrega aos leitores de Farrell (os familiarizados e os de primeira viagem) uma edição especial com uma bela introdução sobre a vida do autor, a construção de Baby Jane e os segredos da produção de cinema protagonizada por Joan Crawford e Bette Davis. Além disso, quase no fim do livro, há três contos de presente: "O que terá acontecido a prima Charlotte", "A estreia de Larry Richards" e "Primeiro, o ovo", obras que nos ajudam a conhecer mais da escrita dele.
Para os fãs de terror e horror, indico a leitura de "O que terá acontecido a Baby Jane?" de olhos fechados, bastante segura de que deve agradar demais, tanto pelo enredo quanto pelo apelo clássico gótico e sua edição especial. Apenas dê uma chance e tire as suas próprias conclusões.