Coisas de Mineira 27/03/2020
A Padaria dos Finais Felizes é um livro escrito por Jenny Colgan e pertencente à coleção Romances de Hoje, da Editora Arqueiro. (Já falamos de um livro dessa coleção aqui!) A coleção busca apresentar mulheres lidando com problemas cotidianos e buscando conquistar o seu espaço enquanto encontram seu próprio caminho. Publicado em 2019, o livro conta a história de Polly a partir do ponto em que a empresa que ela construiu com o marido decreta falência. Ao mesmo tempo, seu casamento também parece estar indo pelo mesmo caminho.
Assim, falida, sem emprego e sem perspectiva, Polly precisa encontrar um novo lugar para morar, encontrar um trabalho e tentar reconstruir a sua vida. O que, parando para pensar, não é a mais fácil das tarefas, não é mesmo? Mas, ao contrário de Evie (protagonista de O Café da Praia, livro anterior da coleção que resenhei), Polly é dona de uma personalidade muito otimista. Seu alto astral é contagiante e ela é muito positiva, muito perseverante, gentil e amigável. E talvez seja esse o porquê de o livro ser tão amorzinho!
Decidida a se restabelecer sozinha, ela acaba alugando um pequeno apartamento na ilha de Mount Polbearne que, apesar de estar praticamente arruinado, ainda é a sua melhor opção frente aos apartamentos minúsculos e imundos que ela teria que dividir com outras pessoas. A localização, apesar de fictícia, é fácil de ser visualizada: basta fazer uma pequena busca por St. Michales Mount no Google e podemos perceber que a autora, com toda a certeza, se baseou na cidade para escrever o livro.
“De repente, Polly sentiu algo. Conforme tacava, empurrava e sovava a massa, era como se a energia ruim estivesse deixando seu corpo.”
Inegavelmente, a ambientação do livro é muito bem feita, além de muito bem trabalhada. Apesar de ser fácil de imaginar e de se encantar, acredito que a ilha poderia ter sido melhor explorada, saindo um pouco do eixo porto-continente-ponte. Levando-se em conta a história, é compreensível. Afinal, Polly é um pouco solitária e tende a se isolar. O inverno também ajuda um pouco nessa parte. Mas ainda acho que poderíamos ter conhecido melhor Mount Polbearne, suas praias e particularidades. Aliás, preciso dizer: a orelha do livro físico tem um pequeno (grande?) spoiler que eu diria que é melhor evitar.
Apesar disso, ela é recebida por um grupo de pescadores que a ajudam a levar suas coisas para dentro do novo apartamento e eles são os principais contatos humanos de Polly no começo de sua nova jornada. O capitão do barco, Tarnie, é super amigável com Polly, além de ser uma gracinha com ela sempre. E é através desse contato com os pescadores que ela começa a conhecer melhor o lugar onde está vivendo, descobrindo histórias, hábitos e curiosidades. Além disso, todos eles são muito fofos, especialmente o Jayden. Todos eles tratam Polly com muito carinho e se mostram abertos a uma amizade desde o princípio.
O que pode ser um pouco complicado é o restante da cidade, especialmente a proprietária da padaria local, Gillian Manse. Muitas vezes, eles são resistentes à presença de uma pessoa de fora, que não cresceu em Mount Polbearne. Um ponto ressaltado no livro é a gentrificação de espaços; mesmo sem intenção, Polly acaba causando um pouco desse processo na Ilha. Infelizmente, acredito que a autora acabou criando a ilusão de que a gentrificação, de certa forma, é um grande auxílio para a cidade.
“De repente, ali, na pequena padaria à beira-mar, começou a sentir que nada era impossível. No fundo do coração.”
Mas Polly consegue driblar esses desafios com certa tranquilidade e um pouco de esforço. Com toda a certeza, porém, ela não é a única personagem cativante. Alô, Tarnie, Jayden, Huckle, Kerensa e Gillian, estou falando com vocês! Todos os personagens são bem escritos, apesar de pouco aprofundados. E, apesar de terem grandes defeitos, também têm características redentoras que os tornam adoráveis. Somados ao cenário lindíssimo, são a combinação certeira para criar um livro impossível de se largar.
Arrisco dizer, até, que é um ótimo livro para se curar aquela ressaca depois de acabar uma leitura. É ótimo também para aproveitar um dia chuvoso, sentar pertinho da janela, pegar um cobertor fofinho e alguns petiscos e passar horas e mais horas lendo. Afinal, o que não falta nesse livro é vontade de experimentar os deliciosos pães que Polly sabe fazer. Felizmente, todas as receitas estão no final do livro, então, é só comprar os ingredientes e reviver um pouquinho da história enquanto os prepara!
“Viva o agora. Não tente tirar foto, não tente capturar o momento e congelá-lo para sempre.”
No geral, posso dizer que o A Padaria dos Finais Felizes é uma ótima leitura. Leve, emocionante, divertido e até mesmo um pouco dramático, é uma história essencialmente sobre recomeços. Sobre encontrar seu próprio espaço, seu próprio caminho. Sobre a força interna que existe em uma mulher. E, acima de tudo, sobre o quanto temos medo de mudanças mas, no fim, sobre as infinitas possibilidades que temos sempre à nossa frente. Existem, todavia, percalços no caminho de Polly. A própria senhora Manse por vezes parece decidida a se opor a Polly, de todas as formas possíveis.
Portanto, Polly precisa lidar com tragédias, com o coração partido novamente, com a solidão, com as dificuldades de uma nova vida. A mensagem de A Padaria dos Finais Felizes é emocionante. Seu desenrolar é emocionante, simples e carregado de amor. Apesar de trazer uma história um pouco previsível, é um livro que nos traz aquele quentinho no coração e nos faz celebrar a vida, os começos e os fins. É um livro que nos toca e nos faz sentir junto com a personagem principal. E cada segundo de leitura vale a pena!
“Quando você planta seu coração em um cantinho, esse lugar sempre te acompanha.”
Por: Victoria Rigotti
Site: www.coisasdemineira.com/a-padaria-dos-finais-felizes-jenny-colgan-resenha/