isa 05/07/2021
romance sáfico+ filosofia + questões religiosas = obra-prima
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A premissa do livro promete uma história que carrega as marcas de um conto de fadas sombrio e distorcido que reúne a mitologia persa em uma inclinação antiheróica original, um mundo onde a verdade de quem está certo ou errado é tão minuciosa que se torna quase intocável, mas crível. Verossímil.
Esse não é um livro sobre um herói, uma princesa e um monstro.
É a história de uma princesa que se torna um monstro e a de um monstro que se torna uma princesa.
Todos os nossos paradigmas são quebrados durante essa leitura. Certo e errado se tornam difíceis de distinguir, abstratos, criando um ciclo vicioso entre heróis e vilões. Todos esses estereótipos se misturam em todos os personagens, expondo as nuances entre bondade e maldade. Não há uma dicotomia. Não há ruptura.
A cultura persa aqui é retratada com muito carinho e cuidado, não há um olhar etnocêntrico da autora, pelo contrário. É essencial termos esse respeito em mente, pois infelizmente há essa tendência de estigmatizar tudo aquilo que não vem do Ocidente.
Muito influenciada pela antiga religião persa fundada por Zoroastro, encontramos a discussão presente - implicitamente - nesse livro banhada pelo dualismo ético, cósmico e teogônico que implica a luta primordial entre dois deuses, representantes do bem e do mal (Creator vs. Destroyer), presentes e atuantes em todos os elementos e esferas do universo, incluindo o âmbito da subjetividade e das relações humanas.
Não é um livro pra ler e esquecer semana que vem, ele te marca com verdades difíceis e cruas sobre a realidade do humanismo.
O romance tem muitos prenúncios: muitas vezes parece um bomba relógio prestes a explodir, tudo que eu queria era avançar mais e mais pra ver isso se desenvolver. E foi lindo.
Soraya é uma protagonista interessante. Tudo gira em torno de suas escolhas; e o que ela se permitiria se tornar.
A garota indefesa, trancada e murchando nas sombras da vida? A serpente quiescente, ignorando o poder enrolado dentro dela?Ou a garota feita de espinhos tão longos quanto lanças e tão afiados quanto um aguilhão de fogo?
À medida que a história avança Soraya é forçada a lidar com seu código moral, o desejo de Soraya de ser justa, apesar dos desejos contraditórios do coração.
A autora também articula as maneiras pelas quais humanizar e desumanizar aqueles que amamos podem ser o outro lado da mesma moeda.
Todo meu amor fica dirigido à Soraya e Parvaneh que, em meio ao caos turbulento, se olharam e se encontraram. Viram uma à outra, como se olhassem um espelho. E não houve julgamento.