Eddy 15/08/2010
Feliz Ano Velho
São 12:56 am. Tem mais ou menos quinze minutos que eu terminei de ler “Feliz Ano Velho”, do Marcelo Rubens Paiva. Não levem muito à sério esses quinze minutos. Não sei informar com precisão. Estou chutando. Pois quando terminei de ler o romance, fiquei parado, olhando para a capa, folheando as páginas durante alguns minutos. E sorri. Constatando que este foi um dos melhores presentes que eu ganhei na vida. Ganhei o livro da minha amiga Vanessa (@Nessa Santa Catarina), num gesto inesperado, coisa de meio da semana, sem muito por quê, nem meu aniversário era. E eu gosto de receber presentes assim. Gosto de dar presentes assim. Ainda mais quando estes presentes são livros.
Marcelo Rubens Paiva sempre foi uma grande incógnita para mim. Sabia quem era, conhecia superficialmente sua literatura – muito mais de ouvir falar – nunca tinha efetivamente lido algo dele. O próprio “Feliz Ano Velho” cheguei a baixar há coisa de uns dois anos atrás, mas não passei da página 35. Não por achar o livro um porre. Muito pelo contrário. Só não tenho paciência para ficar lendo diante de uma tela de computador. Me irrita, a cabeça dói, os olhos pesam... sou um velhinho. Enfim, finalmente pude ter o livro em minhas mãos. Ganhei na quarta à noite, saindo da faculdade. Cheguei em casa, e numa tacada só devorei 135 páginas. O romance é lindo. E quando digo lindo é na acepção da palavra. Do jeitinho que eu gosto. Narrativa simples, direta, abusando dos coloquialismos (isso confere uma veracidade incrível à história, pelo menos pra mim, enquanto leitor), humor, enfim... Uma delícia!
Marcelo é inteligente. Já começa o romance “começando”, sem muito por favor. O livro abre no momento em que ele mergulha num lago de meio metro de fundura a la Tio Patinhas. Mergulho que muda a sua vida por completo. Daí em diante, enquanto ficamos conhecendo a rotina do novo “tetra” (porque tetraplégico é uma palavra horrível... e é mesmo!!!), dividido entre hospitais, exercícios, sondas no pinto, reabilitação... também ficamos conhecendo o Marcelo de antes do acidente. Músico talentoso, apaixonado pela vida, pelas mulheres, pelos amigos. Um jovem comum, normal. Como eu. Como você que está lendo esse texto agora.
“Feliz Ano Velho” não quer ser um livro didático, uma enciclopédia Barsa. Não quer te dar uma lição de moral. Quer apenas contar uma história, uma experiência, da maneira mais simples possível, um papo entre amigos. E sem querer, acaba te dando um enorme soco no estômago. É um choque de verdade. Um tapa na cara. Te faz refletir. A vida de Marcelo deu uma cambalhota de um momento pro outro, por causa de um mergulho besta. Isso pode acontecer com todo mundo. Eu me pus no lugar dele. Fiquei com medo. Olhei para dentro de mim e percebi que devo me corrigir em inúmeros aspectos. Sou muito depressivo, ás vezes. Me irrito com facilidade. Devo rir mais. Curtir mais. Beber mais. Beijar mais. Afinal de contas, nunca se sabe o dia de amanhã.
Enfim, não estou querendo dar lição de moral em ninguém. Sei muito pouco da vida para isso. Só estou dizendo que devemos nos preocupar menos com bobagens, besteiras do dia-a-dia, e curtir o momento. Viver. Viver intensamente. Um cinema com os amigos. Uma festinha. Um porre. Uma transa. Viver, saca? Viver. É isso que “Feliz Ano Velho” deixa pra gente: Viva. Viva o hoje. O agora. O amanhã, a gente vê outro dia, depois. Agora é que é importante. Portanto, sai desse quarto, bicho! Desliga esse computador. Bota a cara na rua. Olha para o céu. O sol. Vive. Vive!
Eddy Fernandes
Manaus, 15 de agosto de 2010