P3te3rr 05/04/2024
Apenas um dia ruim...
O que será que aconteceu no passado do Coringa para deixá-lo tão insano quanto ele é hoje? Ele nasceu assim? Seus pais eram abusivos? O amor de sua vida foi violado? A verdade é que ninguém sabe...
Alan Moore, um dos maiores gênios das HQs na época, faz um trabalho excepcional em "Batman: A Piada Mortal", considerada por muitos a melhor história do palhaço de Gotham (eu também considero). Com menos de 50 páginas, Moore escreve um roteiro cheio de mistérios, revelações, impactos e, principalmente, metáforas.
A HQ, originalmente, não se ligaria ao universo do homem-morcego, mas os fãs do Batman gostaram tanto desta obra que a DC Comics decidiu trazer os impactos presentes aqui para o universo principal. É uma história pesada, contada de forma intensa, o que representa bastante a loucura na cabeça do Coringa. Sabemos que o roteiro original tinha algumas coisas mais pesadas, mas decidiram amenizar um pouco.
Voltando para a questão inicial: O que deixou o Coringa assim?
Moore busca dar uma de várias respostas sobre a origem desse personagem (não necessariamente a verdadeira, mas uma da qual, entre várias outras, o próprio Coringa conta). Tudo começa com dificuldades financeiras, resultado em complicações familiares. Ele estava prestes a ter um bebê, mas como sustentaria seu próprio filho??
Desesperado e sem oportunidades, o Joe (Coringa) busca ganhar sua vida em um único crime, teoricamente perfeito, que irá mudar para sempre a sua vida. Porém, como dito em um conto presente mais para frente nessa edição, "o crime não compensa". Um dia. Apenas um único dia. Joe vê tudo indo por água abaixo. Ele perde TUDO e TODOS e, sem forças para continuar, enlouquece.
E aí entra o fascínio da história entre o Batman e o Coringa. Dois loucos que tiveram apenas um único dia ruim. Dia esse que mudou completamente a vida de ambos. Porém, enquanto um é insano e mau, o outro também é insano, mas obtêm o controle da situação.
Então o Coringa decide fazer talvez a sua última piada, "A Piada Mortal". Ele quer mostrar que até mesmo o homem mais são pode ir a loucura em um único dia.
E agora entra todas as metáforas do quadrinho.
Ao que dá a entender, o Coringa está tentando enlouquecer o Jim Gordon, mas na verdade, tudo isso é para quebrar o próprio Batman, fazê-lo perder o controle e enlouquecer de vez. Tudo isso é para mostrar a ele que essa luta infinita vai ter que chegar ao fim e, no fundo, é o que o Coringa quer.
Ao final da HQ, Moore deixa em aberto se essa luta chegou ao fim ou não. Na minha concepção, obviamente ela continuou. E talvez essa seja a concepção mais correta.
Analisando a HQ, é possível observar que o primeiro quadrinho e o último quadrinho são praticamente idênticos, o que dá um noção de looping. O ciclo de loucura em Gotham City continua.
Por último, "A Piada Mortal". Uma história sobre dois loucos que fogem de um hospício. Um pula para o outro prédio e o outro tem medo. O que pulou diz que vai ajudá-lo. O que não pulou recusa essa ajuda, pois por que ele iria querer ser ajudado por um louco?
Trazendo para a história, o Coringa é o louco que não conseguiu se manter no caminho, não conseguiu fugir, e o Batman é quem tenta ajudá-lo a sair de lá, sem sucesso.
Cada vez que leio essa HQ, tenho uma nova concepção. Cada um dos mistérios daqui são intrigantes e bem filosóficos e eu tenho imenso prazer de tentar entendê-los.
Claro, Alan Moore não foi o único responsável na história. Na verdade, outra pessoa é tão importante quanto, se não mais, do que ele: Brian Bolland. Bolland usa muitas inspirações para criar os desenhos dessa HQ, os quais são fantásticos e sombrios, tornando a história muito mais pesada e angustiante. Ele também é responsável pelas cores, se utilizando de uma teoria das cores bem rica, enfatizando vários elementos de seus desenhos.
Ok, me empolguei de novo e acabei falando muito kkkkk, foi mal.
"Só é preciso um dia ruim pra reduzir o mais são dos homens a um lunático. É essa a distância que me separa do mundo. Apenas um dia ruim."